Uma nova era feudal?

Walden Bello [1] – Counterpunch – 13 de novembro de 2025

Investidura de um cavaleiro (miniatura dos estatutos da Ordem do Nó, fundada em 1352 por Luís I de Nápoles) – imagem de domínio público

Desde que a Internet nasceu na década de 1990, e com ela as “big techs”, temos a sensação de que entramos numa nova era em termos de economia política global. Muitos tentaram apontar em que consiste essa transformação. Talvez aquela mais famosa entre esses pensadores críticos seja Shoshana Zuboff. Essa autora, como se sabe, afirmou num longo livro que estamos vivendo numa era de “capitalismo de vigilância”.

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Qual é o problema: a dívida pública ou a dívida privada?

Steve Keen – Blog do Substack – 19 de outubro de 2025

No texto que se segue, Steve Keen mostra porque a dívida privada é o verdadeiro problema econômico nas economias capitalistas e como se pode encontrar uma solução para ela – utópica certamente e, portanto, irrealizável em princípio.

O verdadeiro problema

Nem um dia – apenas, talvez, um segundo – passa sem que apareça algum sábio advertindo sobre os perigos da enorme dívida do governo americano. Por outro lado, mal se ouve qualquer menção ao tamanho da dívida privada. Isso ocorre porque a dívida do governo é muito maior do que a dívida privada; certo?

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Sohn-Rethel: a mercadoria e a ciência moderna

Autor: Eleutério F. S.Prado[1]

Da síntese social

Sohn-Rethel – que se definia como marxista crítico – em seu Trabalho manual e intelectual: para a crítica da epistemologia ocidental (1978), agora traduzido para o português (2024), sustenta uma tese audaciosa. “O trabalho manual se ocupa das coisas, das quais a razão teórica considera apenas o ‘fenômeno’” (Sohn-Rethel, 2024. p. 41). A partir desse problema, ele busca descobrir a origem social e histórica do modo de pensar a natureza e a sociedade que se vale fortemente da linguagem da matemática. E ele a encontra, na contracorrente das idéias dominantes, nas abstrações inerentes à forma mercadoria.

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Consequências distributivas do neoliberalismo na Rússia

Autor: Ahmad Seyf [1]

Seja qual for a aparência atraente que seja apresentada, o neoliberalismo consiste em um conjunto de políticas que buscam impor as regras do mercado à totalidade vida humana. Em outras palavras, as regras do mercado são, na verdade, a mercantilização de tudo o que é necessário e exigido para atender às necessidades humanas. Ao confiar demais nos possíveis benefícios do desempenho do mercado, os defensores dessas políticas não prestam atenção suficiente ao fato de que o resultado da implementação dessas políticas é a consolidação da tirania absoluta do dinheiro sobre todos os aspectos da vida humana.

Ou seja, não está claro o que aqueles que não têm dinheiro ou não têm dinheiro suficiente devem fazer para atender às suas necessidades em tal sistema! Porque a realidade do que existe e é promovido neste sistema é a crença de que se pode comer apenas quanto se paga ou, em outras palavras, sob o sistema capitalista, ninguém recebe um almoço grátis.

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O valor é substância em Marx?

Eleutério F. S. Prado[1]

Introdução

Em artigo anterior, O fim incontornável de uma teoria, [2] tentou-se responder a uma importante crítica de Marcos Barbosa de Oliveira posta em seu escrito Considerações sobre a economia da atenção.[3] Refletindo depois, achou-se que não se havia discutido de modo suficiente esse tema que se afigura crucial para bem compreender o primeiro capítulo de O capital e, assim, o livro como um todo.

O autor da crítica havia “acusado” Karl Marx de formular uma teoria do valor metafísica. “Marx inicia a sua obra” – escreveu ele – “com uma análise abstrata da mercadoria”. Ora,“não tenho simpatia pela teoria do valor trabalho, nem concordo com uma concepção de mercadoria que julgo essencialista”. A ideia fundamental de Marx, apanhada em Aristóteles, segundo ele, consistiria em apresentar o valor como um substrato do preço”. O valor afirma conclusivamente é apresentado em O capital como uma substância que teria a mesma natureza da “ousia” – o ser ou essência da coisa.

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O fim incontornável de uma teoria

Autores: Jorge Nóvoa [1] e Eleutério F. S. Prado [2]

Uma ideia luminosa

Sim, parecia uma teoria inovadora quando surgiu no artigo Em busca de uma teoria do valor-atenção [3], o qual foi publicado não faz muito tempo na grande rede de informação e comunicação em que tudo parece morrer de modo bem rápido e, igualmente, durar para sempre; contudo, não demorou muito, para que essa teoria recebesse algumas críticas, as quais ofuscaram o seu brilho e empanaram a pretensão que a engendrara. [4] Isso pressionou o seu autor, Marcos Barbosa de Oliveira, a tentar esquecer que a formulara. E o fez num novo artigo que denominou Considerações sobre a economia da atenção.[5]

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Quem está vencendo a guerra comercial iniciada por Trump?

Ben Norton [1] – Blog do Substack – 02/11/2025

A economia dos EUA é vulnerável e muito mais dependente da China do que vice-versa. A prova disso é a trégua na guerra comercial de um ano que Donald Trump estabeleceu em sua reunião com o presidente Xi Jinping. Eis que Trump, como ficará demonstrado nessa postagem, está claramente perdendo a guerra comercial com a China

Trump realizou uma importante reunião com o presidente da China, Xi Jinping, na cidade sul-coreana de Busan, em 30 de outubro. Lá, eles chegaram a um novo acordo, que equivalia a uma trégua de um ano. O governo dos EUA concordou em suspender a maioria das medidas punitivas que havia imposto à China desde abril de 2025, essencialmente trazendo a situação de volta ao que era em janeiro, quando Trump assumiu o cargo para seu segundo mandato.

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Um “nobel” para um neoshumpteriano!

Autor: Cédric Durand [1]

A abordagem neoschumpeteriana de Philippe Aghion – coautor de O Poder da Destruição Criativa (2021), entre muitos outros livros – teve uma influência significativa na política econômica europeia desde a virada do século. No mês de outubro, ele recebeu, com dois outros economistas, o Prêmio Sveriges Riksbank em memória de Alfred Nobel, o prêmio de maior prestígio na disciplina. O comitê que o escolheu para recebê-lo elogiou a sua suposta teoria sobre como a inovação fornece o ímpeto para o crescimento.

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Gerar informação gera mais-valor?

Autor: Eleutério F. S. Prado [1]

Introdução

Uma escrita enigmática, às vezes, costuma medrar no campo lacaniano. Os psicanalistas que aí lavram apreciam aparecer como defensores do esclarecimento; contudo, não deixam de se expressar por meio de um discurso de difícil acesso, recheado às vezes com fórmulas herméticas.

Aqui se vai comentar um tópico específico de um escrito de Jorge Alemán que prima pelo esforço de ser acessível e claro nos limites do possível. Contrariando a tendência obscurantista aludida, combina psicanálise e sociologia marxista para pensar o advento das “novas extremas-direitas” no capitalismo contemporâneo.  Para começar, cita-se um trecho de uma seção de seu livro recém-publicado[2] que ele achou por bem denominar de “mais-valia informacional e democracia refém”:

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A próxima crise financeira nos Estados Unidos

Autor: Şebnem Kalemli-Özcan [1] – Project Syndicate – 17 de outubro de 2025

Apesar da erosão sistemática da capacidade dos Estados Unidos de criar riqueza no longo prazo, os mercados de títulos e os investidores parecem ter adormecido ao volante. Mas sua complacência não é o resultado da ignorância. Trata-se de uma escolha altamente lucrativa – e extremamente arriscada. Contudo, os investidores financeiros, inebriados na atividade especulativa, não podem lucrar com a complacência para sempre

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