A fenomenologia de Tran Duc Thao

Título original: A origem e a gênese da consciência pura: o conteúdo real da fenomenologia por meio do materialismo dialético de Tran Duc Thao.[1]

Jérôme Melançon – Universidade de Regina, Canadá

Resumo

A leitura de Husserl por Tran Duc Thao visa desembaraçar a noção de consciência pura para redescobrir a realidade da vida humana. O marxismo, portanto, permitiu que Thao fosse além da fenomenologia para alcançar os objetivos do próprio marxismo. A partir do que ele retém do idealismo transcendental de Husserl, Thao desenvolve um materialismo dialético no qual a subjetividade é o movimento da própria tomada de autoconsciência da natureza.

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Consequências distributivas do neoliberalismo na Rússia

Autor: Ahmad Seyf [1]

Seja qual for a aparência atraente que seja apresentada, o neoliberalismo consiste em um conjunto de políticas que buscam impor as regras do mercado à totalidade vida humana. Em outras palavras, as regras do mercado são, na verdade, a mercantilização de tudo o que é necessário e exigido para atender às necessidades humanas. Ao confiar demais nos possíveis benefícios do desempenho do mercado, os defensores dessas políticas não prestam atenção suficiente ao fato de que o resultado da implementação dessas políticas é a consolidação da tirania absoluta do dinheiro sobre todos os aspectos da vida humana.

Ou seja, não está claro o que aqueles que não têm dinheiro ou não têm dinheiro suficiente devem fazer para atender às suas necessidades em tal sistema! Porque a realidade do que existe e é promovido neste sistema é a crença de que se pode comer apenas quanto se paga ou, em outras palavras, sob o sistema capitalista, ninguém recebe um almoço grátis.

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O valor é substância em Marx?

Eleutério F. S. Prado[1]

Introdução

Em artigo anterior, O fim incontornável de uma teoria, [2] tentou-se responder a uma importante crítica de Marcos Barbosa de Oliveira posta em seu escrito Considerações sobre a economia da atenção.[3] Refletindo depois, achou-se que não se havia discutido de modo suficiente esse tema que se afigura crucial para bem compreender o primeiro capítulo de O capital e, assim, o livro como um todo.

O autor da crítica havia “acusado” Karl Marx de formular uma teoria do valor metafísica. “Marx inicia a sua obra” – escreveu ele – “com uma análise abstrata da mercadoria”. Ora,“não tenho simpatia pela teoria do valor trabalho, nem concordo com uma concepção de mercadoria que julgo essencialista”. A ideia fundamental de Marx, apanhada em Aristóteles, segundo ele, consistiria em apresentar o valor como um substrato do preço”. O valor afirma conclusivamente é apresentado em O capital como uma substância que teria a mesma natureza da “ousia” – o ser ou essência da coisa.

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Não-identidade e relativismo histórico

Autora: Susan Buck-Morss [1]

Estamos perto do cerne do argumento de Adorno; eis aqui um protótipo de sua abordagem em geral. É correto dizer que Adorno não tinha nenhum conceito de história no sentido de uma definição ontológica e positiva de seu significado filosófico. Em vez disso, tanto a história quanto a natureza, tomados como opostos dialéticos, eram para Adorno conceitos cognitivos, não muito diferentes das “ideias reguladoras” de Kant.

Ora, esses conceitos foram aplicados em seus escritos como ferramentas críticas para a desmitificação da realidade. Ao mesmo tempo, cada um deles forneceu uma crítica ao outro. A natureza forneceu a chave para expor a não-identidade entre o conceito de história (como uma ideia reguladora) e a realidade histórica, assim como a história forneceu a chave para desmitificar a natureza. 

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O fim incontornável de uma teoria

Autores: Jorge Nóvoa [1] e Eleutério F. S. Prado [2]

Uma ideia luminosa

Sim, parecia uma teoria inovadora quando surgiu no artigo Em busca de uma teoria do valor-atenção [3], o qual foi publicado não faz muito tempo na grande rede de informação e comunicação em que tudo parece morrer de modo bem rápido e, igualmente, durar para sempre; contudo, não demorou muito, para que essa teoria recebesse algumas críticas, as quais ofuscaram o seu brilho e empanaram a pretensão que a engendrara. [4] Isso pressionou o seu autor, Marcos Barbosa de Oliveira, a tentar esquecer que a formulara. E o fez num novo artigo que denominou Considerações sobre a economia da atenção.[5]

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Quem está vencendo a guerra comercial iniciada por Trump?

Ben Norton [1] – Blog do Substack – 02/11/2025

A economia dos EUA é vulnerável e muito mais dependente da China do que vice-versa. A prova disso é a trégua na guerra comercial de um ano que Donald Trump estabeleceu em sua reunião com o presidente Xi Jinping. Eis que Trump, como ficará demonstrado nessa postagem, está claramente perdendo a guerra comercial com a China

Trump realizou uma importante reunião com o presidente da China, Xi Jinping, na cidade sul-coreana de Busan, em 30 de outubro. Lá, eles chegaram a um novo acordo, que equivalia a uma trégua de um ano. O governo dos EUA concordou em suspender a maioria das medidas punitivas que havia imposto à China desde abril de 2025, essencialmente trazendo a situação de volta ao que era em janeiro, quando Trump assumiu o cargo para seu segundo mandato.

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História natural e natureza histórica

Autora: Susan Buck-Morss [1]

Adorno formulou sua concepção de história muito cedo; apresentou-a num discurso na Kantgesellschaft (Sociedade Kant), em julho de 1932, em Frankfurt. Como aconteceu com seu programa de filosofia de 1931, esse discurso nunca foi publicado por Adorno. Entretanto, manteve um significado duradouro em sua teoria, já que ele o incorporou ao seu argumento (e até mesmo o citou diretamente) em seu estudo de 1966, que ficou conhecido como Dialektik Negative (Dialética Negativa).

Embora a linguagem do documento mostre Adorno em sua forma mais obscura, isso não se constitui num obstáculo intransponível à compreensão, quanto se tem em conta os pontos que já foram esclarecidos. Na verdade, serve para ilustrar esses pontos por meio de um documento concreto.

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Um “nobel” para um neoshumpteriano!

Autor: Cédric Durand [1]

A abordagem neoschumpeteriana de Philippe Aghion – coautor de O Poder da Destruição Criativa (2021), entre muitos outros livros – teve uma influência significativa na política econômica europeia desde a virada do século. No mês de outubro, ele recebeu, com dois outros economistas, o Prêmio Sveriges Riksbank em memória de Alfred Nobel, o prêmio de maior prestígio na disciplina. O comitê que o escolheu para recebê-lo elogiou a sua suposta teoria sobre como a inovação fornece o ímpeto para o crescimento.

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Gerar informação gera mais-valor?

Autor: Eleutério F. S. Prado [1]

Introdução

Uma escrita enigmática, às vezes, costuma medrar no campo lacaniano. Os psicanalistas que aí lavram apreciam aparecer como defensores do esclarecimento; contudo, não deixam de se expressar por meio de um discurso de difícil acesso, recheado às vezes com fórmulas herméticas.

Aqui se vai comentar um tópico específico de um escrito de Jorge Alemán que prima pelo esforço de ser acessível e claro nos limites do possível. Contrariando a tendência obscurantista aludida, combina psicanálise e sociologia marxista para pensar o advento das “novas extremas-direitas” no capitalismo contemporâneo.  Para começar, cita-se um trecho de uma seção de seu livro recém-publicado[2] que ele achou por bem denominar de “mais-valia informacional e democracia refém”:

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