Os escritos no campo da psicanálise lacaniana tendem a escapar da compreensão de muitos. Este economista que aqui escreve não é exceção. Entretanto, crê – e isto não é novo – que certos conhecimentos de psicanálise precisam ser incorporados na crítica da economia política. Ora, um texto que faz uma conexão entre dois fetiches sexuais com o fetiche da mercadoria é aqui reapresentado – talvez – numa forma mais didática.
Num escrito dessa matriz encontra-se a seguinte frase: “o falo deve ser apreendido como significante da castração”. O que ela significa? Qual a sua significância? Que relação tem com a conexão acima mencionada?
Ora, é assim que Slavoj Zizek começa uma seção de seu livro Eles não sabem o que fazem – o sublime objeto da ideologia (Zahar, 1992) intitulada Falo e feitiço. Ora, esse autor, tal como o seu mestre, costuma esconder, parcialmente, a trama do jogo de linguagem que entretém. Nem por isso, entretanto, o que ele escreve é irrelevante – ao contrário, frequentemente lança luzes sobre temas difíceis. Por isso é preciso investigar o que ele pode estar querendo dizer com essa expressão que parece bem arrevesada.
Antes de começar examiná-la, anote-se que os termos “falo” e “feitiço” são significantes similares às “ilusões reais” da crítica da economia política, a saber, a mercadoria e o dinheiro como fetiches. A questão que se põe a respeito deles é aqui, como lá, saber que significação têm. Como deslindar esse nó?