O “rentismo” e a léxis de O capital

Autor: Eleutério F. S. Prado [1] (2017)

Faz-se nesta nota um comentário sobre um ponto bem específico contido no livro mais recente de François Chesnais, Finance capital today (2016). Como fica evidente já pelo título, esse autor pretende atualizar, com originalidade e cem anos depois, a tese de Rudolf Hilferding – e de Vladimir Lenin – sobre o caráter do capitalismo na era do imperialismo. Nesse sentido, é evidente, ele encontra – assim como os outros seguidores menos famosos – a base teórica de seu esforço crítico nas obras que compõe a crítica da economia política feita por Marx, em especial, no livro O capital.

Segundo este autor, o capitalismo como ordem mundial recém completada está em crise. E esta vem a ser, para ele, uma “crise do capitalismo tout court em um dado momento de sua história”, o qual “tem como características centrais a globalização, isto é, a conclusão do mercado mundial, e a financeirização”. Trata-se, ademais, ainda segundo ele, de uma crise de superacumulação e de superprodução agravada pela queda da taxa de lucro” (Chesnais, 2016, p. 1-2). Ora, esses elementos não deixam qualquer dúvida: Chesnais se esforça, sim, para pertencer à tradição da apresentação do capital e da crítica da economia política que vem de Marx.

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Curso sobre O capital

Em comemoração aos 150 anos de O capital, a Boitempo realiza em São Paulo, em parceria com a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), a quinta edição do Curso Livre Marx-Engels. Essa edição será dedicada à obra máxima de Karl Marx e transcorrerá nos dias 6, 7, 8 e 14 de junho de 2017. Nesse curso, organizado por Marcelo Carcanholo, será feita uma apresentação do conteúdo de O capital por meio de quatro aulas. A primeira, que versará sobre a estrutura da obra e sobre o método, será dada por Eleutério Prado. A segunda, que tratará da teoria do valor contida nessa obra, será dada por Leda Paulani. A terceira, que discutirá o capital e o fetichismo, assim como a historicidade, as classes sociais e a luta de classes, será oferecida por Marcelo Carcanholo. Finalmente, a última, que trata das leis tendenciais – capital, acumulação e crise, será dada por Jorge Grespan.

Os slides da apresentação de Eleutério Prado podem ser encontrados aqui: Estrutura da Obra e Método de O Capital

Método de “O Capital”

Imagem do MarxFinalmente, depois de muito procurar, o autor deste blog encontrou um texto muito importante de Marcos Lutz Müller sobre o método de Marx. Eis o que diz o seu primeiro parágrafo: “A progressiva perda de especificidade metodológica do conceito de dialética, paralela à generalização do seu uso e à sua ampliação semântica, desembocou, hoje, nas versões não ortodoxas ou humanistas do marxismo, numa comprometedora diluição teórica do conceito, reduzido, muitas vezes, a um adjetivo pleonástico que qualifica um substantivo inexistente, ou, no marxismo-leninismo convertido em visão de mundo, no seu alinhamento ideológico, que evita voluntariamente aquela diluição pela invocação dogmática das três leis de Engels, reabilitadas em 1956.” Para ajudar a difundi-lo, a partir de agora, este texto está também publicado aqui: Muller – Exposição e Método Dialético em Marx

Da Crítica da Economia Política

logo_revistaoutubro_site1Foi publicado pela Revista Outubro, em sua vigésima-terceira ediçãoum texto  que procura discutir alguns pontos relevantes da crítica de Marx ao capitalismo e à sua compreensão.  O artigo toma como bem difícil a correta compreensão da dialética de O capital e, assim, da Crítica da Economia Política. Com a intenção de mostrar quão arisca e árdua é essa dificuldade, apoia-se principalmente na tradição brasileira de leitura das obras de Marx que versam especificamente sobre o modo de produção capitalista. E, para melhor expô-la, examina alguns pontos usualmente tomados como dificuldades importantes nos debates. Para fazê-lo, questiona certas teses de autores marxistas renomados que versam – sustenta-se que se equivocam – sobre o método desse autor.

O link encontra-se aqui: http://outubrorevista.com.br/economia-politica-os-descaminhos-da-critica/

Ideontologia

Gérard LebrunFoi preciso criar esse termo arrevesado para designar a compreensão de Hayek do capitalismo, a qual se funda – e somente se funda – na sociabilidade da esfera do mercado. Pois, recupera-se aqui um velho artigo de Gérard Lebrun, publicado em 1984, em que ele derramou uma refinada apologia das teses liberais sustentadas pelo autor de O caminho da servidão nas brancas páginas do falecido Jornal da Tarde. Trata-se de uma peça discursiva que merece ser mais uma vez divulgada já que, em sua impar modalidade, destaca-se como uma argumentação astuciosa que leva a uma completa rejeição do socialismo e das políticas socializantes em geral.

Nessa peça, esse renomado filósofo francês, bem conhecido então no meio universitário de ciências sociais no Brasil, destaca elogiosamente que Hayek entrou no principal debate político da era moderna com uma poderosa ontologia social. No mundo descrito por esse autor liberal, aliás, o herói é o empresário, o empreendedor capitalista – e não, claro, o operário, o trabalhador, o assalariado cuja pele continua como sempre disponível para o curtume.

Ora, esta – precisamente esta – era uma roupagem que o capitalismo podia usar no momento que o velho liberalismo, enquanto episteme do século XIX, já se tornara fora de moda. Como se sabe, nesse momento, o capitalismo já começara a se apresentar com uma nova vestimenta, adequada para o fim do século XX, o neoliberalismo. Adorno não mencionara na Dialética Negativa que toda ontologia contemporânea, precisamente por apresentar uma enfática pretensão de verdade, é sempre “uma disposição para sancionar uma ordem heterônoma”, dispensando-se, assim, “de se justificar perante a consciência crítica”.  E que sempre o faz – fique patente – a partir de traços aparentes da realidade ratificada como esfera que não deve ser radicalmente transformada.

Logo se verá: o capitalismo, no visor de Hayek, aparece como sociabilidade que se tece como ordem espontânea, a qual foi surgindo ao longo dos séculos por meio de um processo evolutivo lento, cego, mas certeiro, de seleção de regras. Essa ordem, segundo ele, seria o esteio da liberdade; sim, mas que liberdade? De todos ou apenas de alguns? Perante tal ideologia que assumiu a forma da ontologia, aquilo que se apresenta como crítica e que contraria a sua enorme pretensão de verdade passará a figurar, transfigurada, como diabrura irracionalista do espírito racionalista dos tempos modernos. Nos escritos de Hayek, o socialismo surge, nessa perspectiva, como uma mera ideia ou pretensão tecnocrática e construtivista de realizar a justiça social por meio do poder de Estado.

O discurso parece plausível a primeira vista porque o material para a sua elaboração foi fornecido, em parte, pelos próprios socialistas. Entretanto, como para o principal crítico do capitalismo, o socialismo rigorosamente não é uma mera ideia, não é um projeto de engenharia social, não se baseia na demanda por justiça social e não se realiza por meio do poder de Estado, a peça merece também uma resposta. Por isso, além de republicar aqui o artigo de Lebrun, publica-se também um texto crítico que visa contrariá-lo.

 

O artigo de Gérard Lebrun encontra-se aqui: A loteria de Friedrich Hayek

 

O artigo crítico, por sua vez, encontra-se aqui: Do socialismo centralista ao socialismo democrático

Dialética negativa e luta de classes

Adorno para o blog

É sabido que a luta de classes está amplamente ausente na teoria crítica de Theodor Adorno. Entretanto, há autores que julgam necessário se apropriar de seu conceito de dialética negativa a fim de desenvolver um pensamento anticapitalista que se mostre historicamente mais eficaz no alvorecer do século XXI. Pois, consideram que ele permite fazer uma boa crítica da concepção leninista de revolução e de socialismo, para, assim, retomar o projeto de transformação da sociedade. Eis que isto, segundo eles, tornou-se imperativo após o colapso do socialismo centralista, o qual florescera e murchara na extinta União Soviética. O pensamento de Adorno, mantido inquietamente no interior da tradição de Hegel e Marx, segundo eles ainda, permite renovar o papel da dialética na constituição de um pensamento revolucionário, mesmo se ele se afastara da práxis transformadora enquanto produção teórica e crítica.

Como as teses desses autores precisam ser mais bem conhecidas nos círculos socialistas brasileiros, esse blog publica uma tradução livre de um importante artigo que as apresenta incisiva e polemicamente. O seu autor, Sergio Tischler Visquerra, é professor da Universidade Autônoma de Puebla. O escrito de sua lavra se chama Adorno: o cárcere conceitual do sujeito, o fetichismo político e a luta de classes. Como artigo de coletânea foi originalmente publicado, em 2007, no livro Negatividad y revolución – Theodor W. Adorno y la política,  organizado por John Holloway, Fernando Matamoros e Sergio Tischler, uma edição da revista  Herramienta e da Universidade Autônoma de Puebla.

Para obtê-lo, clique aqui:Adorno – O carcere conceitual do sujeito

 

Avesso do discurso econômico

Mafalda e os valores do capitalismo

Os economistas se enxergam como fontes inesgotáveis de racionalidade. Quando escrevem, costumam derramar sobre as pessoas “comuns” receitas sobre como devem gerir sua vida econômica atribulada; mais frequentemente, pontificam sobre como deve ser gerido o sistema econômico, sempre passando por infindáveis turbulências.  Por isso mesmo deveriam estar interessados no último número da Revista Limiar (vol.1, nº2) do Programa de Pós-graduação em Filosofia da Unifesp. Aí, eles podem encontrar dois artigos bem interessantes que lhes amassam o topete.

O primeiro, de Alselm Jappe, trata de alienação, reificação e fetichismo da mercadoria, um tema central para a compreensão da crítica da economia política de Karl Marx. Ora, esses termos apontam para o caráter intrinsecamente religioso do sistema econômico, mostrando, assim, que sob a sua fachada de racionalidade mora e se oculta uma irracionalidade altamente destrutiva que ora ameaça a existência da humanidade. O artigo contrapõe a ontologia do trabalho de Lukács à crítica do trabalho feita pelos autores da escola da “critica do valor” (Robert Kurz, por exemplo). O acesso ao artigo Alienação, reificação e fetichismo da mercadoria  encontra-se aqui: http://www.revistalimiar.org/uploads/2/1/6/4/21648538/1._anselm_jappe_-_limiar_n.2.pdf.

O segundo, de Tales Ab’Sáber, trata de uma perspectiva psicanalítica o comportamento dos analistas econômicos mais em evidência diante da crise econômica mundial de 2008. Como se sabe, mesmo vários “gênios” consagrados por meio do Prêmio Nobel fracassaram miseravelmente em antecipar que do “boom” vinha um formidável “bum”. Segundo esse autor, “os agentes que recusavam a realidade da crise assim a aprofundaram”. Eles foram cruelmente pervertidos pela recusa da realidade que claramente transbordava em relação ao seu modo vulgar de apreender o sistema fetichista da mercadoria. O acesso ao artigo Interesse e verdade: neoliberalismo e mentira encontra-se aqui: http://www.revistalimiar.org/uploads/2/1/6/4/21648538/7.tales_-_limiar_n.2.pdf

Da Crítica da Economia Política

Niep - Marx

Entre o dia 1º e o dia 4 de outubro, aconteceu em Niterói, no Rio de Janeiro, o Colóquio Internacional Marx e o Marxismo 2013: Marx hoje, 130 anos depois. Nele foram apresentados dezenas de artigos sobre os mais diversos temas que interessam ao marxismo. Os anais do colóquio se encontram AQUI. Na ocasião, o autor deste blog apresentou uma nota sobre a relação entre a economia política e a crítica da economia política sob o título Marx contra (e não contra) a Economia Política. O texto se encontra aqui: Apresentação – Marx contra a Economia Política.

Dinheiro mundial inconversível

Dinheiro Interrogaçao

Volta-se nessa postagem ao artigo anteriormente divulgado sobre o dinheiro mundial inconversível. No texto anterior, primeiro, procurou-se apresentar a controvérsia brasileira sobre esse tema, a qual ressoou principalmente nas páginas da Revista da Sociedade Brasileira de Economia Política (SEP). Em sequência, buscou-se desenvolver uma nova forma de compreender a emergência do dinheiro mundial sem valor intrínseco, que vem sendo considerado, como bem se sabe, um enigma para o pensamento marxista. Reapresentamos, agora, o artigo porque foi possível fazer certos aperfeiçoamentos conceituais que o tornaram – assim pensamos – mais rigoroso. A nova versão trabalha melhor – e explicitamente – as ilusões simétricas e complementares do fetichismo e do convencionalismo inerentes à compreensão do dinheiro no capitalismo. Para ler o artigo basta Da controvérsia brasileira sobre o dinheiro mundial inconversível.

Dinheiro mundial inconversível

Da controvérsia brasileira sobre o dinheiro mundial inconversível

Resumo

 

Esta nota faz um retorno à controvérsia brasileira sobre o dinheiro mundial inconversível, travada entre 1998 e 2002, da qual participaram diretamente Gentil Corazza, Reinaldo Carcanholo, Claus Germer e indiretamente Leda Paulani. Enquanto os três primeiros discutiram por meio de artigos publicados na Revista da SEP, a última forneceu à controvérsia um material de fundo, por meio de sua tese de doutoramento que versou sobre o dinheiro. Nesse retorno não se examinará os argumentos contidos na controvérsia numa perspectiva de história do pensamento econômico. Eles serão examinados numa visada crítica que procura discutir certas ambiguidades aí presentes. O objetivo final é recuperar um debate importante, propondo uma nova solução para o enigma do dinheiro mundial inconversível presente na teoria marxista.

Para ler a nota como um todo basta Baixar texto 26 aqui.

 

Abstract

This note returns to the Brazilian controversy about the inconvertibility of the dollar as world money, occurred in between 1998 and 2002, attended directly by Gentil Corazza, Reinaldo Carcanholo and Claus Germer, and indirectly by Leda Paulani. While the first three discussed through articles published in the Journal of the SEP, the last one provided a background for the controversy through his doctoral thesis which reflected about money as a concept. This return does not consider the arguments contained in the controversy from a history of economic thought viewpoint. They will be examined in a critical perspective that seeks to discuss certain ambiguities found there. The ultimate goal is to recover an important debate, proposing a new solution to the riddle of the inconvertibility of the dollar as world money in Marxist theory.