Austeridade e keynesianismo

Publica-se aqui a tradução de uma postagem muito interessante de Michael Roberts, a qual foi divulgada recentemente (13/07/2017) em seu blog The next recession. Ela se intromete criticamente no debate muito atual entre os economistas partidários da austeridade e os economistas keynesianos sobre a melhor forma de enfrentar uma recessão profunda – estagnação prolongada, depressão – tal como a que abateu a economia mundial a partir da crise de 2007/2008 e que vem se demorando até o presente. E o faz de uma perspectiva marxista.

O seu texto curto discute dois pontos centrais entrelaçados: 1º) a depressão é causada – ou aprofundada – pelas políticas de austeridade?; 2º) a política keynesiana de gastos públicos pode mesmo tirar o sistema econômico da depressão?  A sua discussão tem como referência principal a situação econômica da Europa, mas ela tem um rebatimento evidente e muito importante na situação atual da economia capitalista no Brasil.

Os economistas keynesianos costumam classificar a austeridade como mero produto de ideologia conservadora ou como decorrência desastrada de má teoria econômica. O texto de Michael Roberts contesta essa tese, assim como, também, a enorme pretensão da teoria keynesiana. Procura mostrar, por um lado, que as evidências empíricas e históricas não abonam uma grande eficácia do multiplicador dos gastos públicos. Sustenta, por outro lado, que a política de austeridade tem, sim, uma racionalidade e que esta é capitalista por excelência. Eis que visa rebaixar ao máximo o salário real seja diretamente, reduzindo os ganhos dos trabalhadores, seja indiretamente, comprimindo os gastos sociais do Estado.

Sustenta que a crise e a recessão prolongada ora observadas devem ser explicadas, em última análise, pela baixa da lucratividade e pelos óbices existentes à retomada da acumulação de capital – e não pela carência de demanda efetiva. Eis que essa última é consequência e não causa última das crises em geral. Sugere, em consequência, que a esquerda deve deixar de se guiar pelas miragens geradas pela teoria de John M. Keynes, passando a se orientar melhor pelos ensinamentos, muito mais sólidos, que vem de Karl Marx. Ele recomenda, também, que se leia o livro de José A. Tapia, cuja imagem de capa está aqui também reproduzida.

O texto de Michael Roberts se encontra aqui: A reversão da austeridade acaba com a depressão?

Financeirização e capitalismo

Figura TinaFinanceirização: Disciplina do Mercado ou Disciplina do Capital?

Quase todas as abordagens contemporâneas sobre a financeirização sustentam que ela resulta do neoliberalismo. E este é entendido como um retorno extemporâneo do rentismo. O domínio do setor financeiro globalizado sobre os sistemas econômicos nacionais não seria, assim, mais do uma distorção histórica que produz uma versão altamente perversa de capitalismo. Pois, além de ser muito mais instável, tal capitalismo superlativo engendra uma sensível piora na repartição da renda.  Ora, os economistas gregos John Milios e Dimitris Sotiropoulos contestam essa tese, mostrando num texto aqui traduzido que a financeirização é uma forma bem-sucedida de reforço da coerção do capital sobre o trabalho. E que surgiu para permitir, em face de certas barreiras históricas, a continuidade da reprodução desta relação social nas melhores condições possíveis.

O texto se encontra aqui: Financeirização – Disciplina do mercado ou disciplina do capital?

A luta pelo “comum”

Da regulação social democrática 

roda de conversaTentando repercutir a tese de que, na atual conjunta histórica, é preciso opor o “comum” à propriedade privada e, mesmo, à propriedade estatal, de que, ademais, é preciso opor a democracia dos iguais à dominância de classe e, mesmo, à democracia burguesa, procura-se desenvolver aqui uma crítica à regulação social democrática. Sustenta-se, em síntese, que ela se tornou, ao mesmo tempo, uma impossibilidade e um estorvo. A tese da defesa do “comum” vem de um texto de Pierre Dardot e Christian Laval que se encontra aqui: Propriedade, apropriação social e instituição do comum.  A tese crítica à regulação moderadora acima mencionada, por sua vez, encontra-se aqui:A regulação social democrática tornou-se anacrônica

Este post,  publicado em 18 de setembro, foi modificado em 20 de setembro de 2015.