O decrescimento é, sim, necessidade imperiosa

Autor: Eleutério F S Prado [1]

Não há dúvida, o capitalismo é globalmente hegemônico. Em quase todos os países que conformam o mundo atual domina o modo de produção histórico que se orienta pela acumulação de capital. Em todos eles, por isso, o crescimento econômico figura como um imperativo socialmente cristalizado. Em consequência, a expansão da produção como riqueza efetiva e da riqueza fictícia na forma de dívidas empapeladas (ou digitalizadas) não pode ser desafiada de modo eficaz. O decrescimento, assim, aparece como uma má utopia.

No entanto, acumulam-se já nos sítios da internet e nas prateleiras das bibliotecas artigos e livros que defendem o decrescimento como uma necessidade imperiosa e mesmo definitiva para o caso de que a humanidade deseje sobreviver nas próximas décadas deste e do próximo século pelo menos. Como se sabe, a razão imediata do surgimento dessa ansiedade teórica – e mesmo prática – advém da preocupação crescente com as mudanças climática enquanto uma mega-ameaça à existência de vida altamente organizada na face da Terra.

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Mudança climática: culpa da humanidade?

Autor: Michael Roberts, blog The next recession, 12/08/2021

O sexto relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) tem quase 4.000 páginas. Os autores tentaram resumi-lo e o apresentaram como a “oportunidade final” para evitar a catástrofe climática. As suas conclusões não mudaram muito desde a publicação anterior, feita em 2013; desta vez, entretanto, elas foram mais incisivas.  

A evidência é clara: conhece-se a causa do aquecimento global – supostamente a humanidade; sabe-se que o planeta está se aquecendo (cerca de 1° grau até agora); sabe-se ainda que as concentrações de CO2 na atmosfera se elevaram desde os tempos pré-industriais, ou seja, aumentaram em 30%; tem-se conhecimento que o aquecimento mostrado até agora foi gerado historicamente pela poluição. É preciso voltar vários milhões de anos para ver algo semelhante ao que se tem hoje. Durante a era do Plioceno (ou seja, entre 5,3 e 2,6 milhões de anos atrás) o mundo tinha níveis de CO2 de 360-420 ppm; agora, esse valor se encontra aproximadamente em 415 ppm.[1] 

Em seu resumo feito para os formuladores de políticas do mundo em geral, o IPCC afirma claramente que a mudança climática e o aquecimento global são “inequivocamente causados ​​pelas atividades humanas”. Mas, pode a mudança climática ser colocada na conta de toda a humanidade – e não na conta daquela parte que possui, controla e decide sobre o que acontece com o nosso futuro? 

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