Introdução a O capital, mas sem dialética

Autor: Eleutério F. S. Prado [1]

Está agora disponível em português um livro bem-sucedido editorialmente que se apresenta como uma introdução orgulhosamente analítica à obra mais importante de Karl Marx, da qual outros estudiosos dizem ser uma apresentação racional, imanente e dialética do modo de produção capitalista. Eis que a editora Boitempo acaba de publicar a Introdução a O Capital de Michael Heinrich que veio à luz na Alemanha em 2004 e que foi traduzida para o inglês no mesmo ano. Diferentemente das edições nessas duas línguas, a original preferiu fazer menção ao subtítulo da obra, Kritik der politischen Ökonomie: eine Einführung. Eis que ele indica já que ela vem a ser uma crítica interna ao objeto e às compreensões que permanecem externas ao objeto, isto é, ao sistema da relação de capital.

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Intepretação da forma valor em Marx

Autor: Michael Roberts

Como mencionei em uma nota recente em meu blogue The next recession, na conferência Historical Materialism em Londres, em novembro de 2023, foi lançado o novo livro de Fred Moseley, Marx’s Theory of Value. Ele discute como interpretar o primeiro capítulo de O Capital. E faz uma crítica à interpretação de Michael Heinrich no que se refere à forma valor. Michael Heinrich e Winfried Schwarz (marxista alemão crítico da interpretação de Heinrich) participaram da apresentação do livro.

O livro de Moseley é um exame da teoria do valor de Marx contida no capítulo 1 de O capital, quase parágrafo por parágrafo nas seções 1 e 2, e uma crítica detalhada da interpretação de Heinrich sobre o valor enquanto forma de valor, conforme apresentado em seu livro de 2021, How to Read Marx’s Capital, que é uma tradução de seu livro de 2018 Wie das Marxsche Kapital Lesen?

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Lei de Marx: pura lógica? lei empírica?

marx e criseApresenta-se nesta nota, em primeiro lugar, um resumo do debate recente entre Michael Heinrich e Michael Roberts sobre a validade da lei da queda tendencial da taxa de lucro. O primeiro autor, dando continuidade à tradição marxista contestadora, veio mais uma vez afirmar que ela não é nem empiricamente testável nem logicamente coerente. O segundo, na tradição marxista defensora, rebateu outra vez esses argumentos sustentando justamente o contrário. Em sequência, a nota procurar mostrar que ambas essas posições polares estão equivocadas. Pois, a lei de Marx não é nem uma proposição empírica vulgar nem uma tese puramente lógica. Ao contrário, vem a ser uma afirmação transfactual que expressa uma possibilidade real – uma necessidade relativa -, a qual apenas pode ser compreendida como momento expositivo no interior da dialética da acumulação de capital.

Para ler a nota chique aqui: Lei de Marx – Texto II

Uma coisa transcendental

???????????????????????????????????????? Michael Heinrich virá ao Brasil em março para uma conferência. Ele é autor de um livro importante, bem rigoroso e muito didático, não traduzido para o português, que se chama Uma introdução aos três volumes de O Capital de Marx. Para divulgar um pouco o seu trabalho, este blog publica uma tradução de um pequeno artigo de sua lavra sobre o conceito de dinheiro na obra de Marx, o qual foi publicado antes em alemão e em inglês. Para apresentá-lo, ele menciona, comparativamente, como esse objeto social é apreendido pela escola neoclássica e pela escola keynesiana. Heinrich mostra que o dinheiro, em Marx, aparece como uma coisa com qualidades transcendentais. Indica, então, porque o capital é um importante desenvolvimento do dinheiro e porque ele engendra as suas próprias crises. Depois disso, explica a conexão entre crise econômica e crise financeira. Leia esse pequeno trabalho clicando aqui: Uma coisa com qualidades transcendentais.