Tarifas comerciais como política econômica: um debate

Autor: Michael Roberts – 02/08/2025

Michael Pettis é professor americano de finanças na Guanghua School of Management da Universidade em Pequim, e membro sênior não residente do Carnegie Endowment for International Peace. Ele se tornou uma fonte de mídia popular sobre a economia da China, mas também sobre o comércio global e as tendências de investimento.

Na esteira do anúncio de Donald Trump de aumentos de tarifas sobre as importações dos EUA de vários países, Pettis tem exposto a visão contra o consenso da economia convencional, sustentando que as tarifas às vezes podem ser benéficas para um país e até mesmo para a economia mundial.

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Captura e produção de valor na economia mundial

 Autor: Tomás N. Rotta [2]

Introdução: análise marxista das cadeias globais de valor, 2000-2014 [1]

A entrada da China na Organização Mundial do Comércio (OMC) em 2001 e a subsequente mudança da manufatura dos Estados Unidos e da Europa para a Ásia remodelaram drasticamente as cadeias de valor globais. Essa nova fase da globalização, impulsionada pela ascensão da China, resultou em uma desindustrialização significativa nos Estados Unidos e na Europa, com impactos profundos nos salários, emprego, política e distribuição de renda. Nesse contexto, o presente estudo fornece uma nova análise empírica de como o valor econômico é produzido e distribuído na economia global.

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Do neofeudalismo ao capitalismo

Autor: Eleutério F. S. Prado [1]

Faz-se nessa nota um comentário sobre um escrito de Jodi Dean em que essa autora do campo crítico explica por que pensa que o modo de produção capitalista está se transformando num novo outro que denomina de neofeudalismo. O seu artigo From neoliberalism to neofeudalism recém-publicado [2] se mostra bem apropriado como objeto de crítica porque está construído com base numa ingenuidade metodológica.

Eis que apresenta essa tese partindo de uma definição de capitalismo:

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Ciclos longos na economia capitalista

Michael Roberts – The next recession blog – 26/12/2024

Há muito simpatizo com o conceito de longos ciclos na produção e acumulação capitalistas. A ideia é que a produção capitalista se move em ciclos, não apenas booms e recessões a cada 8-10 anos ou mais, mas que também há períodos mais longos de acumulação e crescimento da produção geralmente mais rápidos, ou seja, períodos de relativa prosperidade seguidos por períodos de acumulação e crescimento relativamente mais lentos.  com mais recessões. Esses ciclos ou ondas mais longas duram cerca de 50 a 60 anos, incluindo as fases de expansão e queda.

Se tais ciclos existirem e puderem ser apoiados por evidências empíricas, eles forneceriam um indicador importante do estado da economia capitalista mundial.

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A crise do capitalismo tardio e a banalidade do mal

Autor: Fernando Rosas [1] – 19/11/2024 – Portal Esquerda

A banalidade do mal fabricada pela alienação é o caminho aberto para o desastre que só a resistência contra hegemônica pode e deve travar.

O conceito de banalidade do mal foi adiantado por Hannah Arendt no livro publicado em Maio de 1963 sobre o julgamento de Adolf Eichmann em Jerusalém entre Abril de 1961 e Maio de 1962, data em que foi executado após confirmada a sua sentença de morte. Eichmann era o tenente-coronel das SS, destacado na Gestapo, a polícia política da Alemanha nazi, onde se tornara o principal “especialista” da “questão judaica”, vindo a ser responsável pela gigantesca operação logística que implicou o extermínio da população judia da Alemanha e de todos os países sob ocupação do III Reich.

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O capital está morto?

Autor: Eleutério F. S. Prado

Os eventuais leitores deste textinho podem não acreditar, mas aquele que aqui escreve recebeu uma mensagem do além – além daquilo que aprendeu estudando O capital. E ela começa afirmando algo bem conhecido: no período que se inicia nos anos 80 do século passado, ocorreu uma “implosão da estabilização do mundo do trabalho fordista”. Começa bem, portanto, mas logo se aventura por sendas desconhecidas. Sugere, nesse sentido, que esse processo afetou de modo crucial o desenvolvimento da sociedade moderna; agora, passadas quatro décadas de seu início, ou o capital está moribundo ou ele está morto.

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Cidadão Trump: sob o jugo do excesso

Autor: Todd McGowan [1]

O que falta a Kane

Houve pelo menos uma vez em que Donald Trump se mostrou mais capaz do que qualquer outro presidente americano. Quando perguntado sobre seu filme favorito, Donald Trump deu uma resposta digna de um estudioso de cinema. Ele nomeou Cidadão Kane (1941), de Orson Welles, não apenas como o melhor filme já feito, mas como o seu pessoalmente favorito.

Certamente essa é a melhor resposta que qualquer outro presidente americano possa ter dado para essa pergunta. Mas quando se a considera de imediato, parece que se trata de um deslize inconsciente. Trump identifica como seu favorito o único filme que narra o vazio de um homem rico e poderoso que tem uma semelhança notável com ele mesmo.

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O capitalismo se tornou rentista?

Autor: Eleutério F. S. Prado

Bank sign on glass wall of business center

Nesta nota, responde-se a essa pergunta com uma negação: não, o capitalismo não se tornou rentista. Veja-se, porém, que essa posição não quer cair numa apreciação vulgar, já que, ao contrário, pretende remontar à crítica da economia política. Que fique, pois, claro desde o início: uma resposta afirmativa à essa indagação conteria já forte censura ao rumo desse modo de produção.  

Na verdade, a tese apontada no questionamento contém um fundo de verdade que precisa ser apreendido de outro modo. Por isso mesmo, essa nota se desenvolve por meio de uma crítica ao importante livro de Brett Christophers assim denominado. Em Rentier Capitalism [1], esse autor não apenas afirma, mas também pergunta quem são os donos da economia assim constituída e quem paga por isso.

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O domínio exuberante do capital fictício

Autor: Renildo Souza[1]

O papel crucial da ciência e da tecnologia na economia capitalista do século XXI favorece a valorização das mercadorias-conhecimento gerando as chamadas renda-conhecimento

Neste artigo, centrado na categoria capital fictício e nos bancos, voltamos a discutir as possíveis pistas, os começos de elaboração, acerca da finança da lavra de Karl Marx na Seção V do livro III de O capital.

Em sua definição, Marx explicou: “A formação do capital fictício tem o nome de capitalização. Para capitalizar cada receita que se repete com regularidade, o que se faz é calculá-la sobre a base da taxa média de juros como o rendimento que um capital, emprestado a essa taxa de juros, proporcionaria”.[i]

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A genealogia incomum do conceito de capitalismo

Autor : Marcello Musto [1] – Sin Permiso – 20/10/2024

Embora Karl Marx seja considerado o principal crítico do capitalismo, ele raramente usou esse termo. A palavra também estava ausente dos primeiros grandes clássicos da economia política. Não só não tinha lugar nas obras de Adam Smith e David Ricardo, como também não foi usado nem por John Stuart Mill nem pela geração de economistas contemporâneos de Marx. Eles usaram o termo capital — comum desde o século XIII – mas não o termo capitalismo, que dele se deriva.

O termo capitalismo não apareceu até meados do século XIX. Era uma palavra usada principalmente por aqueles que se opunham à ordem existente das coisas, o qual tinha ademais uma conotação muito mais política do que econômica. Alguns pensadores socialistas foram os primeiros a usar essa palavra, sempre de forma depreciativa. Na França, em uma reedição da famosa obra L’organisation du travail, Louis Blanc argumentou que a apropriação do capital – e, através do próprio capital, do poder político – era monopolizada pelas classes abastadas.

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