A relação de capital: o fascismo e o stalinismo

Introdução

Como essas duas formas políticas, o fascismo e o stalinismo, podem ser compreendidas a partir da relação de capital – a relação social que subsumi o trabalho e, assim, o modo de trabalhar, por meio do assalariamento? Como essa relação estruturante da sociedade moderna é sustentada no fascismo e no stalinismo? Como o Estado garante a acumulação de capital em cada uma delas? Uma dessas formas, como se sabe, configura-se ainda no evolver do capitalismo e a outra aparece no “socialismo” burocrático – ambas, no entanto, mesmo se pareceram sólidas, revelaram-se ao fim reversíveis e transitórias. Para responder essa pergunta, que se tornou novamente central neste começo do século XXI, parte-se aqui da categoria de fetichismo apresentada em O capital.

Como já aconteceu outras vezes, o capitalismo enfrenta agora uma crise estrutural que coloca em dúvida a sua permanência na história. Diante dela, imensa como nunca fora antes, parece haver dois caminhos. A razão comunicativa recomenda aprofundar a democracia para resolver os impasses do desenvolvimento na sociedade contemporânea e, sobretudo, para contrariar o rumo do colapso societário. A sua negação extremista, entretanto, é que se tem apresentado e prosperado na cena política.

Diante dos esgarçamentos sociais produzidos pela atual crise estrutural, o fantasma de formas políticas totalitárias tem ressurgido no horizonte. E elas laboram para impedir a superação das ameaças à própria civilização humana. Não existe mais, portanto, a via de retorno à socialdemocracia. Logo, para as forças do desenvolvimento e da transformação só resta o caminho mais difícil do socialismo democrático. Por isso é que se afigura importante compreender melhor essas duas formas de totalitarismo, distinguindo o que tem de comum e o que tem de diferente.

Continuar lendo

O caráter fetichista do partido stalinista e seu segredo

É possível expor o partido stalinista do mesmo modo que Karl Marx, em O capital, expôs o fetichismo da mercadoria? Slavoj Zizek acha que sim e a sua apresentação crítica dessa forma de partido político encontra-se no seu livro Eles não sabem o que fazem – O objeto sublime da ideologia (Zahar, 1992). Ele, como se sabe, existiu concretamente e governou o sistema centralizado de acumulação de capital que vigorou na Rússia de 1917 até 1991. Mas será que ele desapareceu totalmente?

Como ainda parece importante entender melhor esse “desvio” – na verdade, um afundamento – totalitário de uma organização política que se apresentou na cena histórica como socialista democrática e, ao mesmo tempo, como autoritária. Por que respondeu tão mal à tradição política originada nas propostas de Marx e Engels para superar o modo de produção capitalista?

Que fracassou, todos sabem; não foi muito longe, ao contrário, e isto foi provado cabalmente pelo retorno da Rússia ao capitalismo, agora, na forma de um sistema de acumulação descentralizado. Logo, parece importante saber se esse fracasso não estava inscrito em sua forma própria desde o início? Como não cair no mesmo erro?

De qualquer modo, eis aqui uma apresentação didática de seu argumento: O caráter fetichista do partido stalinista e o seu segredo