Quid est tuum, “trumponomics”?

Autor: Eleutério F. S. Prado [1]

Três opiniões

É bem difícil saber exatamente. Em geral, os economistas do sistema, mesmo os neoliberais, assim como aqueles que se situam fora desse campo, acham que as políticas de Donald Trump prejudicam a economia norte-americana no curto e no longo prazo.  Eis, por exemplo, a opinião de Nouriel Roubini que vê efeitos danosos dessa política, apesar de prever que ela não vai contrariar um destino promissor que estaria reservado para a economia capitalista que “prospera” nesse país:

Embora não haja dúvida de que a agenda econômica de Donald Trump seja potencialmente estagflacionária, estão se desenvolvendo nos Estados Unidos algumas das inovações tecnológicas mais importantes da história da humanidade. Isso trará benefícios que superam em muito os custos das atuais políticas comerciais, assim como de outras políticas imprudentes.[2]

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Efeitos macroeconômicos e redistributivos das políticas tarifárias de Trump

Autores: Simon Grothe [1] e Michalis Nikiforos [2]

Publicado originalmente pelo Institute for New Economic Thinking [3] – 5 de Maio de 2025

Lead: O resultado mais provável do segundo governo Trump é uma recessão e uma exacerbação das desigualdades, assim como uma maior degradação dos padrões de vida dos trabalhadores e da classe média americana.

As últimas semanas foram marcadas pelos anúncios de Donald Trump de tarifas mais altas em quase todos os parceiros comerciais dos Estados Unidos. Essas tarifas foram justificadas sob uma agenda “America First”, que visa trazer empregos de manufatura de volta aos EUA e – de acordo com a ala populista da coalizão Trump – restaurar a posição da classe média americana.

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Fim do consenso sobre o livre comércio

Tarifas, criptomoedas e caos – ou seja, um reordenamento econômico mais profundo parece estar remodelando o sistema global. A tese de Mark Blyth abaixo apresentada tem sido criticada por diversos autores, mas é importante conhecê-la mesmo se endossa a atual politica do governo norte-americano.

Autor: Mark Blyth[1]Social Europe – 9 de abril de 2025

Com o governo Trump impondo tarifas “insanas” ao resto do mundo, muitos comentaristas estão preocupados com o problema da “sanitização”: imputar justificativas convincentes a políticas que não têm nenhuma lógica. Comentaristas ingênuos, eles argumentam, distraem as pessoas da marra que está se desenrolando diante de seus olhos. A entrada da família Trump na esfera das criptomoedas – as quais funcionam como um convite aberto para subornos – certamente apoia essa interpretação.

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Trump, tarifas e o mercado de ações

A interpretação da política econômica do governo Trump tem envolvido muitas controvérsias. Publica-se em sequencia uma opinião que vê uma tendência mais geral no rumo do autoristarismo, do isolacionismo e do protecionismo. O artigo analisa as Intervenções políticas que a acompanham e os seus limites. O artigo foi escrito antes do “dia da libertação”.

Autor: Lefteris Tsoulfidis [1]

A recessão que começou em 2007 ainda está em andamento. Como durante a Grande Depressão do período entre guerras, o autoritarismo, o isolacionismo e o protecionismo tornaram-se a política oficial de governo – embora não necessariamente de todos os países.

Nas décadas de 1920 e 30, foi a Itália, Alemanha, Espanha e Grécia em particular. Mas essa política foi muito além disso: em 1930, os EUA quadruplicaram suas tarifas com a Lei Smoot-Hawley, primeiro para produtos agrícolas, depois também para bens industriais.

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Dia da libertação

Autor: Michael Roberts – The next recession blog – 2/04/2025

Não ocorreu no Dia da Mentira (1º de abril).  Mas também o dia 2 de abril talvez seja esse Dia já que ontem o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou outra onda de tarifas sobre as importações do país. Para Trump trata-se do “Dia da Libertação”, mas a voz dos grandes negócios e das finanças nos Estados Unidos, o Wall Street Journal, classificou esse evento como “a guerra comercial mais burra da história”.

Nesta rodada, Trump aumentou as tarifas sobre as importações de países que supostamente têm tarifas mais altas sobre as exportações dos EUA, ou seja, implementou as chamadas ‘tarifas recíprocas’. Elas visam combater o que ele vê como impostos, subsídios e regulamentações injustas aplicados por outros países sobre as exportações dos EUA. Paralelamente, a Casa Branca analisa ainda as tarifas de 25% sobre todas as importações do Canadá e do México, que foram adiadas anteriormente, mas que agora podem ser reaplicadas.

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As tarifas de Trump em questão

Apresenta-se abaixo um artigo que contrapõe duas grandes teses sobre a atual política tarifária dos EUA. Primeiro, ele resume as explicações de Stephen Miran, um autor ligado ao atual governo dos EUA, as quais expõem supostamente a lógica implícita dessa política; em sequência, ele contrapõe essas teses à posição crítica mantida por Paul Krugman. Para tanto, o artigo apresenta a seguinte questão: “as tarifas de Trump são a resposta certa para reestruturar o sistema de comércio global?”. Para depois concluir que “a teoria econômica e as evidências históricas sugerem que não”.

Alberto Ortiz Bolaños [1] – Publicação do autor [2] – 18/02/205

Desde a campanha eleitoral dos Estados Unidos, Donald Trump tem falado repetidamente sobre questões relacionadas à sua agenda make America great again e agora, como presidente, ele está começando a agir. Além das políticas de imigração contra pessoas sem documentos, os elementos essenciais de sua agenda incluem uma política tarifária ligada às questões de segurança e às  ameaças contra o abandono do dólar como ativo de reserva.

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As tarifas de Trump vão causar apenas uma “pequena pertubação”?

Autor: Michael Roberts – The next recession blog – 03/05/2025

Falando ao Congresso dos EUA no dia 2 de fevereiro último, após 100 dias no cargo, o presidente Donald Trump afirmou que as novas tarifas sobre as importações dos maiores parceiros comerciais dos EUA causariam “uma pequena perturbação” que logo acabaria. Eis que – disse – “as tarifas vêm para tornar a América rica novamente e para tornar a América grande novamente. E isso já acontecendo e vai acontecer muito rapidamente.”

Na verdade, muito rapidamente. Em 1º de fevereiro, Trump impôs tarifas de 25% sobre produtos importados do Canadá e do México pelos EUA e uma tarifa adicional de 10% sobre as importações chinesas, de tal modo que todos os três principais parceiros comerciais dos Estados Unidos passam agora a enfrentar barreiras significativamente maiores. As medidas provocaram uma resposta imediata de Pequim, que disse que cobraria uma tarifa de 10 a 15% sobre produtos agrícolas dos EUA, desde soja e carne bovina até milho e trigo a partir de 10 de março.

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Tarifas comerciais como política econômica: um debate

Autor: Michael Roberts – 02/08/2025

Michael Pettis é professor americano de finanças na Guanghua School of Management da Universidade em Pequim, e membro sênior não residente do Carnegie Endowment for International Peace. Ele se tornou uma fonte de mídia popular sobre a economia da China, mas também sobre o comércio global e as tendências de investimento.

Na esteira do anúncio de Donald Trump de aumentos de tarifas sobre as importações dos EUA de vários países, Pettis tem exposto a visão contra o consenso da economia convencional, sustentando que as tarifas às vezes podem ser benéficas para um país e até mesmo para a economia mundial.

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O protecionismo dos EUA pode prejudicar a China?

Fonte: Financial Times. Copiado do blogue de Adam Tooze.

O gráfico abaixo mostra o desenvolvimento das exportações chinesas para os Estados Unidos (em vermelho), para os países desenvolvidos exceto os Estados Unidos (em azul claro) e para os mercados ditos emergentes (azul escuro). Os dados que nele constam permitem avaliar o impacto máximo das tarifas possíveis postas pelos Estados Unidos nas importações que recebe da China. Segundo o Financial Times, esse impacto seria significativo se for máximo, mas não desastroso. Não se considera o impacto possível dessa política tarifária na própria economia norte-americana.

“A China” – diz Tooze – “diversificou as suas exportações em relação ao mercado dos EUA desde o primeiro mandato de Trump. A demanda total americana por produtos chineses agora representa cerca de 2,8% do PIB da China, de acordo com a consultoria Capital Economics. Os seus cálculos sugerem que um aumento na tarifa efetiva de cerca de 15% para 60% (in extremis) – tal como Trump ameaçou – poderia encolher a economia chinesa em apenas 1%. Essa porcentagem talvez seja menor do que muitos costumam pensar que poderia ser; veja-se, ademais, que essa porcentagem é máxima já que não considera outros fatores de compensação”.

As tarifas de Trump e a estratégia global de Pettis

Autor: Nick Johnson – Blogue The political economy of development – 12 de fevereiro de 2025. Primeiro de três artigos sobre essa temática.

O retorno das políticas tarifárias de Donald Trump, em 2025, reacendeu os debates sobre a eficácia das barreiras comerciais na redução do déficit comercial dos EUA e para o fortalecimento da manufatura doméstica. Enquanto Trump argumenta que as tarifas forçarão as empresas a trazerem a produção de volta aos EUA, o economista Michael Pettis, baseado na China, afirma que as tarifas por si só não podem resolver os desequilíbrios comerciais fundamentais. Em vez disso, ele defende reformas econômicas mais amplas, tanto no nível global quanto no doméstico. Esta postagem explora as principais diferenças entre essas duas perspectivas e examina como seria uma estratégia comercial mais abrangente.

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