Trabalho imaterial e fetichismo: uma crítica a Negri e Hardt

Autor: Eleutério F. S. Prado[1]

No livro Império[2], Hardt e Negri definem trabalho imaterial como trabalho que produz, entre outras coisas, mas de uma maneira especial, serviços: “Como a produção de serviços não resulta em bem material e durável, definimos o trabalho envolvido nessa produção como trabalho imaterial – ou seja, trabalho que produz um bem imaterial, como serviço, produto cultural, conhecimento ou comunicação”[3]. Ao fazê-lo, eles ficam além ou aquém de Marx?

Em conseqüência, de modo preliminar, deve ficar claro que esses dois autores, ao empregarem o termo trabalho imaterial, estão se referindo ao trabalho que produz bens ou utilidades – e não ao trabalho abstrato, no sentido de Marx, que é uma abstração e  substância do valor. Obscuras permanecem, porém, as razões e as conseqüências dessa opção teórica.

Em O capital, esse último autor menciona uma certa preferência encontrada em textos econômicos por tratar da produtividade do trabalho no modo de produção capitalista fazendo referência ao conteúdo material do trabalho. Hardt e Negri atribuem uma enorme importância ao que chamam de trabalho imaterial. Por isso, crêem importante fazer diferença entre trabalho que produz coisa útil e trabalho que gera imediatamente serviço útil.

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Choque de impérios: uma conversa com Ho-Fung Hung

Author: Hong Zhang[1] e Ho-fung Hung[2] – Global China Impulse – 11/07/2022

A ascensão da “China Global” é resultado da globalização econômica nas últimas décadas, que foi sustentada por uma relação geralmente positiva entre a China e os Estados Unidos. Desde o momento decisivo da entrada da China na Organização Mundial do Comércio (OMC), em 2001, as economias chinesa e norte-americana tornaram-se cada vez mais interdependentes. Ora, isso era motivo de costumeiro otimismo na gestão dos vários conflitos que surgiram entre os dois países. No entanto, essa convergência foi posta em causa na sequência dos anos tumultuados em que a administração Trump procurou corrigir o desequilíbrio comercial com a China, bem como devido à nova pandemia da Covid-19.

Em seu livro, Clash of empires: from ‘chimerica’ to the ‘new cold war’ (Cambridge University Press, 2022), Ho-fung Hung oferece uma análise da mudança na relação EUA-China e uma crítica da economia política global. Desafiando os argumentos ideológicos, Hung afirma que a integração da China na economia global facilitada pelos Estados Unidos, ocorrida nas décadas de 1990 e 2000, foi impulsionada principalmente pelos seus próprios interesses corporativos, os quais procuravam se beneficiar do acesso ao mercado chinês e à mão-de-obra barata chineses.

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