Desigualdade global de renda

Autor: Branko Milanovic [1]Social Europe – 10/05/2022

Novos dados sobre desigualdade mostram provavelmente que ocorreu a maior reorganização da renda mundial desde a revolução industrial.

A ascensão da China pode deixar países africanos populosos, como a Nigéria, ainda mais para trás.

A distribuição global de renda vem mudando sem que isso seja percebido.

O que ocorreu no período da chamada “alta globalização”, ocorrido entre o fim do comunismo no final dos anos 1980 e a crise de 2008, também conhecida como a Crise Financeira Global, talvez seja melhor descrito pelo chamado gráfico do elefante (a curva azul na figura abaixo), produzido por Christoph Lakner e por mim.

Esse gráfico mostra que, ao longo dessas duas décadas, ocorrera um aumento muito alto nas rendas em torno do meio da distribuição global, produzindo o ponto A por meio do efeito China; ocorrera, também, um crescimento muito modesto ou próximo de zero em torno do 80º percentil da distribuição, ponto B (onde estão as classes médias baixas dos países ricos); e, finalmente, um aumento acentuado entre o 1% do topo global, ponto C.

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Socialismo: o melhor argumento contra ainda é muito ruim

Antes de apresentar e criticar o melhor argumento contra o socialismo é preciso falar um pouco, muito pouco, de um argumento muito, muito ruim. E ele se encontra no livro Capitalismo sem rivais de Branko Milanovic.[1] Neste folhoso, o seu autor oferece dois tipos ideais para entabular uma compreensão do capitalismo contemporâneo: um deles, que chama de “capitalismo meritocrático e liberal”; o outro, que denomina de “capitalismo político”. Estes dois “modelos” – como ele mesmo explica – representam em largos traços, por suposto, os capitalismos realmente existentes nos Estados Unidos e na China, respectivamente.

No último capítulo, denominado Futuro do capitalismo global, depois de apresentar o capitalismo contemporâneo como amoral porque impõe a forma mercadoria a quase tudo, Milanovic se pergunta se há um sistema alternativo que possa vir a substitui-lo no futuro. Põe essa questão de modo retórico para lhe dar, em sequência, uma resposta bem “thatcherita”: “o problema com tal avaliação sensata é que não há uma alternativa viável para o capitalismo hiper mercantilizado”. Justifica, então, essa conclusão peremptória de dois modos: a) “as alternativas criadas no mundo se mostraram piores – algumas delas muito piores”; b) “não se pode ter a esperança de manter tudo isso” – ou seja, os “bens e serviços que se tornaram parte integral de nossas vidas” – “destruindo o espírito aquisitivo ou eliminando a acumulação de riqueza como a única forma de sucesso”.

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