A defesa da sociedade hierárquica

Autor: Matthew McManus [1] (Segunda Parte. A primeira parte está aqui)

Curiosamente, a direita política foi a segunda, não a primeira, doutrina importante a surgir na época moderna. Isso pode parecer estranho, já que os conservadores muitas vezes se consideram defensores de valores mais antigos e duradouros do que os liberais e, certamente também, do que os socialistas. E, de fato, a direita política geralmente se baseia em autores da antiguidade e o faz mais intensamente que que nos liberais ou socialistas, quer se trate de Aristóteles, Confúcio ou as inúmeras vertentes do quase-tomismo.

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Ser de direita em política

Autor: Matthew McManus [1] (Primeira Parte)

O que significa ser de diteita em política?

É a adesão que define a condição da sociedade e que constitui a sociedade como algo maior do que o “agregado de indivíduos”, tal como a mente liberal a percebe. Os conservadores são céticos em relação às reivindicações feitas em nome do valor do indivíduo, se elas entram em conflito com a fidelidade necessária à manutenção da sociedade. E é assim,  mesmo se se deseja que o Estado (no sentido do aparato do governo) mantenha um controle bem frouxo das atividades dos cidadãos enquanto indivíduos. Pois, a individualidade é também um artefato, uma conquista que depende da vida social das pessoas.

(Roger Scruton – O Significado do Conservadorismo)

A posição de direita na história moderna

Desde pelo menos a eleição de Trump em 2016, a questão do que constitui a direita em política – e o que a distingue do liberalismo e do socialismo – ganhou importância renovada. Na direita política [norte-americana], o termo “liberal” tem sido frequentemente usado em sentido pejorativo, como se fosse um insulto – eis que tem apenas menos veneno do que o termo “socialista”. No entanto, muitos intelectuais proeminentes da direita política (…) orgulhosamente se identificam como “liberais clássicos”, especialmente quando fazem discursos inflamados sobre alguma suposta doutrinação de estudantes universitários.

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O neoliberalismo morreu?

Autor: Eleutério F. S. Prado [1]

A questão é bem controversa. Segundo Nancy Fraser, o neoliberalismo não morreu; contudo, passou da fase progressista para uma fase reacionária (veja-se a nota Depois do neoliberalismo). Já para Branko Milanovic o mundo está entrando em uma nova era, mas o neoliberalismo não chegou ao fim. Segundo ele, os países ricos adotam agora uma política com dupla face:  abandonam a globalização neoliberal internacionalmente, mas continuam a promover um projeto neoliberal internamente (veja-se a nota O que vem depois da globalização?).

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Armadilha do dólar ou Império por convite?

A economia política global do sistema do dólar é uma prisão da qual os outros países querem sair ou uma gaiola dourada em que muitos países querem permancer?

Adam Tooze – Fonte: blog do autor – 20/07/2025

Se alguém quisesse construir um cenário prejudicial às pretensões americanas de liderar o mundo economicamente, ele teria de parecer com o que está sendo construído pelo governo Trump.

Eis que ele está reforçando a sensação de longa data de que a posição do dólar americano como moeda de reserva mundial e principal moeda do comércio internacional se tornou anacrônica; na verdade, o seu predomínio está em franco desacordo com a diminuição da importância dos Estados Unidos na economia mundial.

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Crises geradas pelos criptoativos virão

Autor: Simon Johnson [1] – Project Syndicate – 4/08/2025

Tendo adotado uma importante legislação sobre moeda digital (a Lei GENIUS e a Lei CLARITY foram ou estão sendo aprovadas na Câmara dos Representantes), os Estados Unidos estão prestes a se tornarem um importante centro de atividades relacionadas às criptomoedas. Tomando literalmente o que o presidente Donald Trump, os Estados Unidos da América do Norte estão se tornando a “capital mundial da criptomoeda”. Mas aqueles que apoiam a nova legislação deveriam ter mais cuidado com aquilo que desejam.

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Keynesianismo e o problema da lucratividade

O autor da nota publicada em sequência, que se perfila como keynesiano, examina as consequências da política econômica keynesiana na lucratividade do capital – o que é raro nesse ramo da literatura sobre macroeconomia. No entanto, ele não toca na questão das relações entre a acumulação de capital, o aumento da produtividade do trabalho e da queda da produtividade aparente do capital e, assim, da tendência ao declínio da taxa de lucro.   

Eis o artigo:

Autor: Nick Johnson – Fonte: The political economy of development – 2/07/2025

O que salva o capitalismo hoje pode enfraquecê-lo amanhã. As políticas governamentais que sustentam o pleno emprego correm o risco de sustentar o capital improdutivo [de valor excedente] e atrasar a destruição criativa. Mas existe uma solução progressiva para esse problema?

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Os países “atrasados” vão se tornar “adiantados”?

Autor: Michael Roberts. Apresentação: Eleutério F. S. Prado

Michael Roberts fez uma apresentação desse tema na Conferência da Associação de Economia Heterodoxa, em Londres, em junho de 2025. Aqui se faz um esforço para traduzir essa apresentação num texto corrido. Para colocar em dúvida a suposta “história de recuperação” dos páises atrasados, esse blogueiro famoso faz primeiro uma pergunta. Para apresentar, depois, uma resposta contundente.

Eis a pergunta: “Os países pobres do chamado Sul Global estão “alcançando” os países mais ricos do chamado Norte Global?”

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A ideologia do capital posto em plataformas

Autor: Eleutério F. S. Prado [1]

Nesse artigo pretende-se examinar criticamente a tese sobre o atual desenvolvimento e sobre o futuro do capitalismo, apresentada por Peter Thiel em seu livro De zero a um.[2] Formado em Filosofia e Direito e grande investidor em tecnologias digitais, esse intelectual engajado previu nele que o futuro desse sistema econômico, baseado que está na relação de capital, será formidável.

Além de ter se tornado um controvertido bilionário que milita como empresário no Vale do Silício, esse autor é conhecido por apoiar a criação de “cidades de liberdade”. Nelas – imagina ele – o capitalismo é extremado e se desvencilha do Estado e da política, mas não evidentemente da polícia. Eis que a segurança em tais cidades será feita por robôs munidos de inteligência artificial, os quais terão a função de expulsar ou eliminar os intrusos e os indesejados.  

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Desenvolvimento (pouco) com dívida insustentável

Autor: Michael Roberts – The next recession blog – 30/06/2025

Os líderes mundiais se reúniram em Sevilha, Espanha, para uma cúpula de ajuda da ONU para países em desenvolvimento. Esta foi a Quarta Conferência Internacional sobre Financiamento para o Desenvolvimento.  Pelo menos 50 líderes mundiais, incluindo o presidente francês Macron, a chefe da UE von der Leyen e o chefe da ONU Andrés Guterres estarão lá.  A conferência deve aumentar o apoio ao desenvolvimento global, os chamados objetivos de desenvolvimento sustentável estabelecidos décadas atrás pela ONU, com o objetivo de tirar os países pobres e seus povos da pobreza.

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Criptoativos: formas de ocultação

Michael Roberts – The next recession blog14/07/2025

O Bitcoin não é investimento, mas meio de especulação. Não é regulamentado, não tem lastro em nenhum ativo; vale apenas o que alguém está disposto a pagar por ele.” – Mateus Stephenson

“Trata-se de um jogo totalmente louco e estúpido” – Charlie Munger (2023).

As criptomoedas são altamente voláteis e, por isso, não são realmente úteis como reservas de valor; elas não estão apoiadas em nada… Figuram como ativos especulativos que, essencialmente, substituem o ouro e não o dólar”.  Presidente do Federal Reserve Bank, Jay Powell

“Bitcoin, parece uma farsa…. Não gosto porque vem a ser outra moeda competindo com o dólar. Donald Trump, em junho de 2021.

A semana nos EUA está marcada pelos ativos designados como criptos. Note-se de passagem que o preço do criptoativo[1] mais saliente, o Bitcoin, atingiu um recorde de US$ 120.000.  Ora, nessa semana, o Congresso dos EUA se prepara para considerar projetos de lei destinados a criar estruturas regulatórias mais claras para os ativos digitais.  Os legisladores dos EUA considerarão vários ordenamentos com esse objetivo: Genius Act, o Digital Asset Market Clarity Act e o Anti-CBDC Surveillance State Act. O objetivo é tornar a “América a capital mundial dos criptoativos”.

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