Terapia de choque na economia mundial

Autor: Michael Roberts

Blog The next recession – 10/10/2022

O termo “terapia de choque” foi usado para descrever a mudança drástica de uma economia planejada, baseada na propriedade estatal, existente na antiga União Soviética, para um modo de produção capitalista integral, em 1990. Eis que produziu uma grande queda nos padrões de vida, por uma década.

O termo “doutrina do choque” foi usado por Naomi Klein para descrever a destruição dos serviços públicos e do estado de bem-estar pelos governos a partir da década de 1980. Agora, os principais bancos centrais estão aplicando uma “terapia de choque” na economia mundial: estão aumentando as taxas de juros com a intenção de controlar a inflação, mesmo se há uma crescente evidência de que isso levará a uma recessão global no próximo ano.

Veja-se o que dizem alguns de seus porta-vozes. Chris Waller, membro do conselho do Federal Reserve deixou bem claro essa intenção ao afirmar que “não estou pensando em desacelerar ou interromper os aumentos das taxas devido a preocupações com a estabilidade financeira”. Portanto, mesmo que o aumento das taxas de juros comece a abrir fissuras nas instituições financeiras e em seus ativos especulativos, isso não importa.

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A liquidez e o afogamento

Autor: Michael Roberts – The next recession blog – 29/09/22

“Se não houvesse intervenção hoje, nesta manhã, os rendimentos dos títulos do governo britânico poderiam ter subido de 4,5% para 7-8%; nessa situação, cerca de 90% dos fundos de pensão do Reino Unido teriam ficado sem garantias colaterais… Eles teriam sido varridos do mercado”. Eis o que disse ontem um operador de títulos do Reino Unido.

Uma crise de liquidez eclodiu nos mercados de títulos britânicos após o anúncio do novo governo conservador de que gastaria até 60 bilhões de libras para manter um teto no preço da energia para famílias por até dois anos, para subsidiar os custos energéticos das empresas, assim como, também, para cortar os impostos sobre as rendas das famílias e das empresas.

O impacto total dessa grande generosidade (concedida principalmente para os ricos) no nível da dívida pública do Reino Unido nos próximos anos foi estimado em mais de 400 bilhões de libras ou quase 20% do PIB. Com a dívida pública do Reino Unido já se encontra em 100% do PIB, esse aviso soou como um alarme; caiu a confiança e os preços dos títulos do Reino Unido caíram. Pois, as taxas de juros (isto é, os rendimentos dos títulos) subiram vertiginosamente (veja-se isso no gráfico em sequência).

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A droga que cura a doença que produz!

Autor: Eleutério F. S. Prado

Poderá o dinheiro salvar o capitalismo? – eis a questão.

Quando ocorreu a quebra do banco Lehman Brothers em 15 de setembro de 2008, uma professora consagrada no meio acadêmico brasileiro, numa roda de economistas, declarou: “vamos voltar para a roça!”. Aludia ao efeito dominó possível que estava para ocorrer e que levaria certamente a economia mundial a um baque de proporções catastróficas. Se os bancos “too big to fail” quebrassem uns aos outros, a cadeia de tombos que se seguiria quebraria também um grande número de empresas produtoras de bens e serviços, de tal modo que o desemprego poderia atingir níveis altíssimos, cerca de trinta por cento ou mais da força de trabalho mundial.

O que garantiu a sobrevivência do sistema foi, como se sabe, uma política monetária inédita na história do capitalismo. A emissão em larga escala de dinheiro fiduciário pelos bancos centrais dos países ricos para comprar títulos dos bancos em situação de risco evitou que ficassem sem liquidez e, em consequência, ruíssem por inadimplência generalizada. Essa política econômica ficou conhecida pelo termo “relaxamento monetário” ou Q E (quantitative easing). Ora, um raciocínio simples diria: o dinheiro salvou o capitalismo; por sua causa, não voltamos todos a capinar para garantir o sustento da família!

Eis, na figura em sequência, um gráfico que dá uma ideia visual da dimensão do relaxamento monetário nos Estados Unidos. Note-se que o montante de ativos do banco central cresceu fortemente entre 2008 e 2014, estacionou daí até 2019, mas voltou a se elevar fortemente em consequência da crise do Covid-19. Em resumo, entre 2007 e 2021, cresceu oito vezes!

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O dilema de Jackson Hole

Autor: Michael Roberts – Publicação: The next recession blog, 22/08/2021

No próximo fim de semana, os banqueiros centrais do mundo se reunirão em uma convenção anual em Jackson Hole, Wyoming, EUA, sob a perspectiva o fim da crise produzida pelo novo coronavírus. Os banqueiros ouvirão o presidente do Fed, Jay Powell e a secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen. Ademais, examinarão trabalhos acadêmicos encomendados a vários “economistas convencionais” que estudam os fenômenos monetários.  

A grande questão em pauta é se chegou hora de os bancos centrais desacelerarem suas compras de títulos do governo destinadas a injetar dinheiro de crédito nas economias, com o objetivo de evitar o colapso de empresas na desaceleração da pandemia. No ano de 2020, marcado pela pandemia, o Federal Reserve fez compras equivalentes a 11% do PIB dos EUA, o Banco da Inglaterra 14% do PIB do Reino Unido e muitos outros bancos do G7 de cerca de 10% do PIB nacional.

Fonte: Banco Mundial
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