O valor é substância em Marx?

Eleutério F. S. Prado[1]

Introdução

Em artigo anterior, O fim incontornável de uma teoria, [2] tentou-se responder a uma importante crítica de Marcos Barbosa de Oliveira posta em seu escrito Considerações sobre a economia da atenção.[3] Refletindo depois, achou-se que não se havia discutido de modo suficiente esse tema que se afigura crucial para bem compreender o primeiro capítulo de O capital e, assim, o livro como um todo.

O autor da crítica havia “acusado” Karl Marx de formular uma teoria do valor metafísica. “Marx inicia a sua obra” – escreveu ele – “com uma análise abstrata da mercadoria”. Ora,“não tenho simpatia pela teoria do valor trabalho, nem concordo com uma concepção de mercadoria que julgo essencialista”. A ideia fundamental de Marx, apanhada em Aristóteles, segundo ele, consistiria em apresentar o valor como um substrato do preço”. O valor afirma conclusivamente é apresentado em O capital como uma substância que teria a mesma natureza da “ousia” – o ser ou essência da coisa.

Continuar lendo

Lições do antissemitismo

Para entender melhor o antissemitismo é interessante confrontar as teses de Moishe Postone e de Slavoj Zizek. O primeiro autor examinou esse tema com base numa interpretação original de O capital de Karl Marx, a qual ficou registrada no livro Tempo, trabalho e dominação social (Boitempo, 2014). Zizek, por sua vez, é bem conhecido por seu marxismo/hegelianismo heterodoxo influenciado por Jacques Lacan; a sua tese sobre a origem do antissemitismo, delineada nessa perspectiva, encontra-se em As dificuldades do real (capítulo 4 do livro Como ler Lacan, Zahar, 2010).

A compreensão desse fenômeno histórico continua bem importante. Na forma de um saber de fundo, pode ser empregado – aposta-se aqui – para compreender os neofascismos e mesmo os neonazismos que estão surgindo no capitalismo contemporâneo, em vários países do mundo. É com base numa dissociação entre o abstrato real  e o concreto real da forma mercadoria – do dinheiro e do capital em consequência -, assim como por meio de uma personificação dos efeitos no mundo da vida social e pessoal do movimento efetivo desse abstração real, que o neofascismo mais uma vez se alevanta.

O texto se encontra aqui: O antissemitismo segundo Postone e Zizek