Crítica da “teoria” do valor-atenção

Autores: Jorge Nóvoa [1] e Eleutério F. S. Prado [2]

Ao misturar a esfera da circulação com a da produção, a tese do valor-atenção comete um erro categorial: transforma o efeito (a atenção do consumidor) em causa (fonte de valor). Ignora-se, assim, que o consumo, por mais induzido que seja, apenas realiza o valor criado no processo produtivo

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Há uma nova teoria do valor circulando difusamente no campo da economia política. Mas ela tomou forma no teclado manipulado por Marcos Barbosa de Oliveira, professor da USP, por meio do artigo “Em Busca de uma Teoria do Valor-Atenção”.[i] Eis como ele a apresenta sem receio de que sua bomba se transfore num traque: “Na teoria marxista do valor-trabalho, o valor de uma mercadoria é, grosso modo, proporcional ao trabalho gasto em sua produção. No domínio das redes sociais, no lugar do trabalho, vigora a atenção. Sendo assim, faz sentido a ideia de uma teoria marxista do valor-atenção”.

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Estagflação segundo Paul Krugman (Parte II)

O que se seguirá ao choque de Trump?

Paul Krugman – Blogue do autor no Substack – 24/08/2025

Na cartilha anterior sobre esse tema, explicou-se em que consiste a estagflação, a lógica por trás dela e sua história. Aqui está uma breve lista do que foi abordado os seguintes pontos:

A estagflação é uma combinação de inflação e alto desemprego

Para a inflação se enraizar na economia é preciso que as empresas e os trabalhadores aumentam seus preços porque esperam que todos os outros façam o mesmo;

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A desmedida de Marcos Dantas

Autor: Eleutério F. S. Prado [1]

“Tudo o que é humano – riqueza, honra, poder, mas também alegria, dor etc. – tem uma medida determinada, cuja transgressão leva à perdição e à ruina.” Hegel, G. W. F. – A ciência da lógica.[2]

Marcos Dantas escreve torto por linhas certas, ou melhor, por linhas aparentemente certas. Eis que em suas incursões na teoria do valor de Karl Marx, ao pôr em arquivo digital e no papel ideias que antes ruminara, ele comete alguns desatinos conceituais dignos de nota. A propósito, ele colou em um seu escrito uma citação de um texto vintenário – logo se dirá qual –, que julgou corroborar as suas teses.

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Estagflação segundo Paul Krugman (Parte I)

Apresenta-se abaixo um texto do prêmio Nobel acima nominado que trata do fenômeno da estagflação. A sua explicação se baseia quase que exclusivamente no processo de formação de expectativas e da ação do banco central. Eis que, para ele, grosso modo, se os preços aumentam muito no passado, os donos das empresas (ou seus gerentes), que detêm algum poder de monopólio, vão elevar muito os preços a menos que a economia entre em recessão.

Trata-se, evidentemente, de uma peça de economia vulgar combinada com uma psicotécnica A primeira fica na aparência dos fenômenos, aqui os movimentos dos preços; a segunda retrata as percepções subjetivas dos gerentes capitalistas, que gozam de alguma autonomia para determinar preços. Ora, neste blogue, já foi apresentada uma teoria científica mais rigorosa e ela foi formulada por Anwar Shaikh. Para os eventuais interessados, ela está tanto aqui  (…)  quanto aqui também.

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O humano segundo Freud

Eleutério F. S. Prado[1]

Sobre a “inércia orgânica”

Para entender a metapsicologia de Sigmund Freud é preciso fazê-lo metodologicamente. Eis que ele pensa o homem social do seu tempo partindo do homem animal que ainda, supostamente, mora dentro dele, apesar de ter sido já transformado pela civilização. Ora, esse homem animal é para ele, essencialmente, um ser pulsional.

Antes de apresentá-lo como tal, é preciso começar lembrando que a existência humana percorre ciclos sucessivos de atividade e inatividade e que eles acontecem num tempo de vida limitado. Como se sabe, essa ciclicidade se inicia no útero e termina na morte.

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Banco central “independent”

Autor: Michael Roberts –  The next recession blog – 27/08/2025

O presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou que demitira Lisa Cook, membro do Conselho de Governadores do Federal Reserve. Pois, ela cometera fraude ao hipotecar por duas vezes a sua residência principal, quando ainda era professora no estado de Michigan, antes de ingressar no Fed. Naturalmente, Cook rejeitou essas acusações. O economista keynesiano, em seu blog, Paul Krugman repercutiu:  mesmo que fosse verdade, essa acusação não seria adequada para solicitar a demissão imediata de alguém do Fed”.

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Uma análise da estagnação das economias europeias

Autores: Ozan Mutlu [1] e Lefteris Tsoufidis [2]

Introdução

Este estudo tem como objetivo medir empiricamente as principais variáveis consideradas pela economia política clássica e marxista em países europeus — França, Alemanha e Reino Unido[3] — abrangendo o período 1995-2023. Ao fazê-lo, procura explicar as causas do fraco desempenho do crescimento desde a grande recessão de 2008-2009.

Como essas economias são significativas na economia global, examinar as suas trajetórias é essencial não apenas para entender, em particular, as suas atuais situações econômica, mas também para apreender as suas tendências globais mais amplas. Eis que o resto do mundo, com exceções, experimentou também um crescimento fraco desde 2007. As projeções para os próximos anos, de acordo como o FMI, continuam apontando para tendências de lentidão.  

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A desigualdade nos EUA (Parte V)

Autor: Paul Krugman.

Eis as quatro primeiras postagem sobre o tema: Parte I, Parte II, Parte III e Parte IV.

A minha frase favorita do filme Wall Street, saído em 1987, aparece quando Gordon Gekko ridiculariza o personagem Charlie Sheen por suas limitadas ambições: “Não estou falando de US $ 400.000 por ano trabalhando duro em Wall Street, voando de primeira classe e vivendo confortavelmente. ” Ora, ajustado pela inflação, 400 mil, em 1987, equivalem a cerca de US $ 1,1 milhão agora.

O que essa frase diz é que, mesmo em 1987, bem no início do grande aumento da desigualdade pós-1980, muitas pessoas que operavam no setor de finanças – ou seja, que trabalhavam em Wall Street – já recebiam quantias muito grandes e que, por isso, algumas delas estavam acumulando fortunas extraordinárias.

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A economia dos EUA prosperará! – segundo Roubini

Como se sabe, Nouriel Roubini era conhecido como “doutor estouro” (doctor doom, em inglês) em razão de sua vocação para prever as crises vindouras do capitalismo; porém, agora passou a ser chamado de “doutor estrondo” (doctor boom, também em inglês), porque está prevendo um futuro muito promissor para a economia dos Estados Unidos da América do Norte, em razão das transformações tecnológicas em curso e de uma suposta excelência dos mercados.

 Curiosamente, o seu último livro Megathreats (abaixo referido), que versa sobre as mega-ameaças ao futuro da humanidade, justifica ainda o epiteto anterior. Mesmo duvidando do acerto dessa predição, publica-se aqui o seu último escrito para que possa ser eventualmente discutido pelos interessados. Veja-se também o escrito anterior que ia no mesmo sentido.

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