A expressão “comunismo hermenêutico” soa bem estranha, não só por causa do adjetivo que qualifica o nome, mas porque esse substantivo costuma estar associado corriqueiramente a uma forma de totalitarismo que existiu no século XX: o estalinismo. A tese é polêmica, mas é preciso conhecê-la.
O fato é que se apresenta agora no título de um livro publicado no começo da última década, escrito por Gianni Vattimo e Santiago Zabala com pretensão de resgatar o caráter emancipatório da proposta comunista. Eis o título completo do escrito: Comunismo hermenêutico – De Heidegger a Marx (Herder, 2012). Ora, a associação do conceito de comunismo ao filósofo alemão que aderiu ao nazismo na década dos anos 1930 torna essa expressão ainda mais, profundamente, estranha.
Para eles, “a crise do comunismo soviético – assim a crise atual do capitalismo neoliberal que enfrenta – requer do marxismo uma virada hermenêutica”. Os seus grandes erros, os seus descaminhos, as suas formas de governo autoritárias e totalitárias decorreram – ainda segundo eles – de uma incapacidade intrínseca de apreender e considerar a subjetividade coletiva das populações nos países que se tornaram socialistas no século XX.
O comunismo histórico achava que era portador da verdade da história e, por isso, que tinha o direito de impor ferreamente à população governada um processo de acumulação de capital planejado e dirigido pelo Estado. Como a história mostrou – pense-se na Rússia e na China, por exemplo -, o sistema de acumulação centralizado que aí vigorou nada mais foi do que uma forma de transição de formas retardatária de produção para o capitalismo.
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