O sítio publica artigos de Eleutério F S Prado. Divulga, também, textos importantes sobre economia política e sobre o tema da complexidade. Tem como princípio fundamental que a única boa alternativa para resolver os problemas da humanidade é a democracia.
Eis o dia da inauguração. Há, pois, um novo presidente nos Estados Unidos, país este que tem a economia e o estado capitalista mais poderosos do mundo. O mandato de quatro anos de Joe Biden começou quando Donald Trump fugiu para sua propriedade e campo de golfe na Flórida. Mas antes de ir, ele disse: “o meu movimento está apenas começando”.
Qual é a situação dos Estados Unidos no momento em que Biden assume o cargo? A pandemia COVID-19 causou enormes danos às vidas e aos meios de subsistência de milhões de americanos. O seu impacto foi muito pior do que poderia ter sido por vários motivos. Primeiro, o governo dos Estados Unidos, assim como os outros governos, nada fez para se preparar para a pandemia COVID-19.
Como outras postagens explicaram, os governos foram devidamente alertados de que patógenos perigosos para a vida humana – e para os quais não havia imunidade – estavam aparecendo. Outras pandemias antes do COVID-19 já haviam aparecido. Mas a maioria dos governos não gastou em prevenção (pesquisa de vacinas, por exemplo) ou em proteção (provisão de recursos robustos para a saúde e sistemas de teste e rastreamento).
Publica-se nesta semana dois artigos que tratam do futuro da sociedade e da economia norte americana. Hoje, os leitores encontram aqui um texto do economista socialdemocrata John Kolmos. Na próxima quinta-feira, será a vez do artigo do economista marxista Michael Roberts. Ambos são pessimistas. O capitalismo no Ocidente está produzindo massas enormes de pessoas descontentes e estas, em grande número, estão dispostas a aceitar lideranças protofascistas, as quais ele chama de populistas. Ocorre, em consequência, uma revolta no seio da sociedade, mas ela não produz uma virada à esquerda; produz paranoias coletivas de direita que acabam levando a sociedade ainda mais para o caminho da derrocada econômica e social, com o aval das classes dominantes.
Eagle at Westchester Ave., Bronx 1970
Alexandre, o Grande e o corte do nó górdionão estão à vista nos Estados Unidos
Um longo sopro de ar fresco está percorrendo os Estados Unidos como um todo, substituindo o ar quente bufado da administração Trump. No entanto, os desafios a serem enfrentados pela equipe Biden-Harris são formidáveis e, provavelmente, insuperáveis.[1]
Vamos considerá-los, em primeiro lugar, a partir de uma visão de longo alcance. A civilização ocidental encontra-se novamente numa encruzilhada; chegou até esse ponto por meio da revolução da informática e está, agora, para entrar no caminho de uma economia pós-industrial baseada em conhecimento. De acordo com o registro histórico, transformações econômicas como essa que ora enfrenta são sempre complicadas; elas nunca transcorrem de modo suave e raramente estão isentas de conflitos.
A transição do feudalismo para o capitalismo não foi uma brincadeira de criança. A França, por exemplo, passou por quatro revoluções durante a transição; já a Inglaterra enfrentou duas grandes reviravoltas no século XVII, numa das quais um rei foi decapitado e na outra um rei foi deposto por meio de maquinações que se assemelharam a um golpe de Estado moderno.
Como transformações como essa embaralham a hierarquia política, social e econômica, não deve causar surpresa de que sobrevirão conflitos à medida em que o processo prossegue. É difícil abrir mão do poder e dos privilégios.[2] Ora, isso já era óbvio para os gregos antigos.[3]
Embora esse quadro geral nos ajude a entender o contexto da situação atual, é preciso ir além. É crucial reconhecer que os EUA estão enfrentando vinte formidáveis contratempos nos âmbitos político, cultural, social e econômico. Além disso, todos eles estão entrelaçados por meio de complexos processos de realimentação. Como eles são muito numerosos não será possível mencioná-los todos aqui.
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