Faz sentido falar em abstração objetiva e abstração subjetiva?
Veja-se, de início, que o pensamento pode querer captar a totalidade de um determinado objeto (o sistema econômico em movimento, por exemplo) ou pode desejar apreender apenas certas relações entre os fenômenos que aí se manifestam (por exemplo, a relação entre consumo e renda agregada subsistente no sistema econômico). Note-se que a totalidade não é o conjunto de todos os fatos; eis que é uma realidade estruturada que está em devir e que segue determinadas leis de tendência, as quais podem ser abraçadas pela razão científica, de tal modo que ela mesma possa ser, assim, compreendida.
No primeiro caso, o pensamento se apropria do concreto partindo de abstrações que dele próprio se originam, faz sínteses sucessivas para apreender de modo cada vez abrangente as determinações do próprio concreto. Ao final, este aparece, na ordem do pensamento, como concreto pensado. Este é o caso, segundo Marx, do pensamento dialético que, para ele, é aquele “cientificamente correto”.
No segundo caso, o pensamento não quer se apropriar da totalidade concreta, mas apenas de certas relações externas entre dados fenômenos que aí se manifestam. Segundo Walras, por exemplo, “os fatos, suas relações e suas leis, tal é o objeto de qualquer estudo científico”. Para tanto, estes “abstraem dos tipos reais, tipos ideais, que definem; e com base nessas definições constroem a priori os andaimes de seus teoremas e demonstrações”.
Por exemplo, a mercadoria pode ser encarada de início como valor de uso que porta valor de troca tal como aparece nos mercados (Marx) ou pode ser assim tomada apenas como valor de uso, ou seja, como um mero bem (Walras). No primeiro caso, o valor de troca tem de ser explicado por determinações que a mercadoria adquire ao ser produzida, ou seja, por seu valor; no segundo, porém, o valor de troca só aparece quando a mercadoria entra efetivamente em relação com outra mercadoria, podendo, assim, ser explicado pela “utilidade” ou pelas “preferências” dos participantes da troca.
É assim que se originam, como sabe, as duas grandes teorias do valor em Economia Política. Ambas partem da mercadoria: uma delas, entretanto, começa mediante uma abstração objetiva e a outra se vale de uma abstração subjetiva. No post que se segue discute-se um texto de Michael De Vroey em que esse problema de compreensão da mercadoria aparece de uma maneira muito particular, mas que é bem interessante e metodologicamente instrutiva.
O post se encontra aqui: Mercadoria – abstração objetiva ou subjetiva?
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