Economia pós-global: o que esperar?

As três ondas de globalização e as eras de catástrofe [2]

Autor: Eleutério F. S. Prado [1]

A primeira parte do título deste artigo é uma tradução direta do cabeço – The post-global economy – de um conjunto de artigos sobre o futuro do capitalismo, que foi publicado no portal Project Syndicate, em 18 de agosto de 2022. O que aqui se apresenta é uma crítica desses textos escritos por economistas do sistema, pois busca fornecer uma outra perspectiva sobre o mesmo tema.

O que está em curso na economia capitalista mundial após as crises de 2008 (bolha imobiliária nos EUA) e 2020 (pandemia do novo coronavírus) e 2022 (guerra da Ucrânia)? – eis, pois, a grande interrogação. O que o futuro reserva para a humanidade diante desta mutação conservativa do sistema econômico ora largamente hegemônico?

Eis como a gerência desse sítio apresenta o problema:

Uma sucessão de choques ao longo da última década e meia reverteu significativamente a tendência econômica internacional dominante de toda a era da pós-Guerra Fria. Mas mesmo se os relatos da morte da globalização têm sido exagerados, as interrupções contínuas nas redes de comércio e produção apresentam grandes dores de cabeça para governos e para as empresas em todo o mundo.

Dois artigos se sobressaem num conjunto de seis e eles são bem otimistas na caraterização do futuro. Um deles, escrito por André Velasco, professor da London School of Economics, julga que vai nascer uma globalização mitigada, ao mesmo tempo mais sustentável e mais duradoura. O outro, Dani Rodrik, professor da Universidade de Harvard, acha que um novo consenso está se formando em torno do que denomina de “produtivismo”; os países vão voltar a cuidar de sua própria economia real em detrimento da ênfase nas finanças: “trabalho e localismo em vez de financeirização, consumismo ao invés de globalismo” – afirma ele sem corar provavelmente. O primeiro prevê a continuação do neoliberalismo nas próximas décadas do século XXI e o segundo acredita no surgimento de um novo keynesianismo.

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Ocaso e fantasia: uma globalização melhor?

Autor: Eleutério F. S. Prado

Dani Rodrik é um economista e professor renomado que trabalha na Escola de Governo da Universidade de Havard. De origem turca, mas radicado nos Estados Unidos onde obteve o seu doutorado, trabalha nos temas da globalização, do crescimento econômico e da economia política administrativa. Recentemente, escreveu um artigo de divulgação em que apresenta a sua crença otimista de que das “cinzas da globalização” – que ele agora chama de hiperglobalização! – “pode surgir uma globalização melhor”. [1] Ora, supõe assim que uma globalização virtuosa possa vir superar uma globalização agora vista como desencaminhada, supostamente viciosa! Será?

Para encontrar uma resposta para essa dúvida não hiperbólica é preciso olhar seguramente para a história da taxa de lucro mundial do pós-guerra até o presente (apresentada na figura abaixo por meio de uma variável proxy, qual seja ela, a taxa de lucro média dos países do G20). Ela mostra, sem ilusão, que o capitalismo se encontra numa trajetória de declínio em nível global. 

Rodrik, porém, prefere não pensar nessa evidência empírica que comprova de algum modo a tese dos economistas clássicos e de Marx sobre a tendência declinante da taxa de lucro. Ora, como ele argumenta em favor de uma “globalização virtuosa” vista como possível? Será que esse momento feliz estaria esperando nas fórmulas abstratas da “melhor teoria” para ser implementada por meio de políticas econômicas “corretas”?

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