Para além da descrição da realidade

David Pavón-Cuéllar – Psicanalista marxista mexicano. Fonte original – Blog do autor 9/01/2015:

Crítica ao pós-modernismo latente em Slavoj Žižek. Dando continuidade ao seu legado por outros meios:  uma volta à dualidade teoria/prática por meio de Marx e Lacan[1]

 Gostaria de dizer algumas palavras sobre uma questão central contida em meu livro Elementos políticos do marxismo lacaniano, mas que não pude resolvê-la enquanto o escrevia. Ela continua a parecer insolúvel, embora tenha refletido muito sobre ela nos últimos anos. Talvez minhas reflexões recentes possam dar início à conclusão de algumas ideias truncadas que persistiram em meu livro. Porém, como se verá, tais ideias só podem ser completadas por meio da prática, no processo da própria transformação, e não apenas por meio da descrição da realidade, como diria Marx.

É claro que devemos começar descrevendo a realidade. E isso, ao contrário do que se possa acreditar, não é tão fácil nem tão comum, principalmente nestes anos de realidade virtual, desertificação da realidade e pensamento único hiper-realista. Apesar de tudo, nós, marxistas, devemos aceitar que ainda existe uma realidade. Mas como concebê-la?

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Teoria e Crise

A economia ortodoxa e a crise econômica

Recentemente criticaram-se os economistas ortodoxos porque eles não foram capazes nem de prever e nem de interpretar a crise econômica mais recente. Ora, os economistas ortodoxos não acreditam mais em qualquer possibilidade de transformação civilizadora do sistema. Eles se contentam com a expansão modernizadora que advém da acumulação descontrolada de capital. Pragmáticos por excelência, eles estão muito mais interessados no jogo do mercado e na defensa de teses profissionais e políticas que lhes parecem convenientes, do que em entender com certa profundidade científica os processos sociais e econômicos.

A verdade é que a teoria econômica ortodoxa, ao se afastar do compromisso da ciência moderna com a emancipação do homem, transformou-se duplamente: enquanto atividade para dentro do campo, ou seja, enquanto atividade legitimadora de competência, ela caiu num formalismo do irrelevante; enquanto atividade para fora do campo, ou seja, enquanto atividade funcional para o próprio funcionamento do sistema, ela se transformou em mercadoria – mercadoria que já não é coisa, mas imagem, propaganda e marketing de teses econômicas.  

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Foucault

 

 Uma apresentação dialética

da geneologia do neoliberalismo de Foucault

Este artigo examina criticamente a genealogia do neoliberalismo desenvolvida por Michel Foucault em O nascimento da biopolítica. Considera que contém uma boa percepção da orientação social e política das práticas governamentais do neoliberalismo, mesmo se analisa somente os discursos teóricos que as fundamentam. Argumenta-se, porém, que ela falha por não compreendê-las como respostas históricas aos problemas econômico-sociais, postos pelo próprio desenvolvimento do modo de produção capitalista. E que ela falha, também, por não compreendê-las como manifestações de configurações históricas do Estado capitalista, as quais surgiram ao seu tempo como respostas às demandas da acumulação de capital e das próprias transformações da produção capitalista. Sustenta-se a crítica numa apresentação sumária, mas dialética, das configurações históricas desse modo de produção.