Capitalismo subsidiado

O Estado, hoje, é uma grua que levanta um capitalismo arruinado

Autor: Paul Sweeney [1], Social Europe, 6/10/2022

Para lidar com a crise climática, os governos devem reconhecer que apenas o Estado foi capaz de conter as crises nas três últimas crises.

Eventos climáticos extremos, como as inundações no Paquistão, que deixam um enorme número de mortes e espalham miséria em seu rastro, tornam a crise climática uma ameaça existencial.

Houve uma transformação revolucionária do capitalismo, o sistema econômico ocidental, em pouco mais de uma década. Quatro eventos extraordinários demonstraram que, na maioria dos países, a relação entre o Estado e o mercado se transformou, alterando radicalmente o sistema econômico. O impacto na política está sendo sentido, mas ainda não foi totalmente reconhecido, especialmente pelos progressistas.

A primeira grande mudança foi a resposta dos Estados-nação ao colapso em 2008 do modelo de neoliberalismo – atores “racionais” operando em mercados “livres” – com a crise financeira. O resgate estatal de empresas financeiras privadas custou grandes somas aos contribuintes de todos os países. No Reino Unido, o National Audit Office colocou o resgate dos bancos em £ 1 trilhão em seu pico. Nos Estados Unidos, entre muitas estimativas, foi adiantado um valor de US$ 500 bilhões. Quanto à Irlanda, custou € 64 bilhões – mais que o dobro da receita tributária total em 2010 – para resgatar seus bancos.

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Não há luz no túnel da longa depressão

Autor: Michael Roberts

The next recession blog – 13/03/2022

Uma das minhas teses básicas sobre o capitalismo moderno é que, desde 2008, as principais economias capitalistas estão no que chamo de “longa depressão”. No meu livro de 2016 com este mesmo nome, distingo entre o que os economistas chamam de recessões (quedas na produção, investimento e emprego) e depressões.

Sob o modo de produção capitalista (isto é, a produção social voltada lucro; este provém do trabalho humano e apropriado por um pequeno grupo de proprietários dos meios de produção), tem havido quedas regulares e recorrentes a cada 8-10 anos desde o início do século XIX. Após cada queda, a produção capitalista revive e se expande por vários anos, antes de retornar a uma nova queda.

No entanto, as depressões são diferentes. Em vez de sair após um tempo da recessão, as economias capitalistas permanecem deprimidas por longo tempo, com menor produção, investimento e crescimento do emprego.

A depressão não é uma novidade. Ela ocorreu por três vezes na história do capitalismo:

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Mais sobre uma taxa de lucro mundial

Artigo original de Michael Roberts, publicado em seu blog The next recession blog, em 20/09/2020

No post anterior, apresentei uma nova abordagem para calcular a taxa de lucro mundial. Não vou repassar aqui os argumentos lá apresentados, pois aquele post, assim como os anteriores sobre o assunto, está disponível no blog original (e numa tradução antes apresentada na semana passada). Mas naquela publicação, disse que apresentaria uma decomposição da taxa de lucro mundial nos fatores que a determinam.

Ademais, disse que iria relacionar a mudança na taxa de lucro à regularidade e intensidade das crises no modo de produção capitalista. Ademais ainda, consideraria a questão de saber, dada à tendência para a taxa de lucro cair (algo bem é consistente com a argumentação de Marx), se ela poderia chegar a zero eventualmente? E se isso vier a ocorrer, o que isso significa sobre o próprio capitalismo? Vou responder partes dessas questões neste post.

Primeiro, vou reapresentar os resultados da medição da taxa de lucro mundial tal como apareceu na postagem de julho. Com base nos dados agora disponíveis no Penn World Tables 9.1 (série IRR original), calculei a taxa média (ponderada) de lucro sobre ativos fixos para as principais economias do G20 de 1950 a 2017 (último ano disponível).

O artigo completo está aqui: Mais sobre uma taxa de lucro mundial

Estimativas da taxa de lucro mundial

 Artigo de Michael Roberts, publicado no blog The next recession blog, em 25 de julho de 2020.

O modelo de capitalismo de Marx pressupõe uma economia mundial. Ademais, ele começou o seu estudo pelo “capital em geral”. Foi nesse nível de abstração que Marx desenvolveu o seu modelo das leis do movimento do capitalismo e, em particular, o que ele considerava como a mais importante lei do movimento do processo de produção capitalista, a lei da tendência de queda da taxa de lucro.

Em consequência, a taxa de lucro é o melhor indicador da ‘saúde’ de uma economia capitalista. Ele fornece um previsor significativo sobre o investimento futuro e a probabilidade de recessão ou crise econômica. Portanto, o andamento, o nível e a direção da taxa de lucro mundial pode ser um guia importante para predizer o desenvolvimento futuro da economia capitalista como um todo.

No entanto, no mundo real, existem muitos capitais particulares. Ademais, não há apenas um estado capitalista mundial, mas muitos estados capitalistas nacionais. Portanto, existem barreiras para o estabelecimento de uma economia mundial e uma taxa mundial de lucro. O comércio e as restrições de capital tentam preservar e proteger os mercados nacionais e regionais do fluxo de capital global. Mesmo assim, o modo de produção capitalista agora se espalhou por todos os cantos do globo e a “globalização” do comércio e dos fluxos de capital torna o conceito de medida de uma taxa mundial de lucro mais realista. Parece, pois, fazer sentido.

O artigo completo está aqui: Uma taxa de lucro mundial