Choque de impérios: uma conversa com Ho-Fung Hung

Author: Hong Zhang[1] e Ho-fung Hung[2] – Global China Impulse – 11/07/2022

A ascensão da “China Global” é resultado da globalização econômica nas últimas décadas, que foi sustentada por uma relação geralmente positiva entre a China e os Estados Unidos. Desde o momento decisivo da entrada da China na Organização Mundial do Comércio (OMC), em 2001, as economias chinesa e norte-americana tornaram-se cada vez mais interdependentes. Ora, isso era motivo de costumeiro otimismo na gestão dos vários conflitos que surgiram entre os dois países. No entanto, essa convergência foi posta em causa na sequência dos anos tumultuados em que a administração Trump procurou corrigir o desequilíbrio comercial com a China, bem como devido à nova pandemia da Covid-19.

Em seu livro, Clash of empires: from ‘chimerica’ to the ‘new cold war’ (Cambridge University Press, 2022), Ho-fung Hung oferece uma análise da mudança na relação EUA-China e uma crítica da economia política global. Desafiando os argumentos ideológicos, Hung afirma que a integração da China na economia global facilitada pelos Estados Unidos, ocorrida nas décadas de 1990 e 2000, foi impulsionada principalmente pelos seus próprios interesses corporativos, os quais procuravam se beneficiar do acesso ao mercado chinês e à mão-de-obra barata chineses.

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A China está em apuro – ou não?

Nathan Sperber – Sidecar – 8/09/2023

O economista ganhador do Prêmio Nobel Paul Krugman não mede as palavras para falar da economia capitalista na China:

Os sinais são agora inequívocos: a China está em grandes apuros. Não estamos falando de algum pequeno contratempo no caminho, mas de algo mais fundamental. Toda a forma de fazer negócios do país, o sistema econômico que impulsionou três décadas de crescimento incrível, atingiu os seus limites. Poderíamos dizer que o modelo chinês está prestes a atingir a sua Grande Muralha e a única questão agora é quão grave será a queda.

Esse relato, entretanto, não é de hoje, mas se refere ao que ocorreu no verão de 2013. O PIB da China cresceu 7,8% nesse ano “fatídico”. Na década seguinte, a sua economia expandiu-se 70 por cento em termos reais, em comparação com 21 por cento para os Estados Unidos. A China não teve uma recessão neste século – por convenção, dois trimestres consecutivos de crescimento negativo – e muito menos um “crash”. No entanto, de tempos em tempos, os meios de comunicação financeiros anglófonos e o seu rastro de investidores, analistas e grupos de reflexão são dominados pela crença de que a economia chinesa está prestes a entrar em colapso.

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Xi Jinping: um imperador?

Autor: Ho-Fung Hung [1] – Jacobin EUA – 15/02/2023. Título original: Mussolini em Pequim

O modelo chinês de capitalismo dirigido pelo Estado está se desfazendo – e está desencadeando um novo autoritarismo.

Em 2008, antes de sua primeira candidatura séria à presidência dos EUA, Donald Trump expressou admiração sem reservas pelo modelo econômico da China. Naquela época, a China era vista como um lugar onde capitalistas como ele podiam buscar livremente lucros sem quaisquer restrições regulatórias:

Na China, os capitalistas ocupam centenas de hectares de terra, despejando sempre a sujeira no oceano. Certa vez, perguntei a um construtor: Você obteve um estudo de impacto ambiental? Ele me respondeu: “O quê?” Então, questionei: “Você precisava de aprovação para lançar os resíduos no mar?” Não, me disse.

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