O povo do capital (II)

Autor: Quinn Slobodian

O ópio social e o animal humano

Charles Murray expandiu esse tema em um artigo que circulou na reunião da Sociedade Mont Pelerin em Cancún, México, em 1996. Eis o que então disse: já que “uma reforma liberal radical… agora parece potencialmente ao alcance nos Estados Unidos”, os neoliberais precisavam pensar sobre o seguinte ponto: “como um estado liberal pode lidar com o sofrimento humano que persiste depois que as políticas liberais passam a vigorar”.

Murray estava sem dúvida bem ciente do processo enormemente perturbador que estava sendo desencadeado pela terapia de choque econômico na Rússia pós-soviética. Por isso, em seu escrito, ele citou com aprovação a analogia de Herbert Spencer da sociedade a um ser humano viciado em drogas: “a transição da beneficência estatal para uma condição saudável de autoajuda e beneficência privada deve ser vista como uma transição de uma vida comedora de ópio para uma vida normal – dolorosa, mas corretiva. “

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O euro pode obter o “privilégio exorbitante”?

Autor: Peter Bofinger [1]Social Europe – 10/06/2025

Christine Lagarde busca um papel internacional maior para o euro; contudo, a realidade econômica da Europa, que é multifacetada, apresenta um desafio complexo. Trata-se, pois, de uma tentativa arriscada para obter um “privilégio exorbitante” tal como é detido hoje pelo dólar.

Em um discurso recente, a presidente Christine Lagarde, do Banco Central Europeu (BCE), articulou um desejo claro de que o euro desempenhe um papel mais significativo como moeda internacional. Argumentou que isso poderia trazer benefícios substanciais para a área do euro. Eis, em síntese, o que ela disse:

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Trump não vai matar o boom

Autor : Nouriel Roubini [1] – Social Europe/Project Syndicate – 16 de maio de 2025

A economia dos EUA vai crescer apesar das artes de Trump. Eis que os mercados, as inovações e a inteligência artificial (IA) estão superando o caos produzido por ele – ademais, elas estão empurrando os Estados Unidos para um crescimento de 4%, com recessão imediata ou não.

Em dezembro passado, argumentei que,  embora algumas das políticas do presidente dos EUA, Donald Trump, fossem estagflacionárias (reduzindo o crescimento e aumentando a inflação), esses efeitos seriam mitigados por quatro fatores: a disciplina de mercado, a independência do banco central dos EUA (Federal Reserve), os próprios conselheiros do presidente e a pequena maioria republicana no Congresso.

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Matando o futuro da civilização

Autor: Paul Krugman – Blog do Substack – 14 de maio de 2025

Podemos estar perdendo nossa última e melhor chance de pôr limites nas mudanças climáticas

No último dia 12 de maio, os republicanos da Câmara divulgaram as partes finais de sua proposta de lei tributária e orçamentária – trata-se, para quem leu, de material para pesadelos. Como documenta Bobby Kogan, do Center for American Progress, o projeto de lei imporia os enormes cortes no Medicaid e no SNAP (Supplemental Nutrition Assistance Program) – que substituiu o antigo programa anteriormente conhecido como vale-refeição –, os maiores da história. Milhões de americanos de baixa renda perderiam a cobertura de saúde; milhões passariam fome. E muitos dos que sofreriam mais seriam as crianças das mais famílias pobres.

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Economia do lado da oferta

Autor: Martijn Konings – Sidecar – 24 janeiro 2025

O renascimento da “economia do lado da oferta” keynesiana e uma política industrial proativa sob o governo Biden pareciam marcar uma mudança significativa. Os neoliberais há muito insistiam que os governos deixassem as forças da globalização do mercado se desdobrarem, acomodadas pela garantia de um ambiente não inflacionário por meio de uma política fiscal e monetária austera.

Mas a crise financeira global e o crescimento dramático do apoio governamental aos mercados financeiros que se seguiram sugeriram que os mercados não eram tão suavemente autorregulados ou “livres” da autoridade pública como se afirmava. As medidas de emergência implementadas durante a pandemia, que ampliaram a rede de segurança financeira muito além do setor bancário, impulsionaram essas ideias para o mainstream.

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O casino global pode explodir?

Escrevendo no dia 10 de abtil, após a queda nos precos dos titulos do tesouro americano, a autora desta postagem se mostrou alarmada. Pouco depois voltou ao normal. Será que o pior já passou? Eis uma pergunta que não tem uma resposta fácil. Leia-se, portanto, o que ela tem a dizer. De qualquer modo, o preço dos titulos do tesouro americano cairam de novo ontem diante das ameaças de demissão que pesam sobre o presidente do Fed.

Autora: Ann Pettifor [1] – Sin Permiso – 19/04/2025

É preciso considerar os perigos do Tesouro dos EUA que figura aogra como uma “fábrica de garantias” de baixa qualidade. Pois, outra falha do sistema bancário paralelo poderá explodir o que chamo de cassino global? E qual será o impacto nas famílias, empresas e governos?

O mercado de títulos dos EUA parece estar afundando, como mostra o gráfico da Bloomberg abaixo. É preciso, pois, parar de falar apenas sobre comércio e começar a falar sobre títulos do Tesouro dos EUA.

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Atingir zero líquido na emisão pode falhar

Autora: Jayati Ghosh [1] – Social Europe – 27 de janeiro de 2025

Atingir o zero líquido pode falhar. E não é porque as energias renováveis são muito caras. A energia solar e a energia eólica agora são mais baratas que os combustíveis fósseis, então por que o sistema global de energia não se tornou verde?

A comunidade internacional há muito reconhece a necessidade urgente de reduzir a dependência de combustíveis fósseis e mudar para energia renovável e, nos últimos anos, muitos governos se comprometeram a atingir emissões líquidas zero de gases de efeito estufa, embora em prazos extremamente longos. Mas eles nunca chegarão lá enquanto tratarem a eletricidade, que é central para a transição para a energia limpa, como qualquer outro bem de mercado.

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Do choque tarifário de Trump: por quê?

Autor: Eleutério F. S. Prado [1]

As medidas tarifárias do governo Trump, assim como as dúvidas sobre quais seriam os seus reais objetivos, tem causado perplexidade.  Se se confia num escrito de Stephen Miran, que figura como presidente do Conselho de Assessores Econômicos do atual presidente dos EUA, o choque tarifário que está sendo implementado visa sobretudo reindustrializar a economia norte-americana. Pois, como disse Trump metaforicamente, “se não se tem aço, não se tem um país”.

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Tarifas comerciais como política econômica: um debate

Autor: Michael Roberts – 02/08/2025

Michael Pettis é professor americano de finanças na Guanghua School of Management da Universidade em Pequim, e membro sênior não residente do Carnegie Endowment for International Peace. Ele se tornou uma fonte de mídia popular sobre a economia da China, mas também sobre o comércio global e as tendências de investimento.

Na esteira do anúncio de Donald Trump de aumentos de tarifas sobre as importações dos EUA de vários países, Pettis tem exposto a visão contra o consenso da economia convencional, sustentando que as tarifas às vezes podem ser benéficas para um país e até mesmo para a economia mundial.

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Eleições: Tarifas e Taxas de câmbio

Richard Koo [1] – Sin Permiso  – 07/12/2024

O que o Japão, os EUA e a Europa têm em comum é a crescente raiva popular com a economia, apesar dos altos preços das ações e do baixo desemprego.

Por que os partidos no poder foram derrotados nas eleições dos EUA e do Japão?

Grandes mudanças políticas estão chegando no Japão, nos Estados Unidos e na Europa. Os EUA e o Japão realizaram eleições nacionais nas últimas semanas e, em ambos os casos, o partido no poder sofreu uma grande derrota, criando grande incerteza sobre a política econômica. Enquanto isso, na Alemanha, a retirada do Partido Democrata Livre (FDP) da coalizão de três partidos deixou o governo em apuros.

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