Autores: Lucas Pohl[1] e Samo Tomsic[2]
Neste início[3], pode valer a pena recordar a ocasional “definição” de gozo de Lacan, que condensa as várias complicações em jogo ao nível da pulsão e de sua satisfação: “gozo é o que não serve para nada”, ne sert a rien. Em outras palavras, o gozo não contribui em nada para a satisfação das necessidades e não tem utilidade ou propósito, exceto ele mesmo.
Entendida desta forma, gozo significa “prazer pelo prazer” – e o termo “mais-gozar” que Lacan cunhou tendo por referência o mais-valor de Marx pretende elevar ao nível de conceito o afastamento do gozo em relação à utilidade. Da mesma forma, segundo Marx, o mais-valor aponta para uma característica essencial do capitalismo, a organização da produção em torno do imperativo do crescimento perpétuo e do aumento do valor, ou seja, em torno da “produção pela produção”. Voltaremos a essa caracterização crucial mais adiante.
O mais-gozar, portanto, representa o gozo caracterizado por sua inutilidade. “Gozo é desperdício”, como afirma Alenka Zupancic. Essa característica diz respeito especificamente ao modo de gozo capitalista.[4] Mas então, o que isso diz sobre o vínculo social capitalista? Freud já chamava atenção para o caráter libidinal das relações sociais, ou seja, em outras palavras, afirmava que essas relações devem ser consideradas como vínculos libidinais.[5] Visto pelas lentes da teoria das pulsões, o social imediatamente se mostra dividido internamente entre a consistência e a dissolução. O par Eros e pulsão da morte contém uma tensão.
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