Da política econômica inominável

Neste post publica-se uma nota que defende o desenvolvimentismo e que se caracteriza, sobretudo, por fazer aflorar uma intensa – e doída – ironia. Eis que faz a resenha de um estudo recente sobre as políticas econômicas que efetivamente produziram e que podem produzir o alçamento (catching up) e que, de modo inesperado, recebeu a chancela do FMI.

A nota aqui traduzida foi publicada originalmente em inglês, no blog The Political Economy of Development. Nela, Nick Johnson discute um artigo de Cherif e Hasanov cujo título, traduzido, fica assim: O retorno de uma política que não deve ser nomeada, princípios de política industrial.

A nota é ventilada neste blog porque essa política, no Brasil, tornou-se de fato “inominável”. Não por demérito próprio, mas por causa do demérito de seus críticos atrozes. Eles preferem, no fundo, que o País permaneça na condição de nação “liberal-dependente”.

A principal conclusão que a nota quer mostrar se encontra numa citação. E esta diz respeito à condição necessária, mas não suficiente, para que uma política desenvolvimentista possa ser implementada. Esta condição é, ademais, acaciana. Para que ocorra é preciso, sim, um “acordo nacional”: “Uma combinação de poder e de instituições mutuamente compatíveis e, ademais, que seja sustentável em termos de viabilidade econômica e política”.

Ora, é justamente esse “acordo nacional” que falta de modo inelutável, pois se tornou (talvez?) impossível num país que passou por uma desindustrialização e financeirização como o Brasil nos últimos 40 anos. Uma alternativa precisa, por isso, ser criada… mas esta tem de ser verdadeiramente democrática (os socialismos que existiram ou que ainda existem não podem, portanto, ser tomados como modelos).

A nota está aqui: A política que não deve ser nomeada

Retrocesso na esperança Brasil?

Neste post publica-se um artigo curto de Pierra Salama, professor emérito da Universidade de Paris-Norte, estudioso da América Latina e um profundo conhecedor do desenvolvimento da economia capitalista no Brasil.

Neste artigo, ele expressa claramente a sua preocupação sobre o que vem acontecendo nessa economia pelo menos desde 1990 e sobre o que pode acontecer daqui em diante. O horizonte, segundo ele, está bem turvado.

A situação mundial contém muitas incertezas e a situação interna do Brasil parece bem instável. Por isso, ele julga muito difícil fazer previsões sobre o que pode vir a acontecer no País nos próximos anos.

De qualquer modo, examina dois tópicos cruciais: o andamento da repartição da renda e o processo de desindustrialização ora em curso. A evolução nos últimos anos dessas duas variáveis chaves, segundo ele, não contribuiu para forjar uma base sólida que permita alcançar um futuro brilhante.

As reformas ora em andamento não são propriamente inéditas em termos mundiais. Eis que não tem tido sucesso em promover o desenvolvimento econômico em outros países. Se, entretanto, aquelas que estão agora na pauta não forem feitas – dizem os seus defensores – o pais vai afundar numa crise profunda.

Ocorre que várias reformas liberalizantes já tem sido implementadas desde os anos 1990 no Brasil, mas os resultados anunciados e prometidos nunca apareceram. Esse tipo de fracasso não tem impedido, entretanto, que possam ser prometidos de novo tendo em vista a aprovação das reformas ora em pauta de discussão.

Parece que essa reformas ou “sacos de maldades” não são viabilizáveis por meio de consenso ou quase-consenso racionais, tal como se espera numa democracia normal, mas apenas criando choques e alimentando medos pânicos de que o futuro será desastrosos sem elas. Como se sabe, esse tipo de prática política compromete a democracia – mas esta última não parece ser um valor significativo para certos grupos radicais de direta que coqueteiam com a ditadura.

O texto está aqui: Retrocesso na esperança Brasil?

Voo da galinha

A depressão da economia capitalista no Brasil, como duramente se sabe, persiste já por três longos anos.  Neste início de 2017, assombrados com as suas consequências sociais e políticas, as forças golpistas se mostram fortemente ansiosas para ver o seu fim e, assim, o início de uma recuperação.

Alguns economistas que atuam como gargantas do golpe – e funcionários de sua legitimação – anunciam apressados que a retomada é “pra já”. Sabe-se, na verdade, em geral, que as crises do capitalismo criam elas próprias as condições de sua superação porque, ao reduzirem os salários reais, ao destruírem os capitais ineficientes, etc., engendram uma recuperação da taxa de lucro. Ora, essa “purga” é necessária, mas não se afigura suficiente para a retomada dos investimentos. É preciso que surja também, no horizonte do cálculo capitalista, uma onda de novas oportunidades de lucro.

Ora, na economia brasileira atual, há ainda muitas empresas excessivamente endividadas e com excesso de capacidade ociosa. Ademais, o câmbio voltou a ficar valorizado e as taxas de juros cobradas nos empréstimos bancários às empresas produtoras de mercadorias são elevadíssimas. Ademais, um impulso de recuperação que poderia vir do investimento público encontra-se obstado porque o orçamento do Estado está constrangido a gerar excedentes financeiros.  Em consequência, o que está de fato no horizonte da acumulação de capital no Brasil é, por um lado, a continuidade da desindustrialização e, por outro, uma relativa estagnação da economia mundial.  Diante desse quadro econômico – ao qual se soma a severa instabilidade do quadro político –, qual seria a verdadeira perspectiva da economia capitalista no Brasil?

Indo ao fundo da questão, qual seria a perspectiva das classes sociais que se enfrentam no interior dessa “economia” gerenciada por economistas arrogantes que se orgulham de saber “Economics”? Segundo Luiz Filgueiras, professor da UFBA, no artigo que aqui se republica, diante do aprofundamento em curso das reformas neoliberais, os trabalhadores em geral devem esperar um agravamento das dificuldades para se reproduzirem enquanto tais, para ganharem uma vida às vezes bem miserável. E os capitalistas, “cheios de importância, sorrisos satisfeitos e ávidos por negócios”, devem esperar, no máximo e lentamente, um retorno do voo da galinha.

O artigo encontra-se aqui: Padrão de desenvolvimento e a natureza estrutural do Voo da Galinha