A governança macroeconômica

A macroeconomia dominante não quer ser mais do que uma caixa de ferramentas para serem usadas na governança do capitalismo. E esse caráter está presente na maneira que tem sido apresentada. É isto o que mostra, por exemplo, um artigo recente em The Economist intitulado A pandemia da convid-19 está forçando um repensar da macroeconomia. Ora, a nota que se segue faz uma crítica desse saber: Macroeconomia

Como se sabe, o saber sobre o funcionamento do sistema econômico adotou esse nome depois que John Maynard Keynes publicou a sua Teoria geral do emprego, do juro e da moeda, em 1936. Se esse autor não desprezou o caráter performativo da linguagem teórica criada, não se pode acusá-lo de falta de realismo científico, de despreocupação com a compreensão do capitalismo. Dada a urgência do momento histórico, julgou que era preciso apreender os processos econômicos reais. Aqui se quer mostrar, entretanto, que a macroeconomia contemporânea, pós-II Guerra Mundial, adquiriu um caráter centralmente manipulatório:  por um lado, pretendeu fornecer instrumentos de política econômica para a governança do sistema, por outro, quis conformar as mentes dos economistas para fazê-los pensar de um modo automático, adequado à realização de objetivos que lhes são prescritos. Alguns, poucos, resistem!

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Crítica do Metalismo e do Cartalismo

André Lara Resende tem escrito artigos para defender a  Teoria Monetária Moderna, conhecida pela sua sigla em inglês, MMT. Há uma versão popular, A crise da macroeconomia, que foi publicada no jornal Valor, e uma versão acadêmica Consenso e Contrassenso: déficit, dívida e previdência, que foi publicada como “artigo para discussão” no centro de pesquisa Casa das Garças.

Segundo ele, assim como para muitos economistas sofisticados do centro do capitalismo, a teoria macroeconômica está em crise. “A realidade” – diz ele – “sobretudo a partir da crise financeira (sic!) de 2008 nos países desenvolvidos, mostrou-se flagrantemente incompatível com a teoria convencionalmente aceita”. Clama, então, para uma renovação radical dessa disciplina, sabendo também que essa teoria dita moderna origina-se do velho cartalismo proposto por Georg F Knapp, em 1905, em seu livro The State Theory of Money. A lei do progresso manda, de qualquer modo, falar em algo novo:

O primeiro pilar do novo paradigma macroeconômico, sua pedra angular, é a compreensão de que a moeda fiduciária contemporânea é essencialmente unidade de conta [ou como também se poderia se dizer, padrão de preços]. Assim como o litro é uma unidade de volume, a moeda é uma unidade de valor. 

Pois bem, o volume (algo quantitativa e qualitativamente determinado) é o conteúdo do litro, logo o valor (algo também, supostamente, quantitativa e qualitativamente determinado) é o conteúdo da moeda (por exemplo, do dólar, do real, da rúpia, etc). Qualquer estudante de Física sabe o que é o volume, mas qualquer estudante de economia sabe o que é o valor? O que é o valor, Dr. André? De todo modo, ele completa: “O valor total de moeda na economia é o placar da riqueza nacional” – recém produzida –  deve-se acrescentar. “No jargão da economia – continua -, diz-se que a moeda é endógena, criada e destruída à medida que atividade econômica e a riqueza financeira se expandem ou se contraem”. Mas qual seria, Dr. André, a medida da riqueza já que “preço” é expressão dessa medida?

Bulindo com essa dúvida crucial, neste post argumenta-se, com base na tradição brasileira de crítica da economia política, que tanto o metalismo quanto o cartalismo são ilusões criadas pela aparência da circulação de mercadoria no sistema  capitalista. O físico não confunde o litro  (forma aparente de um determinado volume) com o volume, mas o economista costuma confundir o preço com o valor.

O texto está aqui: https://eleuterioprado.blog/2020/12/31/critica-das-visoes-metalista-e-cartalista-do-dinheiro-no-capitalismo/