O discurso da dialética é frequentemente mal compreendido. Um ponto central para apreendê-lo consiste em saber distinguir aquilo que Hegel chamava de “entendimento” e aquilo que denominava de “razão”. Ora, esse ponto está bem explicado num texto de Slavoj Zizek contido no seu livro O mais sublime dos histéricos – Hegel com Lacan (Zahar, 1992). Tentar-se-á apresentá-lo aqui de um modo didático, fazendo uso do próprio texto desse autor sempre que isto for melhor para a lógica da exposição.
Em primeiro lugar, é preciso indicar um modo comum – errado – de apreender a diferença entre o entendimento e a razão: está última se sobreporia ao primeiro, indo bem além dele na compreensão do real. O primeiro trata as categorias como fixas, distintas e claras e, por isso, mostra-se capaz de apreender o movimento mecanicamente, como uma sucessão de estados no tempo. O segundo, ao contrário, considera que elas são lábeis, transformáveis umas nas outras, obscuras, tornando-se assim capaz de apreender o auto-movimento, de tornar dialética a compreensão da realidade. Ora, o que está errado nessa afirmação não é o modo de considerar as categorias, mas em pensar que o entendimento e a razão são maneiras de pensar alternativas, que existiriam lado a lado, que “apreenderiam” os objetos por formas completamente distintas e separadas entre si.
Ora, há um outro modo, mais rigoroso, de entender a relação da razão com o entendimento. Ele é apresentado na exposição que se segue.
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