Chegar depois para chegar junto: eis a ambição da dialética

“Se o conhecimento humano avança, não há como antecipar hoje, o que tão-somente se saberá amanhã”. Como é bem sabido, essa é uma sentença fundamental do livro A miséria do historicismo de Karl Popper (Cultrix/USP, 1980). Como se afigura bem evidente, por meio dela, este metodólogo da ciência faz uma afirmação sobre o saber da história; ele afirma simplesmente que não é possível conhecer o futuro antes que ele sobrevenha. E, como base, nessa proposição, ela vai criticar todos aqueles que parecem conhecer aquilo que estaria reservado no futuro para a humanidade.

Ora, para pensar a história, pode-se examinar por simplicidade um simulacro dela, focando o famoso paradoxo da transformação do cabeludo no careca: se um homem é cabeludo aos vinte anos e careca ao sessenta, em que momento de sua vida pessoal, entre esses dois momentos, ele se transformou de cabeludo em careca? No preciso instante em que isto aconteceu, esse homem era, simultaneamente, cabeludo e careca? Não seria esta última uma afirmação arrevessada que contém em si mesma uma contradição formal, a qual é proibida pelo entendimento e mesmo pela razão dialética? A lógica aristotélica colapsa quando quer apreender o movimento em geral?

O texto completo se encontra aqui: Chegar depois para chegar junto

 

Falo/feitiço e o fetichismo da mercadoria como ilusões reais

Os escritos no campo da psicanálise lacaniana tendem a escapar da compreensão de muitos. Este economista que aqui escreve não é exceção. Entretanto, crê – e isto não é novo – que The Sublime Object of Ideology (The Essential Zizek)certos conhecimentos de psicanálise precisam ser incorporados na crítica da economia política. Ora, um texto que faz uma conexão entre dois fetiches sexuais com o fetiche da mercadoria é aqui reapresentado – talvez – numa forma mais didática.

Num escrito dessa matriz encontra-se a seguinte frase: “o falo deve ser apreendido como significante da castração”. O que ela significa? Qual a sua significância? Que relação tem com a conexão acima mencionada?

Ora, é assim que Slavoj Zizek começa uma seção de seu livro Eles não sabem o que fazem – o sublime objeto da ideologia (Zahar, 1992) intitulada Falo e feitiço. Ora, esse autor, tal como o seu mestre, costuma esconder, parcialmente, a trama do jogo de linguagem que entretém. Nem por isso, entretanto, o que ele escreve é irrelevante – ao contrário, frequentemente lança luzes sobre temas difíceis. Por isso é preciso investigar o que ele pode estar querendo dizer com essa expressão que parece bem arrevesada.

Antes de começar examiná-la, anote-se que os termos “falo” e “feitiço” são significantes similares às “ilusões reais” da crítica da economia política, a saber, a mercadoria e o dinheiro como fetiches. A questão que se põe a respeito deles é aqui, como lá, saber que significação têm. Como deslindar esse nó?

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