A crise do capitalismo formalmente democrático

Autor: Michael Roberts

The next recession blog – 12/02/2022

Em seu último livro, o colunista do FT e guru keynesiano Martin Wolf parte da premissa de que capitalismo e democracia andam juntos como uma mão em uma luva. Mas ele está preocupado: “vivemos em uma época em que as falhas econômicas abalaram a fé no capitalismo global. Alguns agora argumentam que o capitalismo é melhor sem democracia; outros que a democracia é melhor sem o capitalismo”.

No entanto, em seu livro, Wolf afirma que, embora “o casamento entre o capitalismo e a democracia tenha se tornado preocupante”, qualquer “divórcio seria uma calamidade quase inimaginável”. Apesar dos passos vacilantes do capitalismo no século XXI: desaceleração do crescimento, aumento da desigualdade, desilusão popular generalizada, o “capitalismo democrático“, como ele chama o sistema da relação de capital, “embora inerentemente frágil, continua sendo o melhor sistema que conhecemos para o florescimento humano”.

Wolf define “democracia” como “sufrágio universal, democracia representativa, eleições livres e justas; participação ativa das pessoas, como cidadãos, na vida cívica; proteção dos direitos civis e humanos de todos os cidadãos igualmente; e um estado de direito que vincula igualmente todos os cidadãos”. Por capitalismo, “quero dizer uma economia na qual os mercados, a competição, a iniciativa econômica privada e a propriedade privada desempenham papéis centrais”.

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Retrocesso na esperança Brasil?

Neste post publica-se um artigo curto de Pierra Salama, professor emérito da Universidade de Paris-Norte, estudioso da América Latina e um profundo conhecedor do desenvolvimento da economia capitalista no Brasil.

Neste artigo, ele expressa claramente a sua preocupação sobre o que vem acontecendo nessa economia pelo menos desde 1990 e sobre o que pode acontecer daqui em diante. O horizonte, segundo ele, está bem turvado.

A situação mundial contém muitas incertezas e a situação interna do Brasil parece bem instável. Por isso, ele julga muito difícil fazer previsões sobre o que pode vir a acontecer no País nos próximos anos.

De qualquer modo, examina dois tópicos cruciais: o andamento da repartição da renda e o processo de desindustrialização ora em curso. A evolução nos últimos anos dessas duas variáveis chaves, segundo ele, não contribuiu para forjar uma base sólida que permita alcançar um futuro brilhante.

As reformas ora em andamento não são propriamente inéditas em termos mundiais. Eis que não tem tido sucesso em promover o desenvolvimento econômico em outros países. Se, entretanto, aquelas que estão agora na pauta não forem feitas – dizem os seus defensores – o pais vai afundar numa crise profunda.

Ocorre que várias reformas liberalizantes já tem sido implementadas desde os anos 1990 no Brasil, mas os resultados anunciados e prometidos nunca apareceram. Esse tipo de fracasso não tem impedido, entretanto, que possam ser prometidos de novo tendo em vista a aprovação das reformas ora em pauta de discussão.

Parece que essa reformas ou “sacos de maldades” não são viabilizáveis por meio de consenso ou quase-consenso racionais, tal como se espera numa democracia normal, mas apenas criando choques e alimentando medos pânicos de que o futuro será desastrosos sem elas. Como se sabe, esse tipo de prática política compromete a democracia – mas esta última não parece ser um valor significativo para certos grupos radicais de direta que coqueteiam com a ditadura.

O texto está aqui: Retrocesso na esperança Brasil?

Austeridade em perspectiva histórica

O que é austeridade? Num post publicado em novembro de 2015 procurou-se responder a essa questão por meio da tradução de um escrito de John Milios intitulado “A austeridade não é irracional”.

Ao introduzir os leitores deste blog ao artigo deste importante crítico da economia política, mostrou-se que a “austeridade” é uma política de Estado que, em síntese, procura reforçar a disciplina do capital nas economias capitalistas contemporâneas.

Neste post, pretende-se expor como e porque a política de austeridade se tornou necessária e mesmo imperativa na gestão do capitalismo contemporâneo. Eis que o próprio desenvolvimento deste modo de produção, após a II Guerra Mundial, exigiu o crescimento dos gastos estatais (em particular, dos sociais), o qual acabou contribuindo para o rebaixamento da taxa de lucro e, assim, para produzir um sistema econômico frágil que tende à estagnação (ou seja, que não tem mais a capacidade de recuperação do capitalismo clássico).

Quer-se mostrar, ademais, rememorando a tese de Wolfgang Streeck em Tempo comprado: a crise adiada do capitalismo democrático, que a política de austeridade implica em primazia dos imperativos econômicos em relação as necessidades humanas, sociais e ambientais. E que ela leva, por isso, necessariamente, ao esvaziamento da democracia liberal, ou seja, da democracia formal que é possível no capitalismo.

Eis o post: iAusteridade em Perspectiva Histórica