Nancy Fraser[1]
Entrevista concedida por Nancy Fraser a Lara Monticeli, na qual defende a tese de que “precisamos de uma aliança radical, contra-hegemônica e anticapitalista”. Trata-se de um sumário de seu livro Capitalismo em debate – uma conversa em teoria crítica.”, produzido em coautoria com Rahel Jaeggi (Boitempo, 2020).
Segunda Parte: continuação de O que é o capitalismo?
***
LM: No livro em discussão, você descreve vários tipos de crítica dirigidas ao capitalismo: a crítica funcionalista, a crítica moral e a crítica ética. Você adiciona um quarto tipo, que você chama de crítica pela liberdade…
NF: Certo. O capítulo sobre as “críticas ao capitalismo” baseia-se em grande parte no trabalho de minha coautora, Rahel Jaeggi. Nos capítulos anteriores do livro (ou seja, “conceituando o capitalismo” e “historicizando o capitalismo”), desenvolvi aquilo que já foi delineado aqui nesta entrevista [na parte primeira] sobre o que é o capitalismo e como devemos entender sua história. Mas a próxima questão consiste nas perguntas: o que há de errado (se há algo errado nele) com o capitalismo? Como devemos criticá-lo?
Bem, pelo que eu já disse, você pode ver que um defeito central do capitalismo é sua tendência à crise – a sua tendência a canibalizar seus próprios pressupostos e, assim, a gerar periodicamente miséria galopante e em escala maciça. Portanto, a “crítica” que visa revelar as contradições ou tendências de crise embutidas no sistema, é importante. A sua força consiste em mostrar que a miséria decorrente das crises não é acidental, mas o resultado necessário da dinâmica constitutiva do sistema. Nos últimos anos, no entanto, esse tipo de crítica tem sido censurado. Tem sido rejeitado, junto com o marxismo, sob a acusação de que seria “funcionalista”, isto é, tratar-se-ia ela de uma crítica econômico-reducionista e determinista.
Continuar lendo
Você precisa fazer login para comentar.