Pouco desejo e muita obediência

Autor:  Amador Fernández-Savater[1] – IHU – 29/05/204

Segundo Amador Fernández-Savater, na nossa sociedade há muito pouco desejo e muita obediência aos mandatos de desempenho e produtividade. Sobre esse tema, segue-se uma entrevista que deu a Danele Sarriugarte Mochales e que foi publicada originalmente por Argia e reproduzida por El Salto, 29-05-2024.

DSM – Para começar, eu gostaria de perguntar sobre o ponto de partida do livro, que é composto por vários tipos de materiais. Como isso surge?

AFS – Há um compromisso com o livro como uma tecnologia, uma tecnologia muito poderosa. O que quero dizer? Você publica, as pessoas leem com liberdade e rapidez nas redes. É muito bom, há muitos textos de intervenção no presente, nos debates do presente. Mas fazer livro é outra coisa, há um trabalho de encontro e de reorganização, percebe-se como os problemas e as obsessões insistem continuamente, como se encaminham. O título permite articulação. O material é lido de forma diferente.

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Tocar os corpos, mudar o mundo

IHU: Vivemos um tempo de mal-estar generalizado. Paradoxalmente, o mesmo sistema que o provoca nos oferece os remédios. No entanto, estes anestésicos ou alívios imediatos prometidos nos impedem de formular as perguntas necessárias para mudar desde a raiz as condições de vida daninhas. Como sair desta espiral catastrófica?

Em Capitalismo libidinal (Ned Ediciones, 2024), Amador Fernández-Savater nos propõe, de forma machadiana, trilhar um novo caminho para estar no mundo de uma forma diferente, reapropriando o nosso próprio mal-estar como energia de mudança e transformação. Chama este caminho de “políticas do desejo”. Eis que “As ideias que não tocam os corpos deixam o mundo igual”.

Spinoza dizia que a essência do ser humano é desejar, o que chamava de apetites naturais. Contudo, quando essas necessidades biológicas se tornam desejos socialmente construídos, e que demandam algo que não precisamos, tornam-se capitalismo.

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