“Economics” e Ética científica

A ciência econômica corriqueira, aquela que é ensinada nos cursos de Economia na maior parte do mundo e de modo predominante, tem orgulho de se apresentar como ciência positiva. Eis que ela se esmera não apenas em apreender as relações externas entre os fenômenos econômicos, mas também em ser capaz de fazer previsões sobre o comportamento futuro das variáveis econômicas. Um campeão nessa área, Milton Friedman, escreveu em A metodologia da ciência positiva (1957):

“A Economia Positiva é, em princípio, independente de qualquer posição ética ou quaisquer juízos normativos. Se refere ao “o que é” e não ao que “deveria ser”. A sua tarefa consiste em fornecer um sistema de generalizações que possa fornecer previsões corretas acerca das consequências de qualquer mudança das circunstâncias. O seu funcionamento deve ser julgado por sua precisão, alcance e conformidade das predições que fornece com a experiência.”

Para instrumentar esse tipo de teorização, os economistas ditos do “mainstream” desenvolveram a Econometria, ou seja, um campo especializado no aprendizado de técnicas estatísticas simples ou sofisticadas de tratamento empírico de informações sobre variáveis econômicas. Esse saber permite supostamente que os iniciados nessa arte de manipulação de “dados” econômicos possam testar a validade de certas relações funcionais, assim como fazer projeções a partir delas.

Entretanto, na prática, a ambição de objetividade dos economistas do sistema se revela às vezes como o seu contrário, ou seja, como falsificação ou como ideologia vulgar. A arrogância teórica e a pretenciosa cientificidade transmutam-se, então, em grosseira culinária de séries estatísticas com a finalidade de sustentar determinadas proposições e posições de política econômica. Eis que os dados podem ser arrumados ou mesmo inventados, a direção de causação pode ser invertida, as estimações podem ser manipuladas de vários modos. Por isso mesmo, parece ser usual nesse campo a prática de evitar a replicação dos experimentos estatísticos.

Neste post apresenta-se um caso exemplar fornecido pela economista crítica Jayati Ghosh. Ela mostra, numa nota publicada no portal Project Syndicate, que foi provado que um famoso artigo publicado numa “revista de primeira linha” torceu e corrompeu a econometria para provar que políticas pró-trabalhadores prejudicam os próprios trabalhadores.

Eis o artigo: Ciência e Subterfúgio em Economics

Da Crítica da Economia Política

logo_revistaoutubro_site1Foi publicado pela Revista Outubro, em sua vigésima-terceira ediçãoum texto  que procura discutir alguns pontos relevantes da crítica de Marx ao capitalismo e à sua compreensão.  O artigo toma como bem difícil a correta compreensão da dialética de O capital e, assim, da Crítica da Economia Política. Com a intenção de mostrar quão arisca e árdua é essa dificuldade, apoia-se principalmente na tradição brasileira de leitura das obras de Marx que versam especificamente sobre o modo de produção capitalista. E, para melhor expô-la, examina alguns pontos usualmente tomados como dificuldades importantes nos debates. Para fazê-lo, questiona certas teses de autores marxistas renomados que versam – sustenta-se que se equivocam – sobre o método desse autor.

O link encontra-se aqui: http://outubrorevista.com.br/economia-politica-os-descaminhos-da-critica/

Dinheiro em Keynes: questões lógicas

IS-LM ModelComo se sabe, Keynes define o capitalismo como uma economia monetária de produção, ou seja, como um arranjo institucional destinado à produção de bens que funciona mediante trocas necessariamente mediadas pelo dinheiro. Isto não impede que seja capaz de pensar uma economia capitalista “não monetária”. Ora, essa incongruência e outras que se encontram em seu texto sugerem que se examine a teoria monetária desse autor de uma perspectiva lógica. Pois, é possível que lhe falte uma concepção justa sobre a natureza do dinheiro no capitalismo. Por que esse autor é capaz de pensar o capitalismo como uma economia monetária e, ao mesmo tempo, como uma economia não monetária? Ora, isto não tem uma raiz profunda no terreno metodológico? Não é o próprio modo de racionar de Keynes que gera necessariamente uma visão dicotômica do sistema econômico?  Como pensar desse modo parece absurdo do ponto de vista da teoria marxiana do capitalismo, o texto procura investigar essa questão. Chega à conclusão que há uma diferença profunda entre esses dois autores, sugerindo que eles não podem e não devem ser confundidos como tem acontecido frequentemente nos escritos de economia política. O texto se encontra aqui: Dinheiro em Keynes – Questões Lógicas

O mau humor do “mercado”

Taxa de exploração no Brasil - 1990-2013 - IIIA eleição para o cargo de presidente da república se aproxima no Brasil. A disputa pela orientação de política econômica do futuro governo se acirra conforme se acirra a disputa política dos próprios candidatos. Sobem os tons das críticas à política econômica da presidente Dilma e do ministro Mantega. Mas, afinal, o que está centralmente em jogo nesse debate? Numa nota curta, procura-se mostrar que a questão central pendente entre os economistas diz respeito, em última análise, ao grau de exploração da força de trabalho e, assim, da taxa de lucro – mesmo se aqueles envolvidos na querela parecem tratar de outra coisa ou tratam dela de um modo indireto, encoberto, elusivo. Toma-se partido aqui, entretanto, por uma alternativa ao existente que não está sendo posta em pauta, mas que vem a ser a única saída racional para uma civilização em crise profunda.

Para ler o texto, clique aqui: O mau humor do mercado

Da Crítica da Economia Política

Niep - Marx

Entre o dia 1º e o dia 4 de outubro, aconteceu em Niterói, no Rio de Janeiro, o Colóquio Internacional Marx e o Marxismo 2013: Marx hoje, 130 anos depois. Nele foram apresentados dezenas de artigos sobre os mais diversos temas que interessam ao marxismo. Os anais do colóquio se encontram AQUI. Na ocasião, o autor deste blog apresentou uma nota sobre a relação entre a economia política e a crítica da economia política sob o título Marx contra (e não contra) a Economia Política. O texto se encontra aqui: Apresentação – Marx contra a Economia Política.

Um Gattopardo brazuca

????????????????????????????????????????O título desta nota veio de duas fontes. Proveio, primeiro, da leitura de Os limites do possível, livro recém-publicado de André Lara Resende (2013) e, segundo, de um artigo de Thomas Palley cujo título faz referência, precisamente, à celebre obra de Giuseppe Tomasi di Lampedusa (2006): Gattopardo economics: the crisis and the mainstream response of change that keeps things the same (2013). E ela tem, é preciso deixar logo claro, um propósito bem acerbo e crítico. A nota pretende questionar acidamente as incongruências do conservadorismo ilustrado que anima o discurso de Resende na avaliação das perspectivas históricas do capitalismo contemporâneo.

Para ler a nota clicar aqui: Um gattopardo brazuca

A emergência social dos preços

Texto lido como aula magna no 40º Encontro Nacional de Economia – ANPEC, em 11/12/2012. C

No texto que pode ser acessado ao final dessa nota, discute-se uma questão de fundamento em teoria econômica. Argumenta-se que o individualismo metodológico – pressuposto dominante da teoria econômica – mantém uma proposta para a construção de teorias que é logicamente impossível de ser realizada rigorosamente. E que, para não cair em contradição, e para não subsumir completamente a pessoa ao sistema econômico, tombando, assim, no coletivismo metodológico, é preciso pensar de outro modo.  Mostra-se, então, que esse modo é a dialética de Hegel e Marx. Para tanto, o texto discute  grosso modo a formação de preços  na teoria clássica, na teoria neoclássica e em O Capital de Marx.

Para acessa o texto basta clicar aqui:    A emergencia social dos precos

Da crise e da inflação

Uma abordagem marxista

Desenvolve-se aqui uma nota sem grande pretensão de originalidade, tendo em mente preencher uma lacuna na literatura marxista circulante no Brasil, com uma finalidade didática. Investiga-se impacto e as consequências de certas mudanças tecnológicas nas taxas de lucros setoriais de uma economia capitalista em que prevalece, inicialmente, taxa de lucro uniforme. O objetivo do exercício teórico é estudar certas contradições inerentes ao processo de acumulação de capital. A partir delas, examinam-se, então, duas manifestações básicas dessas contradições: a crise de realização e a inflação. Para continuar lendo, basta Baixar aula 8 aqui

Capitalismo Zumbi

Chris Harman e o capitalismo zumbi

Nesta nota de leitura, pretende-se apresentar o sentido geral das teses contidas no livro de Chris Harman, de 2009, que tem o seguinte título: Zombie capitalism – global crisis and the relevance of Marx, ou seja, capitalismo zumbi – crise global e a relevância de Marx. Neste livro, em cerca de 350 páginas, este autor visa explicar o desenvolvimento do capitalismo contemporâneo, mantendo fidelidade ao pensamento de Marx. Entre outros pontos, por exemplo, ele critica as ideias de dominância financeira e de financeirização que são muito difundidas no Brasil. Para ler essa matéria basta Baixar texto 27 aqui.

O enigma do capital

O marxismo pé-no-chão de David Harvey

Nesta nota procura-se mostrar que a compreensão de capital e das crises do capitalismo apresentadas por David Harvey em seu livro O enigma do capital e as crises do capitalismo são conceitualmente equivocadas quando postas em confronto com as teses de Marx. Ele sustenta, por exemplo, que o capital é um fluxo, o que não está em convergência com o conceito marxiano de capital; para Marx, como sabe qualquer estudioso de O Capital,  é uma substância-sujeito. Ademais, a crise econômica para ele  decorre de um obstáculo ao circuito de reprodução do capital, quando, para Marx, é o próprio capital que engendra endogenamente as suas crises. Para ler essa crítica, que, aliás, não é muito longa,  basta Baixar texto 24.