O neoliberalismo globalista e antidemocrático de Friedrich Hayek

19Nada melhor mostra o que é o neoliberalismo do que a atitude de um de seus intelectuais mais célebres diante da ditadura sanguinária de Augusto Pinochet no Chile.Referindo-se ao déspota amedalhado, Hayek disse “preferir um ditador liberal a um governo democrático em que falta o liberalismo”. O que está implícito nessa afirmação cínica que desconecta o liberalismo da democracia e o reconecta circunstancialmente à ditadura mesmo em sua forma mais brutal e violenta? Uma defesa intransigente do capitalismo, dos direitos do capital, certamente. Mas para compreendê-lo melhor é preciso avançar além de sua aparência ideológica, atravessando assim ao seu invólucro libertário para chegar ao seu miolo, que é bem totalitário.

Se para Adam Smith, um liberal clássico, o sistema econômico é uma ordem natural, para Friedrich Hayek, um prócer do neoliberalismo, esse sistema consiste de uma ordem moral que precisa ser preservada porque, segundo ele, subsiste como a fonte primeira da civilização e da liberdade.[1] Esse segundo autor considera, assim, que o processo de mercado é existencialmente frágil e que está sempre em perigo; eis que ele pode mesmo ser ferido de morte por forças que medram espontaneamente na própria sociedade. Pois está constantemente ameaçado seja pelas demandas de justiça social – que se originam dos trabalhadores em geral – seja pelas pretensões nacionalistas – que medram entre os capitalistas menos capazes de competir de uma determinada nação.

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