Artigo de Radhika Desai – Tradução do blog
Talvez seja auspicioso que a seriedade da ameaça do coronavírus tenha atingido a maior parte do mundo ocidental nos Idos de Março, justamente no momento tradicional do cálculo das dívidas pendentes na Roma antiga. A semana anterior havia sido uma verdadeira montanha-russa. A Organização Mundial da Saúde (OMS) finalmente declarara o contágio do vírus como uma pandemia; os governos, em sequência, apressaram-se em dar uma resposta. O vírus passou a dominar o ciclo das novas notícias, surgiram uma multiplicidade de informações erradas e mesmo de desinformações nas mídias sociais. As cidades e até mesmo países inteiros foram fechados, os mercados de todos os tipos imagináveis despencaram e as empresas anunciaram demissões e interrupções da produção.
Ficou claro que, quaisquer que fossem as origens, os caminhos e a letalidade do vírus, agora chamado de Covid-19, iria testar seriamente o capitalismo ocidental em seus mecanismos de enfrentamento. Quase certamente, eles seriam surpreendidos e falhariam. Afinal, problemas e desequilíbrios acumularam-se no sistema capitalista ocidental ao longo das últimas quatro décadas, aparentemente desde que tomou o caminho neoliberal para sair da crise da década dos anos 1970. Seguiu em frente desde então, sem levar em consideração o potencial de problemas e crises que engendrava.
Durante essas décadas, tal como um analista importante mostrou, o mundo capitalista ocidental passou a ganhar tempo, por meio da acumulação de dívidas, tanto públicas quanto privadas. Buscava, assim, com os seus fracos e estreitos mercados, evitar o acerto de contas final, um problema que o neoliberalismo, com sua implacável pressão descendente sobre os salários reais, apenas exacerbava.
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