A relação de capital: o fascismo e o stalinismo

Introdução

Como essas duas formas políticas, o fascismo e o stalinismo, podem ser compreendidas a partir da relação de capital – a relação social que subsumi o trabalho e, assim, o modo de trabalhar, por meio do assalariamento? Como essa relação estruturante da sociedade moderna é sustentada no fascismo e no stalinismo? Como o Estado garante a acumulação de capital em cada uma delas? Uma dessas formas, como se sabe, configura-se ainda no evolver do capitalismo e a outra aparece no “socialismo” burocrático – ambas, no entanto, mesmo se pareceram sólidas, revelaram-se ao fim reversíveis e transitórias. Para responder essa pergunta, que se tornou novamente central neste começo do século XXI, parte-se aqui da categoria de fetichismo apresentada em O capital.

Como já aconteceu outras vezes, o capitalismo enfrenta agora uma crise estrutural que coloca em dúvida a sua permanência na história. Diante dela, imensa como nunca fora antes, parece haver dois caminhos. A razão comunicativa recomenda aprofundar a democracia para resolver os impasses do desenvolvimento na sociedade contemporânea e, sobretudo, para contrariar o rumo do colapso societário. A sua negação extremista, entretanto, é que se tem apresentado e prosperado na cena política.

Diante dos esgarçamentos sociais produzidos pela atual crise estrutural, o fantasma de formas políticas totalitárias tem ressurgido no horizonte. E elas laboram para impedir a superação das ameaças à própria civilização humana. Não existe mais, portanto, a via de retorno à socialdemocracia. Logo, para as forças do desenvolvimento e da transformação só resta o caminho mais difícil do socialismo democrático. Por isso é que se afigura importante compreender melhor essas duas formas de totalitarismo, distinguindo o que tem de comum e o que tem de diferente.

Continuar lendo

Niilismo, capital, fascismo

O termo niilismo foi empregado de várias formas na tradição cultural do Ocidente. Mesmo em Friedrich Nietzsche, em que se torna central, é de difícil compreensão já que foi usado de várias formas apenas aproximadas umas das outras ao longo de seus diversos textos.

Aqui se entende que niilismo se refere à “ruína da interpretação moral do mundo” depois do advento da racionalidade moderna, após o declínio da totalidade ética constituída pelo cristianismo na Idade Média. Segundo Max Weber, ele é o efeito de um desencantamento do mundo. Segundo Heidegger, ele traz como consequência o domínio da racionalidade técnica e instrumental do mundo.

Aqui se julga que essa irreligiosidade, que afetou o mundo da vida social e cultural, veio junto com um novo encantamento. Eis que a esfera econômica da sociedade moderna se destacou da sociedade, ganhou vida própria, tornando-se o domínio de um “deus” terreno. Em consequência, atribui-se aqui o advento do niilismo ao domínio crescente nessa sociedade do sujeito automático formado pela relação entre o capital e o trabalho assalariado.

De modo tentativo, considera-se então que o efeito do niilismo é incapacitar os valores humanistas que mal sobrevivem na sociedade moderna de conter as tendências à uma violência endêmica – assim como àquela que dá origem ao fascismo –, a qual passa a medrar nessa sociedade de forma incontida. Julga-se, então, que apenas um socialismo radicalmente democrático pode salvar a humanidade da barbárie que hoje se vê transpirar por todos os poros desse desencantamento.

Eis aqui o texto: Capital, niilismo, fascismo