Para estudar a alienação em Marx

Autor: Juan Dal Maso,

Left Voice – Outras Palavras – Tradução: Maurício Ayer

O livro Karl Marx’s Writings on Alienation, editado e introduzido por Marcello Musto, publicado este ano pela editora britânica Palgrave Macmillan, reúne uma seleção de textos de Marx sobre a temática da alienação.

O tema parece particularmente pertinente em um contexto em que a precarização das condições de vida e a generalização do teletrabalho durante a pandemia voltaram a pôr em discussão os efeitos do processo de produção (em sentido amplo, não só industrial) tem sobre a vida da classe trabalhadora em seus múltiplos aspectos, começando pelo impacto sobre o tempo livre. O fenômeno da “great resignation” ou “Big Quit” — ou seja, a renúncia em massa aos trabalhos mal pagos e que não asseguram condições básicas de segurança e higiene, nos Estados Unidos — também é parte deste panorama, a que se soma a onda de greves conhecida como “Striketober”, e outros processos de luta da classe trabalhadora em todo o mundo.

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Quando Marx traduziu O capital para o francês

Autor: Marcelo Musto [1]

Jacobin – 16/09/2022

Em fevereiro de 1867, após mais de duas décadas de trabalho hercúleo, Marx finalmente pôde dar a seu amigo Friedrich Engels a tão esperada notícia de que havia concluído a primeira parte de sua crítica da economia política. Mais tarde, Marx viajou de Londres a Hamburgo para entregar o manuscrito do Volume I (“O Processo de Produção do Capital”) de sua magnum opus e, de acordo com seu editor Otto Meissner, foi decidido que O Capital seria apresentado em três partes. Transbordando de satisfação, Marx escreveu que a publicação de seu livro foi “sem dúvida o mais terrível petardo lançado até agora contra a cabeça da burguesia”.

Apesar do longo trabalho de redação antes de 1867, a estrutura de O capital se expandiria consideravelmente nos anos seguintes. E o Volume I também continuou a absorver energias significativas de Marx, mesmo após sua publicação. Um dos exemplos mais óbvios desse compromisso foi a tradução francesa de O capital publicada em 44 fascículos entre 1872 e 1875. Esse volume não era uma mera tradução, mas uma versão “inteiramente revisada pelo autor”, na qual Marx também aprofundou a seção sobre o processo de acumulação de capital, e desenvolveu ainda mais suas ideias sobre a distinção entre “concentração” e “centralização” do capital.

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Karl Marx: o papel alienação na compreensão do capitalismo

Marcello Musto

Autor: Marcello Musto[1]

A compreensão inovadora de Marx da alienação do trabalho é parte inestimável de seu pensamento. Para Marx, a alienação era fundamental para a compreensão do capitalismo e sua superação.

A alienação foi uma das questões mais importantes e debatidas do século XX e a teoria do fenômeno proposta por Karl Marx teve um papel fundamental na construção do conceito. No entanto, ao contrário do que se possa imaginar, a própria teoria da alienação não se desenvolveu de forma linear e a publicação de textos inéditos em que Marx analisou o conceito, marcou um momento significativo na transformação de sua teoria e na sua disseminação no uma escala global.

Nos Manuscritos Econômicos e Filosóficos de 1844, com a categoria de “trabalho alienado”, Marx não apenas estendeu o escopo do problema da alienação da esfera filosófica, religiosa e política para a esfera econômica da produção material, mas também converteu este último em condição indispensável para compreender e superar o primeiro. No entanto, essa primeira elaboração, escrita aos 26 anos, foi apenas o esboço inicial de sua teoria. Embora muitas das teorias marxistas posteriores de alienação tenham sido erroneamente fundadas nas observações incompletas dos Manuscritos Econômicos e Filosóficos de 1844 – que superestimam o conceito de “auto-alienação” (Selbst-Entfremdung) – não devemos esquecer que duas décadas ou mais de pesquisas que Marx fez antes de publicar O Capital produziram uma evolução considerável em seus conceitos.

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