Ouro: o que está por trás do boom?

Michael Roberts – The next recession blog – 9/10/ 2025

Esta semana, o preço do ouro em dólares americanos atingiu US $ 4.000 por onça-troy (que equivale a 24,3 gramas de ouro). Esta é uma alta histórica (pelo menos em dólares nominais). Mas mesmo essa alta parece destinada a ser superada. O banco de investimento Goldman Sachs prevê que chegará a um valor de US $ 4.900 por onça-troy até o final do ano. Note-se que preço do ouro em outras moedas importantes também tem se elevado.

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Quid est tuum, “trumponomics”?

Autor: Eleutério F. S. Prado [1]

Três opiniões

É bem difícil saber exatamente. Em geral, os economistas do sistema, mesmo os neoliberais, assim como aqueles que se situam fora desse campo, acham que as políticas de Donald Trump prejudicam a economia norte-americana no curto e no longo prazo.  Eis, por exemplo, a opinião de Nouriel Roubini que vê efeitos danosos dessa política, apesar de prever que ela não vai contrariar um destino promissor que estaria reservado para a economia capitalista que “prospera” nesse país:

Embora não haja dúvida de que a agenda econômica de Donald Trump seja potencialmente estagflacionária, estão se desenvolvendo nos Estados Unidos algumas das inovações tecnológicas mais importantes da história da humanidade. Isso trará benefícios que superam em muito os custos das atuais políticas comerciais, assim como de outras políticas imprudentes.[2]

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Argentina em crise: a motoserra quebrou

Autor: Michael Roberts

The next recession blog – 29 de setembro de 2025

Na semana passada, o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, ofereceu uma linha de swap de US $ 20 bilhões ao governo de Javier Milei. Prometeu comprar títulos da Argentina, já que o governo Trump tem a pretensão de fortalecer o seu aliado ideológico. As medidas interromperam temporariamente uma forte queda nos mercados argentinos de câmbio, de ações e de títulos. Essa derrocada fora desencadeada pelo rápido esgotamento das reservas estrangeiras do país; uma corrida ao dólar passou a ocorrer porque o governo Milei vinha mantendo o peso cada vez mais supervalorizado para conter a volta da inflação.

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Criptoativos, tokens e dominio global

Autora: Hélène Rey [1]

Inovações tecnológicas estão em vias de sacudir o sistema monetário e financeiro internacional. Como isso vai acontecer, dependerá de quem definirá os padrões a serem adotados, o setor público ou o setor privado. Também serão importantes as regulamentações, a cooperação internacional e a resiliência das novas tecnologias aos riscos cibernéticos. Os efeitos que terão sobre os fluxos de capital são difíceis de avaliar, mas já se sabe que terão impactos significativos nas contas fiscais, na fragmentação geoeconômica, na volatilidade da taxa de câmbio e no grau de internacionalização das principais moedas.

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Crítica da “teoria” do valor-atenção

Autores: Jorge Nóvoa [1] e Eleutério F. S. Prado [2]

Ao misturar a esfera da circulação com a da produção, a tese do valor-atenção comete um erro categorial: transforma o efeito (a atenção do consumidor) em causa (fonte de valor). Ignora-se, assim, que o consumo, por mais induzido que seja, apenas realiza o valor criado no processo produtivo

1.

Há uma nova teoria do valor circulando difusamente no campo da economia política. Mas ela tomou forma no teclado manipulado por Marcos Barbosa de Oliveira, professor da USP, por meio do artigo “Em Busca de uma Teoria do Valor-Atenção”.[i] Eis como ele a apresenta sem receio de que sua bomba se transfore num traque: “Na teoria marxista do valor-trabalho, o valor de uma mercadoria é, grosso modo, proporcional ao trabalho gasto em sua produção. No domínio das redes sociais, no lugar do trabalho, vigora a atenção. Sendo assim, faz sentido a ideia de uma teoria marxista do valor-atenção”.

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Estagflação segundo Paul Krugman (Parte I)

Apresenta-se abaixo um texto do prêmio Nobel acima nominado que trata do fenômeno da estagflação. A sua explicação se baseia quase que exclusivamente no processo de formação de expectativas e da ação do banco central. Eis que, para ele, grosso modo, se os preços aumentam muito no passado, os donos das empresas (ou seus gerentes), que detêm algum poder de monopólio, vão elevar muito os preços a menos que a economia entre em recessão.

Trata-se, evidentemente, de uma peça de economia vulgar combinada com uma psicotécnica A primeira fica na aparência dos fenômenos, aqui os movimentos dos preços; a segunda retrata as percepções subjetivas dos gerentes capitalistas, que gozam de alguma autonomia para determinar preços. Ora, neste blogue, já foi apresentada uma teoria científica mais rigorosa e ela foi formulada por Anwar Shaikh. Para os eventuais interessados, ela está tanto aqui  (…)  quanto aqui também.

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Uma análise da estagnação das economias europeias

Autores: Ozan Mutlu [1] e Lefteris Tsoufidis [2]

Introdução

Este estudo tem como objetivo medir empiricamente as principais variáveis consideradas pela economia política clássica e marxista em países europeus — França, Alemanha e Reino Unido[3] — abrangendo o período 1995-2023. Ao fazê-lo, procura explicar as causas do fraco desempenho do crescimento desde a grande recessão de 2008-2009.

Como essas economias são significativas na economia global, examinar as suas trajetórias é essencial não apenas para entender, em particular, as suas atuais situações econômica, mas também para apreender as suas tendências globais mais amplas. Eis que o resto do mundo, com exceções, experimentou também um crescimento fraco desde 2007. As projeções para os próximos anos, de acordo como o FMI, continuam apontando para tendências de lentidão.  

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A desigualdade nos EUA (Parte V)

Autor: Paul Krugman.

Eis as quatro primeiras postagem sobre o tema: Parte I, Parte II, Parte III e Parte IV.

A minha frase favorita do filme Wall Street, saído em 1987, aparece quando Gordon Gekko ridiculariza o personagem Charlie Sheen por suas limitadas ambições: “Não estou falando de US $ 400.000 por ano trabalhando duro em Wall Street, voando de primeira classe e vivendo confortavelmente. ” Ora, ajustado pela inflação, 400 mil, em 1987, equivalem a cerca de US $ 1,1 milhão agora.

O que essa frase diz é que, mesmo em 1987, bem no início do grande aumento da desigualdade pós-1980, muitas pessoas que operavam no setor de finanças – ou seja, que trabalhavam em Wall Street – já recebiam quantias muito grandes e que, por isso, algumas delas estavam acumulando fortunas extraordinárias.

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A desigualdade nos EUA (Parte III)

Autor: Paul Krugman. A Parte I está aqui e a Parte II está aqui.

Havia ficado estabelecido que a terceira parte da série de pequenos artigos sobre desigualdade nos Estados Unidos se concentraria no aumento das fortunas gigantes, algo que vem ocorrendo desde 2000. Contudo, agora vi que essa promessa precisa ser quebrada, por dois motivos. A primeira é que a pesquisa ainda está sendo feita.

A segunda é que surgiu algo mais atual para ser discutido. Eis que o Stone Center on Socio-Economic Inequality realizou seu workshop anual e ele versou sobre os números da desigualdade. O seminário contou com apresentações de pesquisadores e estudiosos mais jovens, mas também de alguns com mais idade. Aquele que aqui escreve foi convidado a dar uma palestra, relativamente não técnica, sobre coisas que atualmente estão em circulação.

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Uma história da direita política

Autor: Matthew McManus [1] (Terceira Parte – A primeira parte está aqui e a segunda está aqui.

Ao longo da história do pensamento de direita, diferentes figuras tentaram fundamentá-lo de maneiras variadas, algumas das quais são interessantes, contraditórias e às vezes pouco sensatas. Na mesma época em que Leo Strauss e Harry Jaffa estavam ressuscitando o conceito de direito natural e condenando o historicismo, Michael Oakeshott e Lord Patrick Devlin argumentavam que as raízes do conservadorismo britânico estavam no respeito e na veneração de uma longa história de tradições. Isso é precisamente o que tornou tais intelectuais bem  compreensíveis para o “homem no ônibus de Clapham”, já que esse tipo tinha pouco interesse em Platão ou Nietzsche, mas muita vontade de restringir a homossexualidade.

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