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Sobre Eleutério F S Prado

Professor da Universidade de São Paulo Área de pesquisa: Economia e Complexidade

Uma nova era feudal?

Walden Bello [1] – Counterpunch – 13 de novembro de 2025

Investidura de um cavaleiro (miniatura dos estatutos da Ordem do Nó, fundada em 1352 por Luís I de Nápoles) – imagem de domínio público

Desde que a Internet nasceu na década de 1990, e com ela as “big techs”, temos a sensação de que entramos numa nova era em termos de economia política global. Muitos tentaram apontar em que consiste essa transformação. Talvez aquela mais famosa entre esses pensadores críticos seja Shoshana Zuboff. Essa autora, como se sabe, afirmou num longo livro que estamos vivendo numa era de “capitalismo de vigilância”.

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Dialética e desconstrução enquanto críticas da metafísica

Eleutério F. S. Prado [1]

Para poder entender certas controvérsias contemporâneas é preciso compreender minimamente o que é ontologia, metafísica, dialética e desconstrução. Como esse objetivo se constrói aqui um texto usando outros que serão expressamente indicados. E isso já mostra que não se reivindica qualquer originalidade no que vem escrito em sequência. Na verdade, copia-se trechos de outros escritos.

Inicia-se com a conceituação de ontologia e metafísica encontrada num escrito de François Talbot [2]:

“A palavra “ontologia” não foi cunhada em grego, mas sim no latim dos escolásticos. Surgiu no início do século XVII e seu uso rapidamente se difundiu. É formada pelas raízes “ontos”, que significa “do ser” em grego, e “logos, que significa “palavra” ou “saber” também em grego. “Ontologia”, portanto, designa simplesmente “o saber do ser”, a ciência do que é. O termo, então, passou a ser tomado como sinônimo de “metafísica”.

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Qual é o problema: a dívida pública ou a dívida privada?

Steve Keen – Blog do Substack – 19 de outubro de 2025

No texto que se segue, Steve Keen mostra porque a dívida privada é o verdadeiro problema econômico nas economias capitalistas e como se pode encontrar uma solução para ela – utópica certamente e, portanto, irrealizável em princípio.

O verdadeiro problema

Nem um dia – apenas, talvez, um segundo – passa sem que apareça algum sábio advertindo sobre os perigos da enorme dívida do governo americano. Por outro lado, mal se ouve qualquer menção ao tamanho da dívida privada. Isso ocorre porque a dívida do governo é muito maior do que a dívida privada; certo?

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Sohn-Rethel: a mercadoria e a ciência moderna

Autor: Eleutério F. S.Prado[1]

Da síntese social

Sohn-Rethel – que se definia como marxista crítico – em seu Trabalho manual e intelectual: para a crítica da epistemologia ocidental (1978), agora traduzido para o português (2024), sustenta uma tese audaciosa. “O trabalho manual se ocupa das coisas, das quais a razão teórica considera apenas o ‘fenômeno’” (Sohn-Rethel, 2024. p. 41). A partir desse problema, ele busca descobrir a origem social e histórica do modo de pensar a natureza e a sociedade que se vale fortemente da linguagem da matemática. E ele a encontra, na contracorrente das idéias dominantes, nas abstrações inerentes à forma mercadoria.

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As ontologias dialéticas de Hegel e Marx

François Talbot

Parte I

O artigo [1] que você está prestes a ler gira em torno da transição da “ontologia do conhecimento” de Hegel para a “ontologia da práxis” de Marx.[2] No entanto, nem Hegel nem Marx usaram o termo “ontologia” para descrever suas respectivas perspectivas. Nomear os eixos fundamentais de suas filosofias dessa maneira reflete um certo viés, uma forma particular de compreender nossa própria situação no pensamento. A sua função é situar os dois autores dentro da tradição que herdaram e apreender suas filosofias em relação aos problemas que nós mesmos enfrentamos no campo do pensamento contemporâneo.

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A fenomenologia de Tran Duc Thao

Título original: A origem e a gênese da consciência pura: o conteúdo real da fenomenologia por meio do materialismo dialético de Tran Duc Thao.[1]

Jérôme Melançon – Universidade de Regina, Canadá

Resumo

A leitura de Husserl por Tran Duc Thao visa desembaraçar a noção de consciência pura para redescobrir a realidade da vida humana. O marxismo, portanto, permitiu que Thao fosse além da fenomenologia para alcançar os objetivos do próprio marxismo. A partir do que ele retém do idealismo transcendental de Husserl, Thao desenvolve um materialismo dialético no qual a subjetividade é o movimento da própria tomada de autoconsciência da natureza.

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Consequências distributivas do neoliberalismo na Rússia

Autor: Ahmad Seyf [1]

Seja qual for a aparência atraente que seja apresentada, o neoliberalismo consiste em um conjunto de políticas que buscam impor as regras do mercado à totalidade vida humana. Em outras palavras, as regras do mercado são, na verdade, a mercantilização de tudo o que é necessário e exigido para atender às necessidades humanas. Ao confiar demais nos possíveis benefícios do desempenho do mercado, os defensores dessas políticas não prestam atenção suficiente ao fato de que o resultado da implementação dessas políticas é a consolidação da tirania absoluta do dinheiro sobre todos os aspectos da vida humana.

Ou seja, não está claro o que aqueles que não têm dinheiro ou não têm dinheiro suficiente devem fazer para atender às suas necessidades em tal sistema! Porque a realidade do que existe e é promovido neste sistema é a crença de que se pode comer apenas quanto se paga ou, em outras palavras, sob o sistema capitalista, ninguém recebe um almoço grátis.

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O valor é substância em Marx?

Eleutério F. S. Prado[1]

Introdução

Em artigo anterior, O fim incontornável de uma teoria, [2] tentou-se responder a uma importante crítica de Marcos Barbosa de Oliveira posta em seu escrito Considerações sobre a economia da atenção.[3] Refletindo depois, achou-se que não se havia discutido de modo suficiente esse tema que se afigura crucial para bem compreender o primeiro capítulo de O capital e, assim, o livro como um todo.

O autor da crítica havia “acusado” Karl Marx de formular uma teoria do valor metafísica. “Marx inicia a sua obra” – escreveu ele – “com uma análise abstrata da mercadoria”. Ora,“não tenho simpatia pela teoria do valor trabalho, nem concordo com uma concepção de mercadoria que julgo essencialista”. A ideia fundamental de Marx, apanhada em Aristóteles, segundo ele, consistiria em apresentar o valor como um substrato do preço”. O valor afirma conclusivamente é apresentado em O capital como uma substância que teria a mesma natureza da “ousia” – o ser ou essência da coisa.

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Não-identidade e relativismo histórico

Autora: Susan Buck-Morss [1]

Estamos perto do cerne do argumento de Adorno; eis aqui um protótipo de sua abordagem em geral. É correto dizer que Adorno não tinha nenhum conceito de história no sentido de uma definição ontológica e positiva de seu significado filosófico. Em vez disso, tanto a história quanto a natureza, tomados como opostos dialéticos, eram para Adorno conceitos cognitivos, não muito diferentes das “ideias reguladoras” de Kant.

Ora, esses conceitos foram aplicados em seus escritos como ferramentas críticas para a desmitificação da realidade. Ao mesmo tempo, cada um deles forneceu uma crítica ao outro. A natureza forneceu a chave para expor a não-identidade entre o conceito de história (como uma ideia reguladora) e a realidade histórica, assim como a história forneceu a chave para desmitificar a natureza. 

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O fim incontornável de uma teoria

Autores: Jorge Nóvoa [1] e Eleutério F. S. Prado [2]

Uma ideia luminosa

Sim, parecia uma teoria inovadora quando surgiu no artigo Em busca de uma teoria do valor-atenção [3], o qual foi publicado não faz muito tempo na grande rede de informação e comunicação em que tudo parece morrer de modo bem rápido e, igualmente, durar para sempre; contudo, não demorou muito, para que essa teoria recebesse algumas críticas, as quais ofuscaram o seu brilho e empanaram a pretensão que a engendrara. [4] Isso pressionou o seu autor, Marcos Barbosa de Oliveira, a tentar esquecer que a formulara. E o fez num novo artigo que denominou Considerações sobre a economia da atenção.[5]

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