Crítica do sujeito moderno e crítica da economia política

Notas sobre o método da crítica

Autora: Sandrine Aumercier – Blog Pslim-Psao – Publicado em 18/06/2022

Em busca de um conceito político de psicanálise

Por que é tão difícil falar de Psicanálise em Economia Política? Farei algumas considerações de método sobre essa questão. Freud nunca se perguntou se a psicanálise deveria evitar falar sobre sociedade, civilização ou fenômenos coletivos: para ele, isso era evidente e constituía uma parte muito importante de seu trabalho. É até incrível o quanto ele nunca deixou de trazer essa questão de volta à tona.

O seu problema era saber se os conceitos resultantes da cura individual eram adequados teoricamente. Ele não estava satisfeito com as analogias que tinha que produzir, nem com certos discursos transculturais. É necessário notar uma aporia em sua investigação: se trata da autonomização do desenvolvimento cultural, é obrigado ao mesmo tempo a se referir a um fenômeno orgânico. Ele permanece, portanto, dependente de uma visão historicista, imperialista e lamarckiana característica de seu tempo. Por isso, os termos de Freud não são mais nossos, ainda que ele lance as bases para uma teorização psicanalítica dos processos culturais.

Se Lacan rompe com a herança do Iluminismo, a sua teorização do coletivo também não se envolve em profundidade com a crítica da economia política. O eco fantástico de algumas referências de Lacan a Marx não vem a ser uma salvação. Lacan, aliás, nunca desenvolveu as suas intuições e hoje elas parecem requerer uma releitura de Marx por quem as examina. Porém, o nome de Lacan não é uma garantia.

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Marxismo e psicanálise: a tese de Samo Tomsic

Autor: Samo Tomšic[1]

Introdução: a frágil aliança entre marxismo e psicanálise

Na última década, os desenvolvimentos do capitalismo impulsionados pela crise desencadearam um interesse renovado nas interseções teóricas e políticas entre o marxismo e a psicanálise. O valor político da psicanálise continua atrelado ao fato de que Freud ressignificou significativamente a problemática da alienação com sua teoria do inconsciente. Ademais, ele elaborou uma complexa concepção desnaturalizada da sexualidade e forneceu insights abrangentes sobre o entrelaçamento entre o poder e o gozo.

O fio condutor de várias tentativas históricas e contemporâneas de aliar marxismo e psicanálise consiste, portanto, no reconhecimento de que a crítica da economia política sempre exige uma crítica da economia libidinal e vice-versa. No entanto, a interação entre marxismo e psicanálise sempre foi marcada pela desconfiança mútua, pela crítica e pelo distanciamento. É claro que trabalhar em sua aliança não implica que o método terapêutico de Freud, seus marcos conceituais e objetivos clínicos, estejam inteiramente em sintonia com as perspectivas da política emancipatória.

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