Formas contemporâneas da subsunção do trabalho ao capital

Convidado para fazer uma apresentação sintética das conexões entre “dívida pública” a “subsunção do trabalho ao capital” na cena contemporânea, o autor desse blog preparou uma exposição sobre o tema por meio de uma apresentação em “powerpoint”. Como a exposição não pode ocorrer por falha deste blogueiro impenitente, ele publica aqui o original preparado para os eventuais interessados.

O material se encontra aqui: Formas contemporâneas da subsunção do trabalho ao capital

Socialismo, utopia inviável? Parte III

Em posts anteriores buscou-se encaminhar notas que buscavam sintetizar as principais críticas à possibilidade de coordenar a atividade econômica numa sociedade que aboliu a grande propriedade privada dos meios de produção, os mercados de realização do capital e, assim, os preços como representantes dos valores constituídos pelo trabalho abstrato e, portanto, alienado.

Essas críticas, vale lembrar aqui, foram centralmente ventiladas por Ludwig Mises e Friedrich Hayek, ambos importantes precursores teóricos da variegada corrente de pensamento e de prática política que passou a ser chamada grosso modo de neoliberalismo. Nesta nota, procura-se mostrar que a argumentação de Hayek contra o socialismo, que até recentemente parecia imbatível, foi superada. A nota que aqui se apresenta vale-se de um artigo seminal de Evgeny Morozov, Socialismo digital? O debate sobre o cálculo na era dos grandes sistemas de informação.

A nota encontra-se aqui: Morozov – o Big Data e o planejamento democrático

O texto original em inglês de Evgeny Morozov pode ser obtido de graça no sítio da New Left Review

 

Da crítica truncada

Imagem do Sursis II

Uma das teses mais populares sobre a crise econômica iniciada em 2008, muito difundia na esquerda keynesiana e marxista, sustenta que ela surgiu como resultado da exacerbação das atividades financeiras deslanchada ao fim da década dos anos 70 do século XX. Conforme reza, o advento do neoliberalismo na década dos anos 80 trouxe consigo o afrouxamento dos controles sobre a criação de capital financeiro, assim como, em consequência, a financeirização das empresas capitalistas voltadas para a produção de bens e serviços como mercadorias.

Um dos resultados dessas reformas liberalizantes teria sido a queda da taxa de acumulação – e do crescimento econômico –, principalmente nos países do centro do sistema. A financeirização, segundo essa ótica, disparou um processo anômalo de expansão dos títulos, ações, etc. que se auto realimentou, que se autonomizou, e que puncionou sistematicamente parte dos lucros obtidos nas atividades produtivas. Em consequência, a taxa de investimento caiu inexoravelmente para níveis bem baixos. A transformação da economia que havia sido construída após a II guerra mundial sob a orientação do keynesianismo, uma pujante máquina de crescimento, teria produzido, após as reformas neoliberais, apenas um sistema em que o crescimento se tornou anêmico e o rentismo passou a prosperar sem qualquer vergonha.

Os teóricos da corrente “crítica do valor” consideram essa avaliação do evolver do capitalismo gestado pelo neoliberalismo como uma crítica truncada. Para começar, ela omite que o capital financeiro, que é mais propriamente denominado de capital fictício, constitui-se como uma forma intrínseca e necessária da relação de capital. E que, por isso mesmo, existe em simbiose com capital funcionante: eis que toda operação financeira está ancorada direta ou indiretamente na produção real de mais-valor; não apenas colhe parte do mais-valor aí produzido, mas também permite e induz que ele seja aí criado. Se o capital funcionante se valoriza ao agregar valor atuando diretamente na esfera da produção mercantil, o primeiro se valoriza indiretamente, fora dessa esfera, mas somente o faz porque antecipa mais-valor que ainda vai se realizar ou ainda vai ser produzido no futuro. Logo, não apenas punciona mais-valor, mas também estimula a sua produção. Não faz sentido, portanto, confundir o jurismo com o rentismo tal como costumam fazer aqueles que não são capazes de ir além de uma crítica truncada do capitalismo.

Os teóricos da “crítica do valor” julgam, assim, que é enganoso considerar o capital financeiro como uma intrusão que parasita e abate o capital funcionante. Ademais, pensam também que esse capital, ao contrário do que admitem os autores da crítica truncada, teve um papel decisivo na sustentação da acumulação no período neoliberal. Se ela foi fraca, mas fraca ainda teria sido sem o boom de capital fictício observado em todo período. Pois, segundo eles, o advento da terceira revolução industrial reduzira drasticamente a possibilidade de crescimento da massa de mais-valor, jogando o capitalismo realmente existente num processo de estagnação e de declínio.  Nessa circunstância, a acumulação sustentada pela expansão explosiva do capital financeiro foi a única forma capaz de manter o sistema funcionando sem cair numa depressão profunda. Ora, para fornecer uma amostra do conteúdo desse argumento, publica-se aqui um excerto tirado do livro A Grande Desvalorização de Ernst Lohoff e de Norbert Trenkle, o qual já foi discutido em postagens anteriores. Nesse trecho da obra, eles explicam como o neoliberalismo foi capaz de produzir uma suspensão (temporária) do desenrolar da crise.

 

Ei-lo: Lohoff – A suspensão da crise pelo neoliberalismo

EUA: crescimento em queda

EUA - A aguia caí

EUA – A águia cai

Descendo a ladeira:

A queda do crescimento nos Estados Unidos

 

O artigo examina o processo histórico de aumento da produtividade do trabalho no capitalismo mais desenvolvido, ou seja, primeiro, na Grã-Bretanha e, depois, nos Estados Unidos. Para fazê-lo, toma por base um estudo do economista neoclássico Roberto Gordon, o qual desafia o consenso vigente entre os economistas, pois afirma que o crescimento não é um processo contínuo e que este, em consequência, não durará para sempre. No artigo, apresenta-se em primeiro lugar a explanação desse autor para a evolução da produtividade do trabalho nos últimos séculos. Em suma, ela está baseada no efeito catraca das inovações tecnológicas as quais ocorreram durante as ondadas das revoluções industriais.  Apresenta-se, depois, uma explanação alternativa para a grande transformação do capitalismo e seu provável esgotamento com base nas concepções de Marx sobre os processos de produção da manufatura e da grande indústria. Procura-se, então, ir além das formulações originais de Marx. Examina-se, então, o processo de produção da pós-grande indústria, tendo em mente apreender as características específicas do capitalismo contemporâneo.

O texto se encontra aqui: Descendo a ladeira – A queda do crescimento nos Estados Unidos

Ou aqui:  Sitio da SEP

O que é neoliberalismo?

Friedrich Hayek 2

Antes de qualquer outra consideração é preciso afirmar de saída, e fortemente, que o neoliberalismo não é a política do Estado mínimo. Segundo Pierre Dardot e Christian Laval, a tese segundo a qual “o termo neoliberalismo designa uma ideologia que prega o “retorno” ao liberalismo originário e uma política econômica que consiste em retirar o Estado para abrir espaço ao mercado” está totalmente errada. Ora, essa mesma crítica já fora feita no artigo Pós-grande indústria e neoliberalismo, que é de 2005, e está publicado no número 97 da Revista de Economia Política. Entretanto, mesmo se não há originalidade nessa afirmação, os escritos desses dois intelectuais franceses sobre o tema contribuem para uma melhor compreensão desse pensamento político ora dominante na sociedade. Por isso, aqui se publica uma tradução de duas seções de um importante artigo da lavra desses autores, Néolibéralisme et subjectivation capitaliste, o qual foi  publicado no número 41 da Revue Cités.

Dardot,P e Laval,C – O que é o neoliberalismo

Limites do valor

Limites do valor e do capitalismo

Eleutério F. S. Prado e José Paulo Guedes Pinto

 O objetivo dessa nota vem a ser apresentar a questão do espaço histórico das categorias valor e trabalho abstrato. Isto é feito reinterpretando certos trechos da obra econômica de Marx, em especial O Capital e os Grundrisse.

Até o aparecimento do modo de produção capitalista, o valor não existia enquanto tal, pois ele não estava posto historicamente. Uma parte dos bens produzidos na antiguidade greco-romana se tornavam mercadorias e eram trocados por meio do dinheiro de modo regular; porém, durante esse período histórico, o valor se encontrava pressuposto. O mesmo continuou ocorrendo em todo período medieval. Para a dialética – é preciso enfatizar –, posição é determinação.

Quando surgiu o capitalismo na época moderna, o valor foi posto objetivamente na realidade social. Pois, só na época moderna se pode pensar com base na categoria de quantidade de trabalho socialmente necessária. Na forma capital, ele se tornou então sujeito do processo mercantil. Entretanto com o desenvolvimento desse modo de produção, ou seja, com o extraordinário aumento da produtividade do trabalho na grande indústria, o valor entra em crise, tornando-se desmedido.

A desmedida do valor explica a possibilidade do dinheiro mundial inconversível, o qual está na base da grande crise do capitalismo, ainda em andamento. Argumenta-se que a desmedida do valor produz intrinsecamente a desmedida do capital, especialmente na forma financeira. Há vários sinais de que o capitalismo está se tornando supérfluo para o desenvolvimento da sociedade. Ao contrário da opinião corrente, o socialismo é hoje uma possibilidade efetiva que está pressuposta no capitalismo contemporâneo, pois este perdeu a sua regulação sistêmica interna e se tornou descontrolado.

Resumo em inglês: ver abaixo. Texto em Portugues: Baixar Texto 23 na pasta “Economia Política”

 

Limits of the value and the capitalism

The purpose of this paper is to discuss the question of the historical space of value and abstract labor categories. This is done by reinterpreting certain parts of Marx’s economic work, especially the Grundrisse and Capital.

Until the appearance of the capitalist mode of production, the value did not exist as such because he was not posited historically. A part of the goods produced in the Greco-Roman times became merchandises and were exchanged by means of money on a regular basis; but during all this historical period the value was not posited; it was presupposed. The same occurred throughout the medieval period. For the dialectic – it must be emphasized – position is determination.

When capitalism emerged in modern times, the value was posited objectively in the social reality. Only in modern times one can think with the category of quantity of labor socially necessary. Capital as a social form became the real subject of the economic process. However with the development of this mode of production, ie, with the extraordinary rise in labor productivity brought by large industry, occurred the crisis of value and it became de-measured (according to Hegel’s logic, the measure turns out to be de-measure when it became more and more indeterminate).

This de-measure explains the possibility of the world money inconvertible, which underlies the actual great crisis of capitalism, still in progress. It is argued that value de-measure produces intrinsically capital de-measure, especially in its financial forms. There are several signs that capitalism is becoming superfluous for the development of society. Contrary to current opinion, socialism is now a real possibility, something that is presupposed in contemporary capitalism because it has lost its internal systemic regulation and has become uncontrollable.

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Renovação do Socialismo

Pós-grande indústria e a renovação do socialismo

O objetivo dessa nota é compreender as teses centrais de Moishe Postone, as quais tomaram forma principalmente em seu livro Tempo, trabalho e dominação social (Postone, 1993), na perspectiva do materialismo histórico. Como se sabe, esse autor distinguiu um marxismo tradicional, que surgiu no século XIX e que veio predominar no campo da esquerda no século XX, e um marxismo renovado, que retorna a Marx para encampar e ultrapassar os esforços teóricos e críticos do marxismo ocidental (de Lukács à Habermas). Para tanto, apresenta-se, primeiro, uma síntese das teses desse autor. Retomam-se, depois, os conceitos de manufatura, grande indústria e pós-grande indústria. Na seção final, reexaminam-se as teses clássicas de Engels em Socialismo utópico e socialismo científico para, em seqüência, estabelecer uma conexão entre o marxismo renovado sugerido por Postone e a pós-grande indústria. 

Ver artigo completo em Artigos/baixar texto 18

Pós-grande indústria

Pós-Grande Indústria e Neoliberalismo

O capitalismo está saindo da fase de grande indústria para a fase de pós-grande indústria. Na grande indústria, em O Capital, a matéria por excelência da relação de capital eram os ativos tangíveis (sistemas de máquinas); na pós-grande indústria, conforme o Grundrisse, são os ativos intangíveis (ciência e tecnologia). Então, o capital precisa se apropriar não só do tempo de trabalho vivo, mas também da inteligência coletiva. O neoliberalismo e a mundialização do capital não são pensados aqui, imediatamente, como resultados da dominação do capital financeiro, mas como expressões da contradição entre o capital e o trabalho na pós-grande indústria.

Ver artigo completo: Artigo/Baixar texto 17

 Post Large Industry and Neoliberalism

  Capitalism is in transition from the modern industrial phase to the post large industry one. In large industry, as Marx stated in Das Capital, the main material content of the capital relationship was physical assets (systems of machines); in post large industry, this role is taken over by intangible assets (science and technology). Now, as foreseen by Marx in Grundrisse, capital appropriates not only living labor, but general intellect as well. From this point of view, neoliberalism and the internationalization of capital are not seen, immediately, as results of the domination of financial capital, but as expressions of the contradiction between capital and labor in post large industry. 

See the complete paper: Artigos/Download 1

Foucault

 

 Uma apresentação dialética

da geneologia do neoliberalismo de Foucault

Este artigo examina criticamente a genealogia do neoliberalismo desenvolvida por Michel Foucault em O nascimento da biopolítica. Considera que contém uma boa percepção da orientação social e política das práticas governamentais do neoliberalismo, mesmo se analisa somente os discursos teóricos que as fundamentam. Argumenta-se, porém, que ela falha por não compreendê-las como respostas históricas aos problemas econômico-sociais, postos pelo próprio desenvolvimento do modo de produção capitalista. E que ela falha, também, por não compreendê-las como manifestações de configurações históricas do Estado capitalista, as quais surgiram ao seu tempo como respostas às demandas da acumulação de capital e das próprias transformações da produção capitalista. Sustenta-se a crítica numa apresentação sumária, mas dialética, das configurações históricas desse modo de produção.