Marx e Freud, um pelo outro

Qual é o tema da teoria crítica?[1]

Sandrine Aumercier[2] e Frank Grohmann[3]

A hipótese freudiana do inconsciente é inseparável de uma crítica do sujeito; o exame de Marx das categorias da economia política constitui uma crítica às relações sociais objetivas do capitalismo. As pesquisas enciclopédicas de Marx em todos os campos científicos de seu tempo, bem como as incansáveis incursões de Freud em disciplinas vizinhas – e, em particular, na teoria da cultura – mostram que nenhum dos dois desconhecia as limitações de suas respectivas abordagens. Pelo contrário, eles foram receptivos ao fato de que o método empregado exigia necessariamente uma extensão para além de si mesmo. Nenhum deles, entretanto, foi capaz de extrair todas as consequências dessa necessidade.

O que ambas as críticas têm em comum é que elas retornam à materialidade da vida psíquica e da vida social. A psicanálise o faz por meio da análise do desvio das formações do inconsciente; a crítica da economia política o faz por meio do exame das consequências sociais da redução da vida humana a um mero apêndice do movimento autônomo do valor, algo que acontece às costas do portador da função. O problema da consciência emerge em ambos como o verdadeiro escândalo.

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O conceito de totalidade na crítica do capitalismo

Autora: Sandrine Aumercier[1]

À medida que se aproxima de seus limites internos e externos, a mercantilização do mundo tenta relançar a acumulação de capital de forma cada vez mais enfurecida, como se estivesse diante de uma máquina que está parada, mas que deve continuar funcionando a todo custo.

A violência desse esforço, que não para diante de qualquer esfera da existência social que quer anexar, só é igualada pelo inevitável esgotamento de suas fontes de movimento. Diante desse horizonte totalitário, a teoria crítica que pretende compreender esse funcionamento não pode almejar menos do que abraçar o nível da totalidade.

Voltando-se para esse propósito, ela tem de desafiar a fobia daqueles que diagnosticam sempre alguma tendência totalitária escondida no próprio conceito de totalidade. Mas também é preciso renunciar ao fruto venenoso dos amanhãs cantados a que o conceito de totalidade parece convidar.

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