Marxismo e psicanálise: a tese de Samo Tomsic

Autor: Samo Tomšic[1]

Introdução: a frágil aliança entre marxismo e psicanálise

Na última década, os desenvolvimentos do capitalismo impulsionados pela crise desencadearam um interesse renovado nas interseções teóricas e políticas entre o marxismo e a psicanálise. O valor político da psicanálise continua atrelado ao fato de que Freud ressignificou significativamente a problemática da alienação com sua teoria do inconsciente. Ademais, ele elaborou uma complexa concepção desnaturalizada da sexualidade e forneceu insights abrangentes sobre o entrelaçamento entre o poder e o gozo.

O fio condutor de várias tentativas históricas e contemporâneas de aliar marxismo e psicanálise consiste, portanto, no reconhecimento de que a crítica da economia política sempre exige uma crítica da economia libidinal e vice-versa. No entanto, a interação entre marxismo e psicanálise sempre foi marcada pela desconfiança mútua, pela crítica e pelo distanciamento. É claro que trabalhar em sua aliança não implica que o método terapêutico de Freud, seus marcos conceituais e objetivos clínicos, estejam inteiramente em sintonia com as perspectivas da política emancipatória.

Ainda assim, há lições importantes a serem extraídas da noção de inconsciente e de outros conceitos freudianos fundamentais, que questionam ou criticam as concepções modernas de subjetividade em termos de consciência, autonomia, intencionalidade e liberdade. Outra perspectiva política decorre do foco de Freud na gênese social das “doenças mentais”, sua exposição do impacto traumático dos imperativos estruturais e dos processos sociais. Em seus escritos sobre cultura, Freud reconheceu abertamente na exploração, na guerra e na crise três características essenciais do capitalismo, as quais uma etiologia traumática da neurose deve levar em conta.

Mais uma vez, esse reconhecimento por si só não faz de Freud um pensador da emancipação, mas seu nome e obra são o local de um conflito filosófico, epistemológico e político, um terreno que a esquerda deveria se esforçar para reivindicar, em vez de descartar Freud como um obsoleto ou pensador reacionário. O paradigma da apropriação emancipatória de Freud continua sendo a obra de Juliet Mitchell (2000). Uma discussão mais ampla sobre o lugar da psicanálise na história do feminismo pode ser encontrada em Campbell (2016: 233-52).

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[1] Samo Tomsic é pesquisador do laboratório interdisciplinar Bild Wissen Gestaltung, na Universidade de Humboldt, em Berlin. Em 2015, escreveu The capitalism unconscius: Marx and Lacan, Verso, 2015.