Divinização do Dinheiro

Autor: Eleutério F. S. Prado

Se a mercadoria é a forma elementar do valor; o dinheiro é a forma geral do valor no modo de produção capitalista. O valor, portanto, é aí a essência abstrata da riqueza; esta, portanto, se manifesta em ambas essas formas – ainda que diferentemente: como forma relativa na mercadoria e como forma equivalente no dinheiro. Essas duas formas, em última análise, são formas da relação social de troca – mediações da relação de capital. O próprio valor, portanto, é por excelência forma das relações sociais que constituem esse modo de produção. Note-se, agora, que há uma maneira sintética de apresentar tudo isso; eis que ela separa por uma barra a aparência da essência da mercadoria:

Como se vê na segunda expressão, o dinheiro tem um valor de uso funcional, ou seja, cumpre várias funções imprescindíveis à reprodução do próprio capitalismo: meio de expressão do valor em geral, meio de circulação, meio de entesouramento, meio de empréstimo e veículo formal do valor que se valoriza.  Se o dinheiro-mercadoria (ouro, por exemplo) é o lugar do fetiche, o dinheiro fiduciário, ainda como forma geral do valor, é o lugar da divinização na sociedade moderna. Apesar disso, boa parte da teoria econômica trata o dinheiro como algo quase supérfluo – mas não toda.

Divinização? Será? Se essa parece ser uma tese estranha para muitos, que se deixe então à própria teoria econômica o trabalho de comprová-la. E esta última, como se verá, parece confirmá-la. Por enquanto, saiba-se que um sentimento de algo divino, “ilimitado, sem barreiras, como que oceânico”, diante de barreiras que parecem insuperáveis, de forças incompreensíveis, pode assaltar a compreensão de mundo do ser humano em geral na sociedade moderna. Tal como mostrou Freud, esse tipo de anseio pode sobrevir até mesmo na psique de intelectuais altamente capacitados, na forma de respostas ilusórias à insatisfação, ao desamparo e à impotência com o estado das coisas, com a degradação da civilização, com o grau de injustiça da sociedade realmente existente.[1]


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