Geopolítica da guerra contra o Irã (III)

Ben Norton [1] e Michael Hudson [2]

Entrevista

Ben Norton: Michael, obrigado por se juntar a mim. É sempre um verdadeiro prazer ter você como entrevistado.

Vamos falar sobre este artigo que você escreveu, no qual você argumenta que a guerra contra o Irã é parte de uma tentativa dos Estados Unidos de impor sua hegemonia unipolar ao mundo.

Vemos que estamos vivendo cada vez mais em um mundo multipolar. E o Irã, nesse mundo, tem desempenhado um papel importante como membro do BRICS, como membro da Organização de Cooperação de Xangai e como parceiro da China e da Rússia. O Irã também tem procurado contribuir para a desdolarização do sistema financeiro global.

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Geopolítica da guerra contra o Irã (I)

Autor: Michael Hudson [1] – Couterpunch – 23/06/2025

A lógica neoconservadora

 Os opositores da guerra com o Irã dizem que a guerra não é do interesse americano, visto que o Irã não representa nenhuma ameaça visível para os Estados Unidos. Esse apelo à razão não apreende a lógica neoconservadora que vem guiando a política externa dos EUA por mais de meio século e que agora ameaçou engolir o Oriente Médio na guerra mais violenta desde a Coréia.

Essa lógica é tão agressiva, tão repugnante para a maioria das pessoas, tão violadora dos princípios básicos do direito internacional, das Nações Unidas e da Constituição dos EUA, que subsiste uma timidez compreensível dos donos dessa estratégia para explicar o que está em jogo. Contudo, ela aponta para a necessidade de derrotar o Irã e dividi-lo em regiões étnicas distintas.

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Sobre as origens do dinheiro

Autor: Michael Hudson [1]Counterpunch – 7 de março de 2025

O final do século XIX viu uma linhagem de economistas, principalmente alemães e austríacos, criar uma mitologia sobre as origens do dinheiro, que ainda é repetida nos livros didáticos de hoje. Para eles, o dinheiro se originou apenas na forma de mais uma mercadoria que era trocada; o metal foi a mercadoria preferida porque não é perecível (e, portanto, é passível de ser guardado), pode ser padronizado (apesar da possibilidade de fraude se não for cunhado), podendo, ademais, ser facilmente divisível. Supõe-se, assim, que a prata foi usada em pequenas trocas de mercado, o que é irreal, dado o caráter grosseiro das balanças antigas, as quais era muito imprecisas para pesos de alguns gramas.[1]

Essa mitologia não reconhece que o governo possa ter desempenhado qualquer papel como inovador, patrocinador ou regulador monetário, ou ainda como entidade que dá valor ao dinheiro ao aceitá-lo como um veículo para pagar impostos, comprar serviços públicos ou fazer contribuições religiosas. Também é minimizada a função do dinheiro como padrão de valor para denominar e pagar dívidas.[2]

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