Alternativas socialistas – parte I

Este blog publicou recentemente duas séries de artigos sobre o renascimento e fortalecimento da ideia do socialismo democrático. Elas exploram novas possibilidades de coordenação das atividades sociais e econômicas em sociedades complexas, as quais se tornaram possíveis devido aos novos sistemas de informação surgidos das tecnologias da informática e do Big Data.

Nessa discussão sobre as possibilidades abertas à renovação do socialismo democrático há uma questão de fundo que foi muito bem apresentada pelo professor Duncan Foley da New School for Social Research de Nova Iorque.

Por isso, este autor, nesta primeira parte, explica que há dois modos básicos de estruturar o socialismo enquanto forma de organização da sociedade: de cima para baixo ou de baixo para cima. Como o socialismo democrático baseia-se crucialmente nessa segunda possibilidade, vale ler e refletir sobre o que ele diz sobre esses dois modos de coordenação social e que está em sequência.

O texto se encontra aqui:  Alternativas socialistas para o capitalismo I

Planificação na idade do algoritmo – Parte III

O blog Economia e Complexidade está publicando em três partes, sempre as segundas-feiras, uma tradução do artigo Planificação na Idade do Algoritmo de Cédric Durand e Razmig Keucheyan que saiu recentemente na revista francesa Actuel Marx.

Hoje se publica a Parte III

Nas semanas anteriores publicou-se duas notas sobre as principais contribuições críticas à possibilidade de realizar um cálculo econômico eficiente e eficaz no socialismo. Entende-se que este sistema social, abolindo ou não os mercados, baseia-se de algum modo no planejamento centralizado. A primeira foi dedicada aos aportes de Ludwig von Mises e a segunda visou os artigos mais importantes de Friedrich Hayek sobre esse tema.

Agora se ventila um artigo que retoma o debate clássico considerando o fato de que a sociedade contemporânea está cada vez mais fazendo uso dos algoritmos que operam com base em imensos bancos de dados (os Big Data). Eis que eles permitem que possam existir outras formas de coordenação da sociedade que não se valem dos mercados.

Três motivos suscitam não só a retomada do debate, mas a sua efetivação num outro nível de discussão em relação ao que ocorreu no passado: a crise de 2008 colocou de novo a viabilidade histórica do capitalismo; a possibilidade da catástrofe ecológica põe a necessidade imperiosa do planejamento; e os avanços da informática parecem abrir novas possibilidades de coordenação dos sistemas sociais.

A parte III se encontra aqui: Panificação na idade do algoritmo – Parte III

Planificação na idade do algoritmo – Parte II

O blog Economia e Complexidade está publicando em três partes, sempre as segundas-feiras, uma tradução do artigo Planificação na Idade do Algoritmo de Cédric Durand e Razmig Keucheyan que saiu recentemente na revista francesa Actuel Marx.

Hoje se publica a Parte II

Nas semanas anteriores publicou-se duas notas sobre as principais contribuições críticas à possibilidade de realizar um cálculo econômico eficiente e eficaz no socialismo. Essas críticas entendem que este sistema social, abolindo ou não os mercados, baseia-se de algum modo no planejamento centralizado. A primeira foi dedicada aos aportes de Ludwig von Mises e a segunda visou os artigos mais importantes de Friedrich Hayek sobre esse tema.

Agora se ventila um artigo que retoma o debate clássico considerando o fato de que a sociedade contemporânea está cada vez mais fazendo uso dos algoritmos que operam com base em imensos bancos de dados (os Big Data). Eis que eles permitem que possam existir outras formas de coordenação da sociedade que não se valem dos mercados – e que não requerem também o Estado.

Três motivos suscitam não só a retomada do debate, mas a sua efetivação num outro nível de discussão em relação ao que ocorreu no passado: a crise de 2008 colocou de novo a viabilidade histórica do capitalismo; a possibilidade da catástrofe ecológica põe a necessidade imperiosa do planejamento; e os avanços da informática parecem abrir novas possibilidades de coordenação dos sistemas sociais.

Como já se fez anteriormente, discutiu-se neste blog o conteúdo de um artigo de Evgeny Morozov cujo nome, traduzido, fica aproximadamente assim: Socialismo digital? O debate sobre o cálculo socialista na era dos grandes sistemas de informação (Digital socialism? The calculation debate in the age of Big Data). O artigo ora em processo de publicação é uma contribuição importante nesse mesmo sentido.

A parte II se encontra aqui: Planificação na idade do algoritmo – Parte II

Socialismo, utopia inviável? – Parte II

Dando continuidade à abordagem do tema do post da semana anterior, agora se publica uma nota sobre as contribuições de Friedrich Hayek ao debate secular sobre o cálculo econômico no socialismo. Estas se encontram nos seguintes quatro artigos: Economia e conhecimento (1936); O uso do conhecimento na sociedade (1945); O significado de competição (1946); e Competição como um processo de descoberta (1968).

Como se pode perceber, as respostas socialistas dadas ao artigo original de Mises estão sendo aqui desprezadas porque foram feitas grosso modo do ponto de vista da teoria neoclássica de equilíbrio geral – uma construção teórica que, em última análise, é irrelevante para entender não só o funcionamento real da economia capitalista, mas também para pensar o socialismo.

Hayek herdou de Mises a ideia de que o sistema econômico é um sistema complexo e que, nesse caso, não é possível supor que os agentes econômicos têm conhecimento perfeito. Ora, essa premissa orienta toda a crítica de Hayek ao socialismo. Mas o que ele entende por sistema complexo? Apenas um tipo de sistema complexo pode resolver o problema econômico da sociedade contemporânea?

De qualquer modo, esse autor argumentará seguidamente que os mercados resolvem bem, descentralizadamente, o problema social da formação do conhecimento necessário à coordenação das ações econômicas no interior do sistema capitalista. E que esse problema não pode ser solucionado satisfatoriamente no socialismo por meio do planejamento centralizado.

Hayek, no entanto, transfere o problema do conhecimento tal como ele é posto – e resolvido anarquicamente – no capitalismo para um sistema social alternativo que tem outra lógica e outra finalidade. E essa consideração abre um campo de disputa mais interessante do que aquele em que o debate tem sido travado até agora.

Indica-se na nota que cada modo de produção enfrenta um particular problema de formação do conhecimento cuja solução – que não é técnica em primeiro lugar, mas sobretudo social – faz-se necessária para o seu próprio funcionamento. Ora, se o socialismo democrático e pós-capitalista pretende ser viável, ele terá de resolver esse problema na forma específica em que se apresentar.

A nota se encontra aqui:Hayek – A competição e a rivalidade contra o socialismo

Socialismo, utopia inviável? – Parte I

Com este post iniciamos neste blog uma revisão das discussões sobre a questão do planejamento no socialismo. O primeiro escrito a ser examinado criticamente é O cálculo econômico numa nação socialista de Ludwig von Mises, publicado em 1920.

Esse artigo é marcante porque deu início ao chamado debate sobre o cálculo econômico no socialismo que ainda não terminou e que, portanto, tem quase 100 anos. Nesse texto, Mises declara simplesmente que esse cálculo se torna impossível numa forma de organização que abole a propriedade privada, o dinheiro, os mercados e, assim, os preços de mercado. E que, portanto, o socialismo fracassará.

Um seu fervoroso seguidor de nacionalidade russa, escrevendo em 1990, logo após o colapso do socialismo soviético, sintetiza assim a sua tese principal:

Ludwig von Mises demonstra, de uma vez por todas, que, sob o planejamento central socialista, não é possível o cálculo econômico e que, portanto, a economia socialista é impossível – não apenas ineficiente ou menos inovadora (…) mas realmente, verdadeiramente e literalmente impossível.

A nota que acompanha esse post pergunta simplesmente se essa tese é sustentável ou se ela pode ser considera incorreta. Ora, se a controvérsia mencionada, nascida em 1920, durou até os dias de hoje é porque muitos autores que recepcionaram o seu texto dele discordaram radicalmente.

A nota se encontra aqui: Mises – O socialismo como impossibilidade prática

Crítica da concorrência perfeita: Shaikh

Em adição ao post da semana passada que contemplou a crítica de Friedrich Hayek à noção de competição perfeita, neste post se apresenta de modo resumido a crítica de Anwar Shaikh às tradições da teoria econômica que dela se valem.

Dentro dessas tradições há aquelas que costumam adotá-la acriticamente, mas há também aquelas que julgam necessário emendá-la nas aplicações ao mundo real. Há ainda outras que buscam dar grande ênfase às supostas imperfeições que – admitem – abundam nos mercados realmente existentes.

Nenhuma delas é satisfatória para esse outro crítico da competição perfeita. A concepção que precisa ser adotada, segundo ele, apreende a competição sem idealizá-la, como competição real. E esta é uma forma de luta pela sobrevivência e pela supremacia.

Ao contrário de Hayek, Shaikh não para na metade do caminho no retorno à economia política clássica, mas assume inteiramente as suas lições na compreensão da concorrência capitalista e do capitalismo. Ele a apreende, tal como o primeiro, sob a perspectiva da teoria da complexidade do modo como esta última se desenvolveu contemporaneamente. Mas, mas vai muito mais longe do que Hayek na construção de uma teoria econômica capaz de explicar os funcionamentos atuais desse modo de produção.

A diferença crucial entre esses dois autores é que, para o primeiro, a competição é um processo virtuoso de descoberta das informações que são necessárias ao bom funcionamento dos mercados, e, para o segundo, ela é sobretudo uma luta sem trégua e sem qualquer piedade das empresas, umas com as outras, para obter a maior parcela de lucro possível e de todas elas para o rebaixamento dos salários.

O texto está aqui: Crítica da concorrência perfeita – Shaikh

Crítica da concorrência perfeita: Hayek

Pretende-se visitar neste blog duas críticas importantes à concepção de concorrência perfeita, procurando mostrar os seus pontos fracos e fracos e a sua pertinência ou impertinência teórica. Neste primeiro post, se analisará as teses de Friedrich Hayek e, no próximo, se apresentará as de Anwar Shaikh.

Ambos esses autores, de uma forma bem convincente, demonstram a inadequação dessa concepção central da teoria neoclássica para compreender o processo do mercado enquanto tal. Mas apenas um deles tenta explicar por que a ideia da concorrência perfeita persiste como paradigma na teoria econômica contemporânea.

De qualquer modo, devido ao seu interesse teórico, examina-se em sequência dois artigos muito interessantes do primeiro desses dois autores: O significado de concorrência, que Hayek escreveu em 1946, e Competição como um processo de descoberta, que produziu em 1966.

O argumento central encontrado nesses textos diz que a noção de concorrência perfeita expurga do âmbito da ciência econômica a função, segundo ele, mais importante da concorrência.  É por meio dela que são gerados e descobertos os fatos necessários para que as trocas aconteçam. Cumpre, pois, um papel essencial no processo de auto-organização dos mercados realmente existentes. 

Mesmo se a persuasiva crítica de Hayek é conhecida há mais de sessenta anos, ela não parece ter influenciado os rumos da teoria econômica dita “mainstream”. Eis que não conseguiu fornecer – especula-se aqui – uma alternativa analítica que respondesse ao caráter instrumental da teoria econômica contemporânea e que, ao mesmo tempo, apresentasse o sistema econômico como virtuoso (o que faz).

A nota está aqui: Crítica da concorrência perfeita – Hayek

Macrodinâmica na tradição clássica – Parte II

Por meio deste post está-se publicando a segunda parte de uma versão em português da macrodinâmica clássica apresentada por Anwar Shaikh no capítulo 13 de seu livro Capitalism – competition, conflict, crises, de 2016. O objetivo é difundir um modo de enxergar o funcionamento do sistema econômico como um todo que difere expressivamente da macrodinâmica keynesiana e pós-keynesiana.

O texto contém partes simplesmente traduzidas do autor do modelo, assim como parte escritas por este divulgador. Por isso, este último assume responsabilidade pelo texto, mas não reivindica qualquer originalidade. A meta é fazer uma apresentação do modelo em português com algum grau maior de didatismo. E incentivar os eventuais interessados a estudar o texto original.

O escrito está aqui: Macrodinâmica na tradição clássica – Parte II

Uma crítica metodológica à Michael Roberts

Como se sabe, manipulando as identidades da contabilidade nacional é possível, sob a hipótese de que os salários são gastos e que todo lucro é poupado, chegar à conclusão de que os lucros, numa economia fechada e sem governo, são exatamente iguais aos investimentos.

Ora, em sequência, é possível também perguntar quem determina quem? Qual o sentido da causação: dos lucros para os investimentos ou dos investimentos para os lucros?

Neste post se argumenta que esse modo de pensar envolve um grande equívoco metodológico. No qual se cai porque se quer apreender apenas as relações externas entre os fenômenos e, ao fazê-lo, passa-se a empregar “naturalmente” um raciocínio mecânico.

No post se argumenta que o raciocínio mecânico não convém a um objeto complexo como o sistema econômico. E que o modo de pensar correto nessa situação é trabalhar com a categoria de ação recíproca. A produção determina a oferta agregada, mas apenas torna possível a demanda agregada. E esta pode se retrair ou ser impulsionada por moto próprio ou por ação governamental, aproveitando, assim, menos ou mais a capacidade de produção.

O texto se encontra aqui: Uma critica a Michael Roberts em seu questionamento da Teoria Monetária Moderna

Equilíbrio: fundamento ou fenômeno emergente?

capa-da-revista-do-niepNeste artigo, publicado na revista Marx e o Marxismo do NIEP, quer-se mostrar que há dois modos bem distintos de apreender o movimento do sistema econômico que se organiza com base na centralidade da relação social de capital e sobre o qual se levanta e se desenvolve a sociedade moderna. Mesmo que uma delas seja plenamente dominante e que a outra permaneça quase esquecida, sustenta-se que é muito importante apreendê-las  como opostas, como antípodas, como rivais. Uma delas, para apreender a complexidade constitutiva desse sistema, toma o equilíbrio com um fundamento e, assim, trata o seu dinamismo como uma questão subordinada. A outra, ao contrário, assume que essa complexidade se desenvolve por meio de uma dinâmica turbulenta em que a ordem se configura por meio da desordem, de tal modo que o equilíbrio aparece apenas como um fenômeno emergente.

O artigo se encontra aqui: Equilíbrio: fundamento ou fenômeno emergente?