A governança macroeconômica

A macroeconomia dominante não quer ser mais do que uma caixa de ferramentas para serem usadas na governança do capitalismo. E esse caráter está presente na maneira que tem sido apresentada. É isto o que mostra, por exemplo, um artigo recente em The Economist intitulado A pandemia da convid-19 está forçando um repensar da macroeconomia. Ora, a nota que se segue faz uma crítica desse saber: Macroeconomia

Como se sabe, o saber sobre o funcionamento do sistema econômico adotou esse nome depois que John Maynard Keynes publicou a sua Teoria geral do emprego, do juro e da moeda, em 1936. Se esse autor não desprezou o caráter performativo da linguagem teórica criada, não se pode acusá-lo de falta de realismo científico, de despreocupação com a compreensão do capitalismo. Dada a urgência do momento histórico, julgou que era preciso apreender os processos econômicos reais. Aqui se quer mostrar, entretanto, que a macroeconomia contemporânea, pós-II Guerra Mundial, adquiriu um caráter centralmente manipulatório:  por um lado, pretendeu fornecer instrumentos de política econômica para a governança do sistema, por outro, quis conformar as mentes dos economistas para fazê-los pensar de um modo automático, adequado à realização de objetivos que lhes são prescritos. Alguns, poucos, resistem!

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Macroideologia econômica

Neste post apresenta-se um comentário crítico de um pequeno texto de Simon Wren-Lewis, professor de Macroeconomia e Metodologia da Economia da Universidade de Oxford, Inglaterra: “Erros e ideologia em Macroeconomia” que foi publicado em 8 de janeiro de 2012 em seu blog na internet (Mainly Macro).

When-Lewis pensa os eventos macroeconômico da perspectiva da novo-keynesiana e, por isso, diverge  daqueles economistas que os analisam da ótica novo-clássica. Em seu post ele faz uma crítica à Robert Lucas e à John Cochrane, ambos da Universidade de Chicago, EUA. Esses dois autores, segundo ele, cometem um erro elementar quando pensam que o gasto público não tem o poder de elevar a renda nacional porque aquele montante que o governo gasta a mais é compensado por uma redução do gasto do setor privado.

O economista inglês, então, se pergunta: por que autores tão competentes em Economics cometem tal barbaridade. Primeiro, ele considera a hipótese de que eles não estejam bem esclarecidos sobre os resultados da teoria novo-keynesiana. No entanto, faz essa suposição apenas para descartá-la, sugerindo então que o problema se encontra na ideologia que professam. Como aqueles dois autores não apreciam a intervenção do Estado na regulação macroeconômica, eles se tornam ideólogos do mercado perfeito e, por isso, cometem tal erro elementar em teoria econômica. Mas qual seria o problema da teoria novo-keynesiana?

O texto se encontra aqui: Macroeconomia e ideologia

Inflação na tradição clássica – I

Publicou-se neste blog, em 25 de março deste ano, um artigo crítico da teoria cartalista do dinheiro (assim como, da teoria metalista). A argumentação lá apresentada cingiu-se ao estritamente conceitual: como lhe falta uma compreensão rigorosa da forma valor no capitalismo, o cartalismo cai no convencionalismo, acreditando, assim, que o dinheiro é uma pura criatura do Estado.

Mas esse artigo não apresentou uma crítica técnica dessa ilusão – uma ilusão que a própria circulação de mercadorias cria – na apreensão do dinheiro. Este último ponto será tratado na sequência de duas notas que encaminham uma teoria da inflação na tradição clássica e que se vale da compreensão do dinheiro de Marx. Pois essa teoria mostra, de modo não convencional, como a expansão da oferta monetária de dinheiro fiduciário se decompõe em aumento da produção e/ou aumento dos preços.

Neste post traz-se ao leitor a primeira dessas duas notas. Ela mostra, em primeiro lugar, que a inflação, tal como hoje se apresenta no mundo como um todo, é um fenômeno ligado ao abandono do padrão-ouro que ocorreu na década dos anos 1930 em virtude de uma estagnação que durou até o começo da II Guerra Mundial.  Em segundo lugar, ela indica como e porque a inflação contemporânea pode ainda ser compreendida no interior da teoria do dinheiro que se encontra especialmente no terceiro capítulo de O capital. Em terceiro lugar, ela introduz a teoria de inflação desenvolvida por Anwar Shaikh e que está posta em sua magna obra, Capitalismo – Competição, conflito e crise, de 2016.

O texto se encontra aqui: Uma teoria da inflação na tradição clássica – Parte I

Para 2020: sombras e sombrios

Neste post apresenta-se criticamente um pequeno artigo bombástico – e, talvez, por isso mesmo – muito lido por pessoas interessadas em economia política internacional e/ou nos rumos da economia norte-americana ou ainda no sistema econômico mundial. Ele foi escrito por Nouriel Roubini, no caso em parceria com Brunello Rosa. Eis o seu título: Os elementos causadores de uma recessão e crise financeira em 2020.

O folheto de somente três páginas contém muitas sombras, sombrios e assombrações. Foi publicado no portal Project Syndicate, em 13 de setembro de 2018. Nele, esses dois autores fazem uma previsão para a economia capitalista mundial que ainda está centrada nos Estados Unidos.  Segundo eles, sobrevirá inexoravelmente uma forte crise – ou mesmo uma crise catastrófica – em 2020, ano da próxima eleição presidencial na norte-américa. 

Roubini ficou mais conhecido depois que antecipou com boa precisão a crise que eclodiu no mercado imobiliário dos Estados Unidos, em 2008.  Ele foi capaz de mostrar a sua extensão e a sua gravidade mesmo antes que a bolha de crédito estourasse e espalhasse o seu poder destruidor para o resto do mundo. No entanto, no post que aqui se publica, sem deixar de reconhecer os seus méritos como economista e como marqueteiro de si mesmo, faz-se primeiro uma crítica ao seu estilo de fazer previsões. Eis que elas se destinam ao mercado consumidor de projeções econômicas e, por isso, está escrita num estilo excessivamente afirmativo. Ora, nesse caso, como em muito outros, como se sabe, a fama vale dinheiro.

A nota se encontra aqui: Para 2020 – sombras e sombrios

Macroeconomia Atônita

De volta para o futuro! Sim, mas que futuro? Dois macroeconomistas consagrados na academia norte-americana, Olivier Blanchard e Lawrence Progress and confusionSummers, juntaram-se para escrever uma proposta de reformulação das práticas de política e de regulação econômica e, talvez (e isto não está claro), de mudança da macroeconomia atualmente ensinada nos cursos ditos mainstream de Economics.

Eis o seu título: Repensando a política de estabilização. De volta para o futuro. Ora, quando se lê essa alvitrada atentamente, vê-se que eles estão confusos teoricamente. Pois, eles querem salvar a tradição neoclássica a qual pertencem e, ao mesmo tempo, salvar o capitalismo que agora voa baixo sob o comando do capital financeiro.

A proposta, pois, enseja um comentário crítico que, no entendimento dos economistas do sistema, talvez figure como mero blábláblá. Porém, os dois “gênios” não teriam cometido inconsistências, não teriam caído em vulgaridades? A nota que foi escrita para apontá-las está publicada aqui  A macroeconomia, sim, está atônita e, ao mesmo tempo, no Outras Palavras.

Demanda e oferta para incompetentes

Na maior parte do mundo e mesmo nos países ditos socialistas se ensina a microeconomia tal como foi img074desenvolvida pela teoria neoclássica. Ademais, grande parte do que se leciona sob o rótulo de macroeconomia funda-se também no modelo de equilíbrio geral que a cientificidade dominante põe como o arquétipo da boa teoria econômica. Ora, assim, se passa a pensar o sistema econômico real com base em uma noção positiva de equilíbrio que se caracteriza por afirmar o estado de repouso como o estado normal (pelo menos como forte tendência) de seu funcionamento.

Mas nem sempre, entretanto, foi assim. A teoria clássica e Marx, bem ao contrário, afirmam antes a anarquia e o desequilíbrio como o estado constante de seu evolver turbulento, um evolver complexo que põe uma certa ordem por meio apenas de permanente desordem. Por isso, essas teorias empregam noções negativas de equilíbrio: eis que permitem pensar o sistema num estado puro que ele só produz como resultado de intermináveis oscilações irregulares que se compensam ao longo do tempo.  

Aqui se desafia esse consenso e se busca mostrar que teoria neoclássica, mesmo se se apresenta como uma construção teórica que pode reivindicar a exatidão formal, não é rigorosa – ao contrário, sustenta-se numa pequena nota que até mesmo as suas noções usuais de oferta e demanda são artificiosas e mal fundamentadas.

A nota se encontra aqui:  Oferta e demanda para incompetentes

Marx e Keynes

capa-revista-da-sepO artigo que aqui se publica defende a tese de que há três subcampos radicalmente distintos entre si no campo da macroeconomia. E que eles estão demarcados pelas obras de Marx e Keynes. Sustenta, por isso, que duas clivagens os separam: a Lei de Say e a meta objetiva do sistema econômico. Há o subcampo da macroeconomia walrasiana em que se acolhe a Lei de Say. Há o subcampo da macroeconomia keynesiana em que se rejeita a Lei de Say para aceitar o princípio da demanda efetiva. Tal como no primeiro, aí se toma a produção de valores de uso como a meta própria do sistema econômico. Há o subcampo da macroeconomia marxiana em que se recusa tanto a lei dos mercados quanto o princípio da demanda efetiva. Para esta última, o próprio modo de funcionamento da sociabilidade capitalista põe o capital como um “sujeito automático”, de tal maneira que a acumulação de capital devém a meta própria do sistema econômico.

O texto esta aqui: como-marx-e-keynes-demarcam-o-campo-da-macroeconomia

 

Da macroeconomia

Post MacroeconomiaQuestionando a macroeconomia da “grande recessão”

Examinam-se neste artigo as teses de alguns macroeconomistas sobre a “grande recessão” que se seguiu à crise de 2008. Como esse evento econômico é um marco muito significativo na evolução recente do capitalismo, ele se apresenta como uma boa base para confrontar os diversos modos teóricos de pensar o funcionamento desse sistema como um todo. Assim, discute-se em sequência as teses de cinco economistas sobre as suas causas: dois deles, Ben S. Bernanke e Larry Summers, pertencem à corrente ortodoxa circunscrita pela teoria neoclássica; três outros são tidos como heterodoxos; dentre estes últimos, tem-se Steve Keen, que é pós-keynesiano, assim como Maria Ivanova e Andrew Kliman, que são marxistas.

O artigo foi publicado na Revista do NIEP: aqui