As formas históricas da socialização do capital nos EUA

Resenha do livro The Fall and Rise of American Finance: from J.P Morgan to Blackrock de Scott Aquanno and Stephen Maher, Verso, New York, 2024, a qual foi  publicada em Marx and Philosophy Review of Books, em 15/08/2024.

Autor: Davide Ventrone [1]

Não faltam livros marxistas sobre o tema “finanças”, abrangendo uma variedade de tópicos e opiniões. Autores como Costas Lapavitsas, Cedric Durand e Ben Fine mostraram as relações de dinheiro, crédito, capital portador de juros e a financeirização em nossas vidas cotidianas. No entanto, poucos autores nos últimos anos discutiram as finanças principalmente para compreender as formas da governança corporativa. Nessa governança, característica das corporações modernas, aqueles que controlam a empresa não são os seus donos legais. E ela se dá sob várias configurações. Há, pois, diferentes regimes de governança corporativa unindo os investidores externos e os gerentes internos.

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As finanças e as corporações

Autores: Stephen Maher e Scott Aquanno[1]

A financeirização vem junto com a própria evolução do capitalismo; ela opera em suas tensões e antagonismos. Uma vez que as contradições desse sistema nunca podem ser totalmente resolvidas, ele deve mudar continuamente para superar as barreiras e crises que elas geram – por meio de um processo semelhante à adaptação darwiniana. O conflito de classes é manifestação de sua contradição – ainda que não única – mais importante.

Embora o colapso do mercado de ações de 1929 tenha sido seguido, durante toda a década de 1930, por ondas de luta da classe trabalhadora, ele revelou também as profundas instabilidades do sistema em que o capital financeiro está centrado nos bancos. Isso estimulou o Estado a separar os bancos da governança corporativa, o que levou as corporações industriais a assumirem novas funções financeiras. Assim, essas empresas se adaptaram aos desafios de gerenciar operações cada vez mais complexas, internacionalizadas e diversificadas, por meio da reorganização de um mercado financeiro interno na forma de um planejamento corporativo.

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Outra visão da financeirização

Autores: Stephen Maher e Scott Aquanno[1]

A análise do papel das finanças no desenvolvimento do capitalismo contemporâneo oferecida por este livro é marcadamente diferente daquela geralmente encontrada em plataformas políticas progressistas e em estudos críticos. De fato, há hoje um consenso quase universal, particularmente após a crise de 2008, de que as finanças são uma força corrosiva e parasitária na economia industrial “real”. O mesmo acontece com os muitos males do neoliberalismo, de crises às desigualdades sociais, pois, elas são constantemente atribuídas à “financeirização”.

Enquanto os progressistas temem que a prosperidade e a competitividade nos EUA diminuam sem regulamentações para controlar o poder das finanças, os marxistas, por sua vez, veem em geral a financeirização como um sintoma do “capitalismo tardio” e como um prenúncio do declínio imperial americano. Essas ideias animaram debates políticos entre socialistas e progressistas, bem como as plataformas de figuras políticas que vão de Hillary Clinton a Jeremy Corbyn.[2]

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A ascensão das gestoras de ativos – o novo capital financeiro.

Autores: Stephen Maher e Scott Aquanno [1]

Introdução

A crise financeira de 2008 marcou uma mudança fundamental no capitalismo americano. À medida que os esforços de gerenciamento da crise feita pelo Federal Reserve e pelo Tesouro levaram o poder do Estado mais profundamente para o coração do sistema financeiro, sucessivas rodadas de flexibilização quantitativa facilitaram a concentração e centralização sem precedentes da propriedade corporativa em um pequeno grupo de empresas gigantes de gestão de ativos.

Na esteira da crise, essas empresas – BlackRock, Vanguard e State Street – substituíram os bancos como as instituições mais poderosas das finanças contemporâneas, acumulando poder proprietário em escala e escopo nunca dantes vistos na história do capitalismo. Essas empresas de gestão de ativos tornaram-se os nós centrais em uma vasta rede que incorporou quase todas as grandes empresas de todos os setores econômicos.

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