Consequências distributivas do neoliberalismo na Rússia

Autor: Ahmad Seyf [1]

Seja qual for a aparência atraente que seja apresentada, o neoliberalismo consiste em um conjunto de políticas que buscam impor as regras do mercado à totalidade vida humana. Em outras palavras, as regras do mercado são, na verdade, a mercantilização de tudo o que é necessário e exigido para atender às necessidades humanas. Ao confiar demais nos possíveis benefícios do desempenho do mercado, os defensores dessas políticas não prestam atenção suficiente ao fato de que o resultado da implementação dessas políticas é a consolidação da tirania absoluta do dinheiro sobre todos os aspectos da vida humana.

Ou seja, não está claro o que aqueles que não têm dinheiro ou não têm dinheiro suficiente devem fazer para atender às suas necessidades em tal sistema! Porque a realidade do que existe e é promovido neste sistema é a crença de que se pode comer apenas quanto se paga ou, em outras palavras, sob o sistema capitalista, ninguém recebe um almoço grátis.

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Quem está vencendo a guerra comercial iniciada por Trump?

Ben Norton [1] – Blog do Substack – 02/11/2025

A economia dos EUA é vulnerável e muito mais dependente da China do que vice-versa. A prova disso é a trégua na guerra comercial de um ano que Donald Trump estabeleceu em sua reunião com o presidente Xi Jinping. Eis que Trump, como ficará demonstrado nessa postagem, está claramente perdendo a guerra comercial com a China

Trump realizou uma importante reunião com o presidente da China, Xi Jinping, na cidade sul-coreana de Busan, em 30 de outubro. Lá, eles chegaram a um novo acordo, que equivalia a uma trégua de um ano. O governo dos EUA concordou em suspender a maioria das medidas punitivas que havia imposto à China desde abril de 2025, essencialmente trazendo a situação de volta ao que era em janeiro, quando Trump assumiu o cargo para seu segundo mandato.

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A desigualdade nos EUA (Parte V)

Autor: Paul Krugman.

Eis as quatro primeiras postagem sobre o tema: Parte I, Parte II, Parte III e Parte IV.

A minha frase favorita do filme Wall Street, saído em 1987, aparece quando Gordon Gekko ridiculariza o personagem Charlie Sheen por suas limitadas ambições: “Não estou falando de US $ 400.000 por ano trabalhando duro em Wall Street, voando de primeira classe e vivendo confortavelmente. ” Ora, ajustado pela inflação, 400 mil, em 1987, equivalem a cerca de US $ 1,1 milhão agora.

O que essa frase diz é que, mesmo em 1987, bem no início do grande aumento da desigualdade pós-1980, muitas pessoas que operavam no setor de finanças – ou seja, que trabalhavam em Wall Street – já recebiam quantias muito grandes e que, por isso, algumas delas estavam acumulando fortunas extraordinárias.

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A desigualdade nos EUA (Parte IV)

Autor: Paul Krugman – As três primeiras postagem então aqui: Parte I, a Parte II e  a Parte III.

Quem disse isto que se segue? Se houver neste país homens suficientemente grandes para tomar o governo dos Estados Unidos, eles o tomarão. O que temos que determinar agora é se somos suficientemente grandes, se somos homens com larga grandeza, se somos suficientemente livres, para tomar posse novamente do governo que é nosso.

Não, não foi Bernie Sanders ou Alexandria Ocasio-Cortez. É uma citação de The New Freedom, ou seja, da plataforma de campanha de Woodrow Wilson na eleição presidencial de 1912.

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A desigualdade nos EUA (Parte III)

Autor: Paul Krugman. A Parte I está aqui e a Parte II está aqui.

Havia ficado estabelecido que a terceira parte da série de pequenos artigos sobre desigualdade nos Estados Unidos se concentraria no aumento das fortunas gigantes, algo que vem ocorrendo desde 2000. Contudo, agora vi que essa promessa precisa ser quebrada, por dois motivos. A primeira é que a pesquisa ainda está sendo feita.

A segunda é que surgiu algo mais atual para ser discutido. Eis que o Stone Center on Socio-Economic Inequality realizou seu workshop anual e ele versou sobre os números da desigualdade. O seminário contou com apresentações de pesquisadores e estudiosos mais jovens, mas também de alguns com mais idade. Aquele que aqui escreve foi convidado a dar uma palestra, relativamente não técnica, sobre coisas que atualmente estão em circulação.

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Uma história da direita política

Autor: Matthew McManus [1] (Terceira Parte – A primeira parte está aqui e a segunda está aqui.

Ao longo da história do pensamento de direita, diferentes figuras tentaram fundamentá-lo de maneiras variadas, algumas das quais são interessantes, contraditórias e às vezes pouco sensatas. Na mesma época em que Leo Strauss e Harry Jaffa estavam ressuscitando o conceito de direito natural e condenando o historicismo, Michael Oakeshott e Lord Patrick Devlin argumentavam que as raízes do conservadorismo britânico estavam no respeito e na veneração de uma longa história de tradições. Isso é precisamente o que tornou tais intelectuais bem  compreensíveis para o “homem no ônibus de Clapham”, já que esse tipo tinha pouco interesse em Platão ou Nietzsche, mas muita vontade de restringir a homossexualidade.

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Ser de direita em política

Autor: Matthew McManus [1] (Primeira Parte)

O que significa ser de diteita em política?

É a adesão que define a condição da sociedade e que constitui a sociedade como algo maior do que o “agregado de indivíduos”, tal como a mente liberal a percebe. Os conservadores são céticos em relação às reivindicações feitas em nome do valor do indivíduo, se elas entram em conflito com a fidelidade necessária à manutenção da sociedade. E é assim,  mesmo se se deseja que o Estado (no sentido do aparato do governo) mantenha um controle bem frouxo das atividades dos cidadãos enquanto indivíduos. Pois, a individualidade é também um artefato, uma conquista que depende da vida social das pessoas.

(Roger Scruton – O Significado do Conservadorismo)

A posição de direita na história moderna

Desde pelo menos a eleição de Trump em 2016, a questão do que constitui a direita em política – e o que a distingue do liberalismo e do socialismo – ganhou importância renovada. Na direita política [norte-americana], o termo “liberal” tem sido frequentemente usado em sentido pejorativo, como se fosse um insulto – eis que tem apenas menos veneno do que o termo “socialista”. No entanto, muitos intelectuais proeminentes da direita política (…) orgulhosamente se identificam como “liberais clássicos”, especialmente quando fazem discursos inflamados sobre alguma suposta doutrinação de estudantes universitários.

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O neoliberalismo morreu?

Autor: Eleutério F. S. Prado [1]

A questão é bem controversa. Segundo Nancy Fraser, o neoliberalismo não morreu; contudo, passou da fase progressista para uma fase reacionária (veja-se a nota Depois do neoliberalismo). Já para Branko Milanovic o mundo está entrando em uma nova era, mas o neoliberalismo não chegou ao fim. Segundo ele, os países ricos adotam agora uma política com dupla face:  abandonam a globalização neoliberal internacionalmente, mas continuam a promover um projeto neoliberal internamente (veja-se a nota O que vem depois da globalização?).

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A desigualdade nos Estados Unidos (Parte II)

Autor: Paul Krugman – A primeira parte está aqui.

A importância do poder do trabalhador [1]

Após a Segunda Guerra Mundial, as disparidades de renda na América permaneceram relativamente estreitas por mais de uma geração. Alguns eram ricos e muitos eram pobres, mas não havia a extrema desigualdade, a fragmentação econômica e a guerra de classes tal como veio a existir depois.

Então, começando por volta de 1980, a desigualdade aumentou, chegando a níveis incrivelmente altos tal como se vê atualmente. Como ficou documentado na postagem anterior (Parte I), não apenas o 1% superior na distribuição de renda se afastou dos 99% restantes, mas dentro do 1% superior o 0,1% superior, o 0,01% superior e o 0,001% superior também se afastaram daqueles que ganham menos do que eles.

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A desigualdade nos Estados Unidos (Parte I)

Autor: Paul Krugman

Por que os ricos ficaram cada vez mais ricos?

Entre a Segunda Guerra Mundial e a década de 1970, as disparidades de renda na América do Norte eram relativamente estreitas. Algumas pessoas eram ricas e muitas eram pobres, mas a desigualdade geral entre os americanos em termos de riqueza, renda e status era baixa o suficiente para que o país tivesse uma sensação de prosperidade compartilhada. As coisas são muito diferentes hoje, pois a sociedade americana é assolada por extrema desigualdade, fragmentação econômica e guerra de classes.

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