Fim do consenso sobre o livre comércio

Tarifas, criptomoedas e caos – ou seja, um reordenamento econômico mais profundo parece estar remodelando o sistema global. A tese de Mark Blyth abaixo apresentada tem sido criticada por diversos autores, mas é importante conhecê-la mesmo se endossa a atual politica do governo norte-americano.

Autor: Mark Blyth[1]Social Europe – 9 de abril de 2025

Com o governo Trump impondo tarifas “insanas” ao resto do mundo, muitos comentaristas estão preocupados com o problema da “sanitização”: imputar justificativas convincentes a políticas que não têm nenhuma lógica. Comentaristas ingênuos, eles argumentam, distraem as pessoas da marra que está se desenrolando diante de seus olhos. A entrada da família Trump na esfera das criptomoedas – as quais funcionam como um convite aberto para subornos – certamente apoia essa interpretação.

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Austeridade: livre opção da burguesia?

Eleutério F. S. Prado[1]

Esta nota tem uma tarefa ingrata, qual seja ela, fazer a crítica de um livro de grande sucesso no campo da esquerda, que sustenta uma tese relevante na esfera do pensamento crítico: Austeridade: uma ideia perigosa, de Mark Blyth (Autonomia Literária, 2020). Além disso, ele é endossado por economistas como Luiz G. M. Beluzzo, Laura Carvalho, Pedro Rossi dentre outros, consagrados combatentes na luta pela civilização no atual estágio de desenvolvimento regressivo do capitalismo. Entretanto, ela se faz necessária – crê-se aqui – para aprofundar a crítica contida no próprio livro de Blyth.

No prefácio da edição brasileira, esse último autor brasileiro resume um argumento central dos defensores da austeridade que – menciona – “dialoga com o senso comum”: o governo, assim como as pessoas e as famílias, tem de pagar as suas contas. Ora – adverte ele – “o apelo ao senso comum é uma falsificação da realidade: não existe uma conta a ser paga; a dívida pública não precisa ser reduzida. Papéis são pagos, outro serão emitidos. (…) dívida pública não se paga, se rola”.

Para comentar essa afirmação é preciso separar analiticamente as dívidas particulares e a dívida como um todo. É evidente, como diz o próprio Rossi, que as dívidas particulares do Estado, expressas em títulos detidos por agentes do setor privado, são pagas do mesmo modo que as dívidas particulares das pessoas e das famílias – e até mesmo com respeito mais firma aos prazos e com mais fidelidade à letra dos contratos.  

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